colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

A crise da Braskem: um alerta antigo

29/06/2025 - 06:00
Atualização: 29/06/2025 - 06:56
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Desde 2023 tenho alertado para a delicada situação financeira da Braskem e de seu grupo controlador, a Novonor. Enquanto este já se encontra em recuperação judicial, a Braskem, embora tenha evitado essa medida até então, acumula um prejuízo de R$ 19 bilhões nos últimos três anos, fruto da perda acelerada de competitividade em seus mercados. Essa situação foi reconhecida pelo próprio presidente da empresa, que previu dificuldades por mais 5 ou 10 anos.

O número R$ 19 bilhões é recorrente na Braskem: além do prejuízo acumulado, esse é o montante de sua dívida com bancos credores e, de forma surpreendente, o valor devido a credores alagoanos. A empresa alega ter se acertado com quase todos em Alagoas, mas ignora convenientemente a existência de mais de 70 mil dos afetados nas áreas periféricas e no entorno do desastre em Maceió que jamais foram envolvidos em negociações para o acerto de seus prejuízos. Eles são nada menos que quase 55% das vítimas não indenizadas!

Diante desse cenário, o mercado começa a considerar a hipótese de recuperação judicial para a Braskem, uma das “blue chips” nacionais – um alerta que, como venho sinalizando há mais de dois anos, tem se mostrado pertinente.

A venda da empresa tornou-se urgente. Os únicos interessados no momento são os bancos credores (visando recuperar o capital emprestado) e a Petrobras, segunda maior acionista. Há, ainda, uma sondagem de um investidor nacional nesse sentido, mas sem clareza sobre o interesse dos bancos e da Petrobras em uma associação.

Se os bancos entrarem no negócio – o que daria um respiro momentâneo na dívida da empresa com eles, uma vez que buscarão o ressarcimento a longo prazo após o reequilíbrio da empresa, ou mesmo numa posterior venda da empresa para outros players –, restaria então a questão do passivo com os credores alagoanos. E isso pode ser resolvido via uma engenharia negocial e financeira, simples em sua concepção, mas sofisticada na tecelagem de sua operacionalização que poderá levar a um inesperado processo de ganha-ganha para todos os envolvidos. Seu manejo demanda alta expertise e profundo conhecimento das entranhas da questão.

Em um cenário de possíveis rearranjos societários e negociações estratégicas, torna-se indispensável que qualquer solução não ignore a dimensão humana da tragédia alagoana, pois reconstruir uma empresa sem enfrentar o passivo social que ela carrega é construir uma imagem de grandeza sobre a areia movediça das reações que fatalmente ocorrerão. E que podem findar na justiça da Holanda a preços muito mais altos que uma boa negociação poderia resolver por aqui mesmo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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