Como Alagoas ajudou a acabar com revolução em Pernambuco?
Destaque na 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas (estande 92, do Coletivo Mulheres que Escrevem), o primeiro volume da coletânea Tamandaré: a Tua História para Sempre Viverá, reafirma a posição de Alagoas frente aos desejos do rei para acabar com a Revolução Pernambucana de 1817. Para a autora, a pernambucana Maria do Carmo Ferrão Santos, por causa do forte apoio dos donos de engenho Alagoas foi emancipada de Pernambuco, teria uma estrutura administrativa própria e o estado vizinho assistiu à posse, no governo, do carrasco brigadeiro Luiz do Rego Barreto, que havia massacrado centenas de pernambucanos na revolução.
Tamandaré é cidade pernambucana que, apesar de não fazer fronteira com Alagoas, aparece em eventos históricos relacionados ao contexto local. O Forte de Tamandaré, erguido na guerra contra os holandeses, virou espaço de tortura e massacre usado contra mulheres e seus filhos apoiadores da Guerra dos Cabanos, no século 19. Os homens lideravam a guerra, as mulheres se escondiam nas matas junto aos filhos e recusavam trabalhar nos engenhos para morrer de fome. Resultado: muitas foram arrastadas para o Forte de Tamandaré e mortas a cacetadas junto aos filhos bebês ou crianças.
Na Confederação do Equador (1824), que era o grito republicano, as milícias responsáveis pelo massacre dos insatisfeitos foram arregimentadas em Alagoas, via Maragogi, no povoado Barra Grande. No caminho a Pernambuco, passaram por Tamandaré.
Este episódio aparece no livro de Maria do Carmo. Mas também o forte apoio imperial à causa contrária à Revolução de Pernambuco. A vinda da família real ao Brasil, fugindo das tropas de Napoleão, e a chegada ao Rio de Janeiro em 1808, aumentaram o custo de vida, principalmente para pagar à Corte e seus agregados mais apaniguados. A conta também chegou aos donos de engenho pernambucanos através do aumento de impostos.
Da insatisfação nasceu a revolta e dela, o apoio à independência e à implantação de uma República, tratada como única saída por uma administração própria, fora do modelo exigido pela Corte. A bandeira pernambucana foi construída pelos opositores do imperador em homenagem à quase separação do Nordeste do restante do país. No caminho havia o Conde dos Arcos, governador da Bahia, cujos interesses eram diferentes. E para mostrar lealdade a Dom João VI, que se organizava para acabar com a Revolução de Pernambuco, massacrou centenas de opositores. O rei gostou do que viu.
O impacto seria ainda maior. Padre Roma, responsável por percorrer o Nordeste levando notícias da revolução, saiu de Maceió e, na direção de Salvador, foi capturado pelas tropas do Conde dos Arcos e fuzilado em 29 de março de 1817. Dias antes, em 26 de março, dois regimentos da cavalaria, cada um formado por mil homens, passaram a arregimentar apoiadores. Os donos de engenho alagoanos deram uma significativa contribuição. E eles eram os maiores interessados ao mostrar não apenas lealdade à Coroa, mas também apoio à monarquia, de olhos nos negócios.
Com o dinheiro, o Conde dos Arcos comprou Mercúrio e Carrasco, dois navios mercantes. Mandou armá-los para a guerra. Partiram de Salvador em 2 de abril de 1817. Chegaram a Recife em 16 de abril. Não havia chance para os revolucionários.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA



