ELEIÇÕES
Favelas e grotas viram palco para críticas entre JHC e Brito
Prefeito e deputado federal listam obras, enquanto lixo e falta de saneamento continuamO prefeito JHC (PL) e o deputado federal Rafael Brito (MDB) miram os grotões e as favelas em busca de votos, subindo e descendo escadas construídas pelo poder público ou rampas de barro improvisadas pelos próprios moradores.
Em favelas reformadas pelo programa Vida Nova nas Grotas, Brito critica as condições precárias, a ausência do recolhimento do lixo e o esgoto que corre a céu aberto. Foi assim no dia 17 deste mês, quando percorreu as grotas do Rafael, Macaco e Sossego, nos bairros de Cruz das Almas e Jacintinho.
O candidato acusa o prefeito de deixar os moradores em situação “desoladora”. “As pessoas convivem diariamente com o esgoto correndo pelas ruas e uma total ausência de infraestrutura. A Prefeitura de Maceió simplesmente virou as costas para estas comunidades. Isso é inaceitável”, disse.
A Grota do Rafael chegou a ser citada a técnicos da Organização das Nações Unidas como um dos locais onde seria implantada uma semente – como o governo do Estado chamou – do programa chamado Digaê (da ONU) “que busca o desenvolvimento de moradores de áreas vulneráveis de Maceió, através de ações de valorização social”, segundo texto da Agência Alagoas, publicado em 9 de abril último.
Além disso, esta grota foi incluída no projeto Vida Nova nas Grotas, que começou no Governo Renan Filho (MDB) e se estende sob Paulo Dantas (MDB). Programa, segundo diz o próprio governo, que reformou mais de 100 grotas na capital.
Como criticar JHC se a grota foi reformada pelo governo, que apoia Rafael Brito? A resposta, segundo uma fonte: não é prioridade da gestão estadual recolher lixo, por exemplo. Mas o programa “abraçado pelo ONU-Habitat”, como gosta de repetir a gestão estadual, serviu para identificar os vulneráveis e incluí-los em ações estatais.
“No Benedito Bentes já asfaltamos centenas de ruas e implementamos o programa Vida Nova nas Grotas em várias comunidades do bairro – trabalho que deveria ser realizado pela prefeitura ou em parceria com a prefeitura, mas falta diálogo com a atual gestão”, disse o aliado Paulo Dantas (MDB), em 5 de agosto, criticando o prefeito.
Problemas de acessibilidade e saneamento básico continuam. E mais protuberantes no guia eleitoral de ambos, quando os dois lados se atacam.
A Prefeitura copiou o modelo do governo do Estado e criou o Brota na Grota. Nesta semana, esteve na Pitanguinha, descendo o Vale da Amizade, próximo à garagem da Real Alagoas. Como esta grota passou por reformas do Estado, a Prefeitura atuou para identificar atendimentos odontológicos, castração de animais, Restaurante Popular Itinerante. Na sexta, 27, as ações continuariam na Chã de Bebedouro, com locais também reformados pelo Vida Nova nas Grotas.
“O Brota na Grota é o programa mais inovador do país, que é a Prefeitura na grota com seus serviços, levando qualidade de vida, além da infraestrutura, trazendo iluminação em led, escadarias, e aqui temos o Corujão da Saúde que tem atendimentos até 21h. Tudo isso visa não só melhorar a infraestrutura das nossas grotas, mas também levar saúde, levar os nossos serviços para a porta das casas de quem mais precisa”, elogia o prefeito, mandando o recado: “Por muito tempo, as grotas ficaram esquecidas e eram sinônimo de miséria, mas viramos essa página!”
Ao inaugurar uma obra de proteção na Grota da Alegria em 16 de abril, JHC novamente encomendou o recado ao Palácio República dos Palmares: “Essas obras não existiam antes, não havia planejamento, mas agora estamos entregando resultados tangíveis. Não vamos desistir, pois temos soluções. Os problemas são complexos, mas estamos trabalhando incansavelmente para garantir a segurança e a qualidade de vida de todos os maceioenses, especialmente aqueles que mais precisam”, disse Jota.
Segundo o IBGE, 4,3 mil moradores em Alagoas vivem em tendas, barracas, lonas, estruturas improvisadas ou áreas não residenciais consideradas degradadas ou inacabadas. Nestas estatísticas estão as grotas e favelas de Maceió. Enquanto isso, 183,6 mil domicílios estão vagos. Os números estão no Censo Demográfico 2022, divulgado pelo instituto em 6 de setembro.
Alagoas, terceiro estado mais pobre do país, é o 11º no país e o 4º no Nordeste com moradores vivendo de forma improvisada. No Brasil, são 160 mil nesta condição. Invisibilizados, eles aparecem em tempos de campanha eleitoral. Após a passagem das charangas pelas urnas, voltam para a condição cruel e esquecida. Até a próxima votação.