colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

A CPI da Braskem vem aí, gente!

15/09/2023 - 06:00

ACESSIBILIDADE

Afrânio Bastos
Sede da Braskem, localizada no bairro do Pontal da Barra, em Maceió
Sede da Braskem, localizada no bairro do Pontal da Barra, em Maceió

Durante mais de duas décadas o grupo Odebrecht, através da Braskem S/A, fez, como diz o ditado popular, “cabelo e barba” em Alagoas, fruto da estranha anomia das autoridades locais às investidas daquela empresa em detrimento dos interesses de Alagoas e dos alagoanos.

A insistência obtusa da Braskem em manter em operação – na área urbana de Maceió – uma indústria velha, de quase 50 anos, com histórico de micro acidentes e, sobretudo, insegura para os maceioenses, é prova cabal da sua soberba, descaso, desrespeito e desprezo com Maceió, Alagoas e os alagoanos.

Nunca é demais dizer que, em caso de ocorrer um acidente de grandes proporções na indústria, cerca de 150 mil pessoas que residem, trabalham ou estudam no seu perímetro serão afetadas até o limite de mortes pelos efeitos dos gases emanados da empresa.

O megadesastre que ela provocou na cidade destruiu por completo 5 bairros, afetou a outros 10 bairros, e alterou para pior a vida de outras 200 mil pessoas no seu entorno (dentre os quais 60 mil foram “expulsas” de suas casas) é outro exemplo da impunidade à irresponsabilidade técnica, ambiental e institucional com que a Braskem minerou o sal-gema de Alagoas. Que aliás, até hoje nada ganhou. Só problemas.

O discutível acordo que a Braskem celebrou em 2020 com o MPF e MPE (que mesmo tendo o governador recentemente rompido com os grilhões daquela empresa em torno do Executivo alagoano através da já histórica Nota Relevante, segue impávido em sua posição retrógrada de apoio ao tal acordo) é algo que a CPI que está sendo criada no Senado Federal precisa ir fundo. Aí tem coisa...

Trata-se de peça jurídica que só beneficia a Braskem e tem sido uma espada de Dâmocles em relação aos interesses dos afetados que veem sumariamente negados seus pleitos, qualquer pleito. E que fere de morte o equilíbrio dos poderes interferindo de forma direta em atribuições que, em definitivo, não podem ser atribuídas àquela empresa.

Esse acordo e seus desdobramentos, a permanência criminosa da indústria no Pontal da Barra – inclusive de forma irregular – quem quiser ver é só ler nosso artigo no livro “Rasgando a Cortina de Silêncios – O lado B da exploração do Sal-Gema em Maceió; e o maior crime ambiental do mundo cometido pela Braskem na área urbana de Maceió certamente serão elementos centrais a serem dissecados nas suas entranhas (tem muita gente que vai ter que explicar suas inexplicáveis posturas pró Braskem e contra Alagoas e os afetados) pela CPI da Braskem, em boa hora instituída e liderada pelo senador Renan Calheiros.

Quem não está envolvido mais diretamente no problema não sabe do esforço pessoal dele e de alguns poucos técnicos e lideranças comunitárias para buscar uma solução negociada para o imbróglio Braskem em Alagoas, mesmo enfrentando resistência surda nos subterrâneos do poder dos tentáculos daquela corporação. Que levou por fim, à medida extrema da CPI que todos sabem como começa, mas nunca como pode acabar.

Nunca fomos xiitas em relação ao tema. Muito pelo contrário, entendemos que é com um BOM acordo para as partes que a questão deveria ser resolvida. Mas a postura da empresa acaba por empurrar o tema para o precipício de uma CPI. Que seja assim, então. Nunca é tarde dizer que é a luz do sol o melhor detergente para o combate ao espúrio, ao ilegal, ao amoral.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


Encontrou algum erro? Entre em contato