Conteúdo do impresso Edição 1289

FUTURO INCERTO

PT se prepara para eleição interna em meio a crises e baixa popularidade

Interferências nacionais e discordância entre lideranças locais põem em xeque futuro do partido
Por BRUNO FERNANDES 26/10/2024 - 05:00

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ASCOM PT
Ricardo Barbosa e Paulão pertencem à corrente que há 30 anos comanda o PT de Alagoas
Ricardo Barbosa e Paulão pertencem à corrente que há 30 anos comanda o PT de Alagoas

O PT inicia sua preparação para o Processo de Eleição Direta (PED) em 2025 após a extensão do mandato das atuais direções por cerca de um ano. O momento em Alagoas revela preocupações para o partido, que enfrenta desafios de liderança e falta de um projeto político coeso. Sem uma visão estratégica clara, o PT tem dificuldade em construir uma tática coletiva que una suas principais lideranças e fortaleça sua atuação na política local.

As recentes crises dentro do partido se tornaram evidentes. Teca Nelma, ao se filiar ao PT, enfrentou resistência do diretório local e só obteve apoio após intervenção da presidência nacional. A “persona non grata”, no final, foi a única da sigla a conquistar uma vaga na Câmara de Maceió nas últimas eleições, o que expôs as divisões internas e as dificuldades em estabelecer uma chapa coesa.

Outro episódio marcante foi a tentativa do atual presidente da sigla em Alagoas, Ricardo Barbosa, de lançar uma candidatura à Prefeitura de Maceió que foi abortada devido à falta de apoio nacional após interferência do senador Renan Calheiros (MDB). Essa articulação resultou em uma aliança forçada com o candidato Rafael Brito (MDB), que não teve sucesso nas urnas. A falta de um candidato forte e a ausência de um plano claro levaram à perda de uma oportunidade significativa de conquistar a prefeitura.

Adicionalmente, a saída do advogado Welton Roberto do PT gerou polêmica sobre o uso de recursos do fundo partidário nas eleições municipais. Welton, que já havia sido candidato a vereador e deputado estadual, criticou a condução do diretório local e questionou a transparência na distribuição dos recursos. Sua saída foi vista como um sinal claro da desconfiança crescente entre os militantes em relação à gestão do partido.

Em um movimento controverso, o diretório estadual contratou como advogado o filho do presidente do PT em Alagoas utilizando uma parte significativa do orçamento destinado a serviços jurídicos. O advogado Guilherme Barbosa recebeu R$ 399 mil para prestar serviços, um valor que muitos consideram excessivo e injustificável.

A crise interna no grupo que já comanda a sigla há 35 anos em Alagoas reflete externamente e já não consegue mais ser ignorada em esferas mais altas. O vice-líder do governo na Câmara, deputado federal Reginaldo Lopes (PT-MG), declarou recentemente que o PT precisa se reinventar após uma “performance decepcionante” no primeiro turno das eleições municipais. Para ele, é necessário aproximar a legenda dos jovens, dos trabalhadores, das mulheres e dos empreendedores. Apesar de o PT aumentar de 183 para 248 o número de prefeituras que comanda, o desempenho não atendeu às expectativas, gerando um sentimento de frustração entre os filiados.

Essa crise pode se agravar. Nos próximos dois meses, o PT terá que se justificar não apenas à opinião pública, mas também às correntes políticas internas que estão abrigadas dentro do partido. Esse processo de renovação política poderá fragilizar ainda mais o partido, pois tudo indica que haverá um forte embate entre grupos de posições ideológicas diversas, dificultando a construção de uma agenda comum que possa mobilizar a base partidária.


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