Usina Taquara fecha as portas

A Usina Taquara, da cidade de Colônia Leopoldina, fechou as portas após décadas de calotes, impostos e também empréstimos não pagos, incluindo para o extinto Produban. São 2.500 empregos diretos e indiretos, a maioria do município, que deixam de ser gerados, mas todos estavam sem receber salários e devem ingressar na Justiça.

O secretário de Governo da Prefeitura de Colônia, Manuílson Andrade, classifica a situação como “muito triste” porque a Destilaria Porto Alegre, do Grupo Olival Tenório, também já havia decretado falência.

Na safra deste ano, a Taquara moeu 38 mil toneladas e a cana nos canaviais será processada pelas usinas da região norte alagoana.

A usina estava em recuperação judicial. No final do ano passado, uma operação do Grupo de Atuação Especial no Combate à Sonegação Fiscal e Lavagem de Bens (Gaesf), do Ministério Público Estadual, fez operação para desarticular crimes de sonegação que ultrapassavam R\$ 260 milhões, calote transformado em bens àqueles ligados à usina.

Em dezembro, o Cadastro do Contribuinte do Estado de Alagoas (Caceal) da usina foi suspenso por decisão da Secretaria da Fazenda. Os débitos somavam, até ali, R\$ 276,7 milhões em ICMS e R\$ 8,6 mil no pagamento do IPVA.

Os diretores entraram na Justiça, mas o juiz Manoel Cavalcante de Lima Neto decidiu, em 24/2/2025, negar liminar argumentando que a Taquara era devedora “contumaz e reiterada”.

Ainda em fevereiro, as dívidas de ICMS somavam R\$ 293,8 milhões, nove anos sem pagar o imposto, de acordo com levantamento da Sefaz. Além de débitos trabalhistas, tributário (R\$ 83,3 milhões), previdência (R\$ 50,4 milhões), multa trabalhista (R\$ 28,4 milhões).

No início de março, a usina propôs ao Estado desconto de até 70% nas multas, juros e correções, além de parcelamento em 145 vezes da dívida, com uma entrada de R\$ 73,2 milhões entregando as fazendas Livramento (819,15 hectares, avaliada R\$ 26,7 milhões), Cobras (655,3 hectares, valendo R\$ 20,2 milhões) e Manaia (800 hectares e avaliada em R\$ 26,1 milhões), além de pagar R\$ 29 milhões (27,9% do débito total) em parcelas mensais de R\$ 200 mil.

No final de março, o governador Paulo Dantas (MDB) determinou que os secretários ficassem à disposição para um acordo. Na mesa de negociações, também, a Prefeitura de Colônia. “Vamos nos unir para ter a Usina Taquara moendo novamente, devido a sua importância econômica para a região”, disse o governador em 26/3/2025.

Mas a usina tem histórico de calotes com o poder público, apesar de amplamente beneficiada. Chegou a constar na lista dos 20 maiores devedores do Produban nos anos 80. Em 16 de novembro de 1988, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Produban e a Taquara estava na relação das usinas responsáveis por tomar empréstimos e não honrar as próprias dívidas.

A Taquara é uma das mais tradicionais no setor sucroalcooleiro. Reuniu engenhos que funcionavam desde o século 16 na região e em 25 de agosto de 1949 formaram a Cooperativa da Usina Taquara. A primeira safra veio em 1953.

No século 19, segundo o historiador Sávio Almeida, o então engenho virou ponto de esconderijo para as tropas avançando na guerra contra os cabanos, que dominavam as matas do litoral norte alagoano e pernambucano.

O setor sucroalcooleiro alagoano passa por crise. Em 2017, o Sindicato dos Usineiros entrou com pedido de recuperação judicial destas empresas – incluindo a Usina Taquara –, a maior parte devedoras do extinto Produban e também da antiga Companhia Energética de Alagoas, a Ceal. Liminares na Justiça garantiam o funcionamento das empresas.

O tombo maior no setor veio em 2013 com o fechamento das usinas Guaxuma e Uruba, do Grupo João Lyra. No início dos anos 90, Alagoas chegou a ter 37 usinas em funcionamento.