A CPI da Braskem vem aí, gente!
Durante mais de duas décadas o grupo Odebrecht, através da Braskem S/A, fez, como diz o ditado popular, “cabelo e barba” em Alagoas, fruto da estranha anomia das autoridades locais às investidas daquela empresa em detrimento dos interesses de Alagoas e dos alagoanos.
A insistência obtusa da Braskem em manter em operação – na área urbana de Maceió – uma indústria velha, de quase 50 anos, com histórico de micro acidentes e, sobretudo, insegura para os maceioenses, é prova cabal da sua soberba, descaso, desrespeito e desprezo com Maceió, Alagoas e os alagoanos.
Nunca é demais dizer que, em caso de ocorrer um acidente de grandes proporções na indústria, cerca de 150 mil pessoas que residem, trabalham ou estudam no seu perímetro serão afetadas até o limite de mortes pelos efeitos dos gases emanados da empresa.
O megadesastre que ela provocou na cidade destruiu por completo 5 bairros, afetou a outros 10 bairros, e alterou para pior a vida de outras 200 mil pessoas no seu entorno (dentre os quais 60 mil foram “expulsas” de suas casas) é outro exemplo da impunidade à irresponsabilidade técnica, ambiental e institucional com que a Braskem minerou o sal-gema de Alagoas. Que aliás, até hoje nada ganhou. Só problemas.
O discutível acordo que a Braskem celebrou em 2020 com o MPF e MPE (que mesmo tendo o governador recentemente rompido com os grilhões daquela empresa em torno do Executivo alagoano através da já histórica Nota Relevante, segue impávido em sua posição retrógrada de apoio ao tal acordo) é algo que a CPI que está sendo criada no Senado Federal precisa ir fundo. Aí tem coisa...
Trata-se de peça jurídica que só beneficia a Braskem e tem sido uma espada de Dâmocles em relação aos interesses dos afetados que veem sumariamente negados seus pleitos, qualquer pleito. E que fere de morte o equilíbrio dos poderes interferindo de forma direta em atribuições que, em definitivo, não podem ser atribuídas àquela empresa.
Esse acordo e seus desdobramentos, a permanência criminosa da indústria no Pontal da Barra – inclusive de forma irregular – quem quiser ver é só ler nosso artigo no livro “Rasgando a Cortina de Silêncios – O lado B da exploração do Sal-Gema em Maceió; e o maior crime ambiental do mundo cometido pela Braskem na área urbana de Maceió certamente serão elementos centrais a serem dissecados nas suas entranhas (tem muita gente que vai ter que explicar suas inexplicáveis posturas pró Braskem e contra Alagoas e os afetados) pela CPI da Braskem, em boa hora instituída e liderada pelo senador Renan Calheiros.
Quem não está envolvido mais diretamente no problema não sabe do esforço pessoal dele e de alguns poucos técnicos e lideranças comunitárias para buscar uma solução negociada para o imbróglio Braskem em Alagoas, mesmo enfrentando resistência surda nos subterrâneos do poder dos tentáculos daquela corporação. Que levou por fim, à medida extrema da CPI que todos sabem como começa, mas nunca como pode acabar.
Nunca fomos xiitas em relação ao tema. Muito pelo contrário, entendemos que é com um BOM acordo para as partes que a questão deveria ser resolvida. Mas a postura da empresa acaba por empurrar o tema para o precipício de uma CPI. Que seja assim, então. Nunca é tarde dizer que é a luz do sol o melhor detergente para o combate ao espúrio, ao ilegal, ao amoral.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA