colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Sobre novos sonhos

21/04/2024 - 06:00
Atualização: 21/04/2024 - 08:09

ACESSIBILIDADE


Há quase 50 anos, criou-se por estas bandas a expectativa de que, afinal, Alagoas sairia do jugo dos coronéis usineiros da cana-de-açúcar através da implantação do polo cloroquímico de Alagoas. Que segundo seus idealizadores estava programado para recepcionar pelo menos umas 3 centenas de empresas. De todos os portes. Estava-se trocando os grilhões da dominação do estado por 28 famílias, pela moderna industrialização do estado numa das áreas de maior potencial econômico do planeta no pós-guerra: a do plástico. Só que deu “chabu” no sonho dourado vendido aos alagoanos.

O que foi vendido como o futuro de Alagoas, na verdade, já estava acontecendo, mas na Bahia, em Salvador, fruto da competência da bancada federal baiana que desde o 1º PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) e no segundo PND também, trataram de assegurar que o Polo Cloroquímico do Nordeste seria instalado em terras baianas. Que já era detentora da primeira refinaria de petróleo do Brasil. Enquanto nossas cigarras locais cantavam loas, as formiguinhas baianas estavam tratando de cassar o voo dos grilos falantes alagoanos.

Resultado: nos últimos 50 anos, Alagoas assistiu à debacle do não competitivo setor da cana-de-açúcar alagoana (só sobrevive à custa de subsídios, ou seja, do dinheiro dos brasileiros), frustrou-se com a catástrofe do sonho cloroquímico e mais recente – estupefata- viu a empresa que minerava o sal-gema de Maceió destruir parte significativa da Capital, afetar mais de 140 mil pessoas físicas e jurídicas e oito municípios da região metropolitana de Maceió.

Para que se tenha ideia do impacto causado pela crise da cana-de-açúcar e a frustração do polo cloroquímico, o estado, que não tinha um plano B vivenciou neste último meio século uma severa crise que complicou a vida dos governantes e em especial dos alagoanos.

Em 1973, a economia do estado de Alagoas representava 1,1% da economia brasileira – e pelos problemas acima elencados - o tamanho da participação econômica alagoana na economia brasileira foi reduzido para os atuais 0,8%. Um encolhimento de nada menos que 37%. Com um detalhe: Como se sabe, o crescimento econômico brasileiro nos últimos 40 anos andou de lado feito caranguejo, crescendo em média 1% a.a. nos últimos 40 anos. Portanto, o crescimento anual em Alagoas foi, na média dos últimos 50 anos, inferior ao 1% brasileiro...

Na distribuição do PIB do Nordeste, Alagoas representava em 2022 tão somente 0,7% do PIB da região para uma média de 20 anos (2002 a 2022) segundo estudo de Cláudio Considera e Juliana Trece publicado no blog da FGV IBRE em 27.04.23, a partir de dados do IBGE (Sistema de Contas Nacionais). O estado naquele momento só ganhava em termos de participação no bolo nordestino, do Piauí, ainda assim por uma “peinha” de nada: 0,7% a 0,6%.

Interessante notar que nestes mesmos 20 anos, os baianos da Odebrecht assumiram a Trikem, trocaram seu nome para Braskem, alimentaram a lorota que a Braskem era a locomotiva do desenvolvimento de Alagoas (chegaram a afirmar que representava 15% do PIB do estado quando, na verdade, não passa de 0,4%), mas fizeram tudo ao contrário:

a) Transferiram a indústria de Eteno para a Bahia, esvaziando Alagoas do que seria a principal fonte de receita daquela empresa;

b) Eliminaram com isso a instalação de um rol de indústrias que utilizam o etileno como matéria–prima;

c) Eliminaram a superintendência da Braskem que funcionava em Alagoas;

d) Cobraram e obtiveram a prorrogação de vantagens fiscais e tributárias indevidas,

e) E, por fim, provocaram o mega desastre de Maceió, o maior crime ambiental do mundo em área urbana e não pagaram até agora o que deve aos credores alagoanos (embora afirmem o contrário, o levantamento do seu passivo em relação aos credores locais mostram números muito distantes das versões edulcoradas da empresa).

Os números e dados dessa hecatombe econômica para Alagoas estão demonstrados no nosso livro Rasgando a Cortina de Silêncios: O lado B da exploração do Sal Gema em Maceió.

É urgente e necessário sair dessa situação. Criar alternativas, projetos consistentes com respostas objetivas capazes de retirar o estado dessa incomoda situação que já nos toma meio século e levá-lo a novos patamares. Mas não com medidas paliativas ou de resultados curto prazistas a saída para os nossos problemas. Alagoas precisa de medidas estruturantes.

Estamos caracteristicamente num fim de ciclo que engloba duas atividades que consumiram os sonhos dos alagoanos e a expectativa de progresso para nossa terra: o da cana-de-açúcar e o imaginado polo cloroquímico. Duas quimeras alimentadas por gente incompetente ou mal intencionada, mesmo.

É hora, pois, de se abrir para novas possibilidades que pedem passagem. Uma virada qualitativa no turismo; um modelo de agronegócio revolucionário (cujo projeto está sendo gestado) e a oportunidade que surge a partir da possibilidade efetiva de se gerar alto impacto econômico, urbanístico e social a partir de soluções para o imbróglio Braskem.

São cinco iniciativas que levarão a uma virada qualitativa real e objetiva do turismo, capaz de capturar as Classes A e B (sem deixar de contar com o turista da Classe C já consolidado); a implantação de projeto urbanístico revolucionário capaz de inserir de vez a orla marítima e a orla lagunar de Maceió dentre as mais belas e avançadas do mundo; a implantação futura do 5º maior parque eco sustentável do planeta na área destruída pela Braskem; uma revolução na mobilidade urbana da grande Maceió e; a transformação de Alagoas numa referência global do agronegócio, algo que convenhamos está algo distante das conjecturas atuais locais, mas muito próximo daqueles que tem interesse no projeto...

São projetos que CERTAMENTE irão mudar a cara deste estado no médio e longo prazo, fazendo-o reagir ao estupor de 50 anos de vicissitudes. Ah, Sim! Todos os projetos serão tocados com recursos privados e apoio institucional do governo federal e do estado. Governantes e políticos que os apoiarem serão sempre lembrados pelos alagoanos.

É coisa para estadista.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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