colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Um novo sítio a Maceió

25/02/2024 - 08:18
Atualização: 25/02/2024 - 10:44

ACESSIBILIDADE


Maceió é uma cidade sitiada pela Braskem.

A Braskem sitiou Maceió por terra (mega desastre que destruiu parte de Maceió e, pela presença unanimemente indesejada de um complexo químico de grande porte dentro do centro da Capital); pelo ar (com a esdrúxula, inexplicável e suspeita decisão de proibição de sobrevoos de qualquer espécie sobre a área que ela destruiu); por água (enorme área da Lagoa Mundaú interditada) e pelo subsolo (fruto da mineração às cegas que mantém a cidade refém de minas que a qualquer momento podem de forma agravada repetir o acidente da mina 18.

Maceió é uma cidade que sofre nas suas entranhas por decisões no mínimo incompreensíveis oriundas da justiça.

Como o acordo inconstitucional “celebrado” com a Braskem que deu à empresa as armas para ela esgrimir localmente contra os afetados que se posicionam contrariamente aos seus abusos e despautérios. E nacionalmente para afirmar mentirosamente que está fazendo tudo que foi combinado com as autoridades. Uma fake gigante.

À época dos tais acordos nem o governo do estado, nem a prefeitura de Maceió, nem as oito prefeituras da região metropolitana de Maceió, nem as representações dos afetados pelo mega desastre, nem a OAB ou demais órgãos de classe ligados diretamente à temática (engenharia, química, arquitetura, economia, serviço social, sociologia, antropologia, psicologia e outros), nem ninguém, exceto a signatária do acordo foram sequer consultados.

Uma peça surreal que em algum momento tem perolas como a que reza que se algum órgão ou entidade desejar aderir ao mesmo pode fazê-lo, desde que aceitem totalmente as suas condições e nada possa alterar (para melhorá-la ou mesmo impedir que suas tamanhas contradições e desequilíbrios – sempre a favor da empresa e contra Maceió, Alagoas e os afetados – pudessem ser modificadas!

Esse “acordo” irregular para não ir mais longe, é também a arma usada como guarda – chuva para as reiteradas negativas aos principais pleitos dos afetados à justiça, como também daqueles que até hoje lutam para serem inseridos no programa de compensação financeira pelos prejuízos sofridos (um alerta às autoridades (sic!): a Braskem transformou em escrituras de compra e venda os bens adquiridos dos moradores expulsos de suas casas quando o correto seria indenizá-los pelas perdas materiais e morais, tornando-se assim, a dona da área que ela destruiu (o resto é conversa mole para boi dormir) sem que nenhum órgão ousasse enfrentá-la para desfazer essa imoralidade. Isso para não irmos mais longe que o espaço é curto.

Maceió é uma cidade sitiada graças a anomia da fiscalização federal do segmento mineral

Que somente começou a agir proativamente após o mega desastre. Até então se limitava a burocraticamente receber relatórios da Braskem que como era de se esperar afirmava que estava tudo as mil maravilhas (continua assim, mentindo sempre ou omitindo coisas graves até que elas aconteçam, como na mina 18). Ou, quando muito, por absoluta anomia, emitiam comunicados de alerta que raramente eram cumpridos pela empresa e ficava por isso mesmo. E sempre ficou por isso mesmo até que o mega desastre rasgou a cortina de prevaricações por detrás das fiscalizações de araque que sempre foram o padrão da área.

Maceió acaba de ser novamente sitiada

Desta feita com o impedimento a um Senador de Alagoas - na verdade, um lutador quase solitário na defesa dos afetados, de Maceió abandonada a própria sorte pelo prefeito e de Alagoas, como se viu ao longo dos últimos 10 meses – de ser o relator da CPI da Braskem.

Foi o Senador Renan Calheiros quem viabilizou no Senado Federal a CPI, colhendo pessoalmente as assinaturas para a sua constituição; que lutou durante meses para a sua instalação, mas que ao vê-la instalada, viu apraze de que o parlamentar que cria a CPI passa a ser o seu presidente ou o relator ir pelo ralo das decisões equivocadas que só prejuízos trará a Alagoas.

Forças nem tão ocultas assim mudaram a correlação política no âmago da Comissão, o que o fez se retirar em protesto da mesma, pela desfeita pessoal e pela frustração de ver o sonho de Alagoas ir por água abaixo. A CPI constituiu uma cúpula dirigente de senadores não alagoanos que desconhecem o mega problema que infelicita a vida de 140 mil afetados, gera um prejuízo gigante para o governo de Alagoas e para oito das prefeituras da região metropolitana de Maceió, isso para não falar das suas intrincadas correlações econômicas, sociais e mesmo politicas.

Fico a imaginar a comemoração daqueles que arquitetaram essa ignomínia contra Alagoas. Auguro que o Senador continue na luta. Em defesa dos 140 mil alagoanos afetados pela tragédia causada pela Braskem. Na defesa dos interesses de Alagoas.Há uma senda a ser percorrida e a CPI, na verdade, não era a rota principal pelas razões que todos conhecem: nada decide e apenas recomenda. Existem outros caminhos muito mais efetivos para o enfrentamento – e solução - do imbróglio que a Braskem causou em nosso estado e a nossa população.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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