colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

O Nó de Alagoas: o alerta que a Braskem finge ignorar

22/06/2025 - 06:54
Atualização: 22/06/2025 - 06:55
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Enquanto o Nordeste vibra nas tradicionais festas juninas, celebrando a resiliência e a alegria popular de Santo Antônio a São Pedro, um palco de contrastes se ergue em Maceió. Aqui, a festividade é eclipsada por uma questão corporativa de grande complexidade que continua a desafiar a resiliência de um estado inteiro.

Há mais de dois anos, alertas sobre a deterioração financeira da Braskem têm sido consistentemente ignorados. A despeito de esforços para obscurecer a realidade, a companhia se encaminha para um horizonte incerto, e a complacência das autoridades locais — dos Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo —, que mantêm um silêncio anômico, é notável.

A Braskem, responsável pela destruição literal de 20% da área urbana de Maceió e pelo impacto direto e indireto em mais de 140 mil cidadãos (número significativamente superior aos 60 mil "afetados" frequentemente citados pela empresa), não enfrenta uma crise meramente conjuntural. Embora o ciclo petroquímico global adverso, com margens de EBITDA comprimidas a 7% no primeiro trimestre e um elevado consumo de caixa, contribua para a "tempestade perfeita" identificada por analistas, o principal vetor de sua vulnerabilidade reside no passivo bilionário que a empresa se recusa a reconhecer e liquidar com a população alagoana.

Com uma dívida líquida colossal de R$ 37 bilhões e uma alavancagem de 7,9x o EBITDA, a Braskem opera em um ambiente de elevado estresse financeiro. Suas ações, oferecidas como garantia em operações passadas, hoje somam um valor de mercado de pouco mais de R$ 9 bilhões. O mercado financeiro já precificou esse risco, evidenciado pela recente emissão de títulos com um deságio expressivo de 42% sobre o valor de face, sinalizando clara percepção de risco de crédito.

A dependência crítica da rolagem de linhas de crédito de curto prazo para o capital de giro operacional configura um risco de liquidez iminente. Uma falha nessa rolagem pode precipitar um default. A percepção dominante no mercado é que uma medida drástica, como uma recuperação judicial ou extrajudicial, é cada vez mais provável. Mesmo com a necessidade estratégica de um Capex substancial para migrar sua base de produção de nafta para gás e manter a competitividade na primeira geração petroquímica — um investimento de altíssimo custo e retorno inviável com o atual custo de capital da Braskem —, a questão de Alagoas permanece como o principal entrave.

Não haverá alienação da Braskem, nem reestruturação bem-sucedida, sem o reconhecimento e solução do passivo de Alagoas. Esse ônus financeiro, que a empresa sistematicamente omite, representa um risco sistêmico que nenhum potencial adquirente aceitará incorporar. Os bancos detentores de R$ 19,9 bilhões em créditos contra a Novonor, controladora da Braskem, hesitam em executar a dívida, não apenas pelo risco de judicialização, mas, crucialmente, pelo receio de herdar essa "caixa de Pandora" representada pelo passivo alagoano.

A mensagem é inequívoca: a Braskem precisa ser vendida, ou o caminho da recuperação judicial será inevitável. Contudo, nenhum investidor, nem mesmo o consórcio de bancos, assumirá a empresa enquanto a "bomba atômica de Maceió" não for desativada.

O futuro da Braskem não reside apenas em sua performance operacional ou na virada do ciclo petroquímico; ele está intrinsecamente condicionado à disposição e capacidade de seus futuros acionistas em equacionar a ferida aberta em Alagoas. Sem essa condição sine qua non, a companhia marchará, inexoravelmente, para um desfecho que deveria ser evitado.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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