O fim da Alagóis

Em escalada, a disputa política costurada de ódio entre os Góis Monteiro. Não era somente uma briga
entre irmãos, mas também o desejo de eliminar o outro. Na bala.
No anedotário local há a história de Dona Constança de Góis Monteiro, a matriarca da família. Ela se colocou entre dois filhos, protegendo Silvestre Péricles, enquanto o outro sacou a arma, sem atirar para não atingir a mãe.
Mata Grande, 3 de outubro de 1950, dia de eleição ao governo. Na Rua Gabino Besouro, uma rajada de tiros matou Eustáquio Malta, os dois filhos e um empregado. Maria Sônia, de 16 anos, tentou socorrer o pai. Atiraram na cabeça. Morreu na hora.
Foram duas horas de tiros, o povo se escondeu. O governador era Silvestre Péricles, que não podia disputar a reeleição. Arnon de Mello era o outro candidato.
Silvestre Péricles fazia o possível e o impossível para impedir os repórteres da Revista O Cruzeiro de chegarem a Mata Grande e cobrirem os velórios. Uma semana antes do massacre, o Tribunal Superior Eleitoral havia autorizado intervenção do Exército nas ruas da cidade.
O senador Ismar de Góis Monteiro, irmão de Silvestre, escapou de morrer: os tiros atingiram as nádegas. No carro dele havia fotos de Arnon. Era o pedaço de uma briga histórica envolvendo três irmãos: general Góis, Edgard e Silvestre.
Silvestre, o “leão de Alagoas” era chamado por Edgard de um “governador demente, desonesto e assassino”; o general Góis acusava os dois irmãos no massacre de Mata Grande. No meio, dona Constança (um busto homenageia a matriarca, está em frente à igreja Nosso Senhor do Bomfim, na Praça Bomfim, bairro do Poço, em Maceió):
– É o desgosto da minha velhice a briga de meus filhos –, disse àquela edição da revista O Cruzeiro, de 21 de outubro de 1950. Ela prometia não dar a Ismar e Edgard nem sua bênção nem seu perdão. A matriarca escolheu Silvestre. Para os repórteres não chegarem a Mata Grande, o governador suspendeu todas as decolagens do aeroclube; depois mandou que a equipe saísse do Palácio Floriano Peixoto sem falar da chacina.
Mas os repórteres chegaram a Mata Grande, um lugar que “dava a impressão de um cemitério”, um “quadro triste: na casa onde jaziam os quatro esquifes, o velório estava sendo feito apenas por uma pessoa – um soldado do Exército, representante da Nação”.
“A cidade foi abandonada por muita gente e os demais não tinha coragem de sair às escuras para fazer quarto a defunto nenhum”. A Alagóis ruiria naquele dia.banner
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA