Candidato à reeleição, prefeito de Milagres é acusado de ter ameaçado servente assassinado

Dez dias após o servente de pedreiro David Ferreira dos Santos ser assassinado, o delegado Heleno Melo, do 97º Distrito de Polícia (97º DP) de São Miguel dos Milagres, informou que o inquérito que investiga a morte do servente está em andamento e tem um suspeito de autoria material do crime. Poucos dias antes do crime, a vítima relatou em vídeo ter sido ameaçada de morte pelo prefeito Jadson Lessa, devido a críticas feitas à administração municipal. 

David Ferreira, 37 anos, foi morto no último dia 14 dentro de casa e os disparos foram feitos por um homem que estava de capacete e dirigia uma moto. Inclusive, a vítima, além de gravar um vídeo denunciando possíveis ameaças sofridas, chegou a registrar um Boletim de Ocorrência (BO) de um atentado a tiros que sofreu em 26 de agosto.

Na terça-feira, 24, o delegado adiantou, através de nota, que já ouviu testemunhas, entre elas, uma prima de David. E acrescentou que nenhuma hipótese para a motivação do homicídio está sendo descartada. 

David era conhecido por ser uma pessoa atuante na comunidade em que residia. Nos últimos meses, vinha denunciando irregularidades na administração municipal, causando descontentamento por parte do gestor atual. Apesar das ameaças, o jovem não se intimidou.

Porém, na segunda-feira, 26 de agosto, tentaram calar a voz de David. Por volta das 11h10, o servente de pedreiro estava em seu local de trabalho e percebeu uma movimentação estranha. Um carro parou em frente à obra em que ele trabalhava como vigia e em seguida foi embora. 

Cerca de 10 minutos depois, voltou e uma pessoa desceu do carro, foi até o final da obra e saiu mais uma vez. Quando retornou, David perguntou se queria alguma coisa e de imediato o criminoso colocou a mão na cintura. Foi aí que a vítima percebeu que ele estava armado e tentou correr, mas o homem começou a atirar. Deflagrou cinco disparos contra o trabalhador, porém nenhum o atingiu. O relato é da própria vítima.

É que após sofrer o atentado, David gravou um vídeo narrando a tentativa de homicídio que sofreu, dando nomes de quem seria seu possível algoz, já que no lugar em que morava não tinha qualquer inimizade.

“Meu único inimigo na cidade é o atual prefeito Jadson Lessa por divergência política, por ter opiniões diferentes. Ele vem me perseguindo, não é de agora e até então me colocou na Justiça por duas vezes por eu ser um cidadão que quer se expressar e como pessoa pública não aceita crítica contra ele”, denunciou. 

O vídeo continua com mais narrativas de acusação. “Ele (prefeito) já vinha me perseguindo e me ameaçando várias vezes pessoalmente. Que minha hora ia chegar, que o que era meu estava vindo. Até acontecer esse atentado contra mim em meu local de trabalho”. E acrescentou que era nascido e criado na cidade de São Miguel dos Milagres e nunca teve problema com ninguém. “Apenas com o gestor, pois a gente como eleitor tem o direito de expressar a nossa palavra, o que acha certo ou errado”.

David desabafou que “como pai queremos uma educação e saúde melhor para nossos filhos e não poder expressar o que sente, por o prefeito intimidar você de falar a ponto de ameaçar e até concluir ao mandar uma pessoa tentar tirar a minha vida e só não conseguiu porque Deus é maior, colocou as mãos sobre minha vida e nenhum disparo me atingiu”. E concluiu: “Meu maior inimigo hoje é o prefeito Jadson Lessa que é o responsável por esse atentado contra mim, enquanto estava trabalhando para sustentar minha filha de 4 anos. Ele pagou uma pessoa para tirar minha vida em meu local de trabalho”, assim David termina o vídeo.

David enfrentou seus medos, os desmandos. Só não previu que menos de 15 dias depois seria executado dentro da própria casa, deixando uma criança órfã. Ele queria justiça e buscou a Justiça. No dia 28 de agosto, registrou um BO, onde relata a tentativa de assassinato dia 26 de agosto ocorrida em seu local de trabalho enquanto vigiava.

O prefeito Jadson Lessa não se manifestou até agora sobre o caso e há quem diga que só irá falar no processo. O EXTRA tentou contato com a assessoria do prefeito, mas não obteve sucesso até o fechamento desta edição.