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Odilon Rios

Jornalista, editor do portal Repórter Nordeste e escritor. Autor de 4 livros, mais recente é Bode Pendurado no Sino & Outras Crônicas (2023)

Conteúdo Opinativo

A relação de Collor com a família Saad (Bandeirantes)

18/10/2025 - 06:00
Atualização: 17/10/2025 - 17:48
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Os caminhos da família dona da TV Bandeirantes e Fernando Collor se cruzaram na disputa presidencial. Collor era um candidato desacreditado, ainda tratado por empresários e donos de meios de comunicação como um nome de segundo escalão naquela que ficou conhecida como a primeira votação direta pós-ditadura militar. Com os Saad não foi diferente. Foi Leopoldo, irmão de Collor, quem procurou Johnny Saad para contar que ele seria candidato a presidente. “Não me diga, é mesmo?”, perguntou o incrédulo Johnny Saad. Naquele momento, Collor era mais associado ao Governo de Alagoas e à emblemática marca que se destacou na campanha e entrou para a história: o caçador de marajás.

Segundo reconstitui o Notícias do Planalto, “Leopoldo Collor disse que havia uma disputa judicial sobre o cabimento de Fernando Collor participar do programa de televisão do Partido da Juventude. Com as dúvidas legais, nenhuma rede de televisão estava querendo gerar o sinal do programa, a ser captado e retransmitido pelas emissoras de todo o país”. E perguntou: “Será que a Bandeirantes poderia gerar o sinal?”, indagou Leopoldo. “Se vocês conseguirem a autorização judicial, não tem problema”, respondeu Johnny Saad.

Autorização concedida, a Bandeirantes cumpriu o prometido, Collor quis agradecer a Saad. Leopoldo intermediou o encontro. Ambos se conheceram, cumprimentaram-se, trocaram frases. Johnny perguntou a Collor se ele se considerava preparado para governar o Brasil. Collor disse que sim. Na saída da TV Bandeirantes, Johnny Saad acompanhou Collor até o carro. “Quando eu for presidente, espero retribuir o favor”, disse o candidato ao empresário.

“Johnny considerou remotíssima a possibilidade de Collor ser eleito, mas o achou carismático. Voltou ao andar da diretoria e quis saber a opinião do pai: — Então, o que o senhor achou do Collor? — Achei ele louco — respondeu João Saad. — Mas como, louco? Por quê? — Não sei. Mas ele é louco. Louco”.

Louco ou não, Collor cresceu nas pesquisas. Ganhou as eleições. Johnny teve um encontro com o presidente, a pedido do próprio, no Palácio do Planalto. “Pediu a opinião do dono da Bandeirantes sobre telecomunicações. Saad falou contra os privilégios e a tendência à monopolização. Disse que o governo deveria propor mudanças na legislação, a fim de garantir a existência de várias redes. Por exemplo, deveria evitar que uma empresa tivesse vários veículos e formas de comunicação numa mesma base territorial”. Não se falaram mais.

“Em compensação, pouco tempo depois executivos do Departamento Comercial da Bandeirantes receberam propostas de funcionários que trabalhavam na área de publicidade do governo: queriam ganhar comissões para veicular anúncios sociais na emissora. Saad mandou não pagar as comissões. Assustou-se com a contradição entre o presidente que visitara, interessado em ideias, e a crueza do pedido de propinas de gente de seu governo”. Os sinais pareciam falar mais alto.

A Bandeirantes, mais adiante, se rendeu à pressão em apoio ao impeachment.

Fonte

MÁRIO SÉRGIO CONTI.
Notícias do Planalto: a imprensa e o poder nos anos Collor.
São Paulo: Companhia das Letras, 1999

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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