Sem NY, Ibovespa inicia semana em queda de 0,81%, abaixo dos 135 mil; dólar tem leve queda

Por Agência Estado 02/09/2024 - 18:21

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Em dia de feriado em Nova York e com dólar acomodado na elevada casa de R$ 5,61, o Ibovespa operou no negativo, lutando ao longo da tarde para reter o nível dos 135 mil pontos em fechamento. Ao fim, a referência da B3 mostrava perda de 0,81%, aos 134.906,07 pontos, entre mínima de 134.496,71 e máxima de 136.003,81, equivalente à abertura. Sem negócios em NY nesta segunda-feira, o giro se enfraqueceu a R$ 14,0 bilhões. No ano, o Ibovespa ainda avança 0,54%, com ganho limitado pelo desempenho negativo nas últimas três sessões.

Sem a referência de Wall Street, as ações de maior liquidez e peso no Ibovespa mantiveram sinal de baixa na sessão, com Vale (ON -1,41%) à frente. Apesar da relativa recuperação do petróleo nesta segunda-feira, em que os investidores monitoraram a tensão no Oriente Médio e indícios de aperto na oferta, as ações da Petrobras cederam terreno, com a ON recuando 0,42% e a PN, 0,94%, no fechamento - negativo também para os grandes bancos, à exceção de BB (ON +1,07%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque para Assaí (+2,40%), 3R Petroleum (+1,97%) e IRB (+1,94%). No lado oposto, Azul (-18,18%), BRF (-6,02%) e Marfrig (-4,26%).

Além do feriado pelo Dia do Trabalho nos Estados Unidos, a sessão na B3 foi marcada por forte correção nos preços do minério de ferro na China. Em Dalian, a queda foi de 4,36%, e em Cingapura, de 4%, o que colocou o principal contrato negociado na cidade-Estado abaixo de US$ 100 por tonelada. "Dados sobre a atividade fabril na China têm decepcionado, e as vendas de casas indicaram piora", o que se reflete nas cotações da commodity e nas ações do setor metálico no Brasil, aponta Hemelin Mendonça, sócia da AVG Capital.

Em acréscimo, "o feriado nos Estados Unidos deixou o mercado daqui não apenas com menos liquidez, mas também menos volátil", diz Matheus Massote, especialista da One Investimentos, referindo-se ao sinal de baixa que prevaleceu ao longo da sessão na B3. Ele considera como natural alguma acomodação para o Ibovespa após o "excepcional" desempenho colhido em agosto, quando o índice avançou 6,54%, no que foi sua melhor performance desde novembro passado - um avanço proporcionado em agosto pela retomada do ingresso de capital estrangeiro na Bolsa. No mês, o Ibovespa também tirou a máxima histórica que vinha do fim de dezembro, da casa de 134 mil para a inédita marca de 137 mil - ou seja, cerca de 3 mil pontos adiante.

"No câmbio, o mercado ainda repercutiu o movimento da última sexta-feira, de venda de dólar pelo BC, tanto à vista como em swap, com o rebalanceamento do EWZ - ETF de Brasil em Nova York - que passa a contemplar também ações de empresas brasileiras listadas no exterior, o que favorece a saída de dólares do País", diz Massote. Nesta segunda, o dólar à vista fechou em baixa de 0,36%, a R$ 5,6148.

Apesar do leve ajuste, o dólar se manteve hoje em patamar considerado alto, refletindo piora, na margem, na percepção sobre as contas e a dívida públicas, especialmente desde a última sexta-feira - dia de dois leilões cambiais feitos pelo Banco Central, e no qual a autarquia também divulgou dados que apontaram elevação da dívida bruta do governo geral, de 77,8% do PIB em junho para 78,5% no mês seguinte. Em dezembro de 2023, a dívida correspondia a 74,42% do PIB.

"A alta do dólar pressiona a inflação, o que pode levar o Banco Central a adotar uma postura ainda mais rígida na política monetária, dificultando o acesso ao crédito e potencialmente freando o crescimento econômico", aponta André Colares, CEO da Smart House Investments, mencionando um cenário que tende a resultar em "ambiente de cautela" para os investidores, atentos ainda a movimentações tanto no Brasil como no exterior, especialmente nos Estados Unidos, com a aproximação do início de cortes de juros pelo Federal Reserve neste mês de setembro.

Dólar

Após uma manhã de certa volatilidade, o dólar à vista perdeu força no início da tarde e encerrou a sessão desta segunda-feira, 2, em baixa moderada no mercado doméstico, mas ainda acima de R$ 5,60. Analistas afirmam que, apesar da intervenção do Banco Central, que hoje vendeu mais um lote extra de swaps cambiais, o dólar se mantém em nível elevado em razão da percepção de risco doméstico. O detalhamento hoje do Projeto de Lei Orçamentária (PLOA), divulgado na sexta-feira, não dissipou dúvidas sobre o cumprimento das metas fiscais.

Operadores não identificaram gatilhos mais fortes para justificar a leve apreciação do real ao longo da tarde, mas citaram ajustes de posições, após o dólar ter avançado nos últimos cinco pregões e acumulado valorização de 2,84% na semana passada. Com a ausência dos negócios nas bolsas em Nova York e no mercado de Treasuries, ambos fechados em razão do feriado do Dia do Trabalho nos EUA, a liquidez foi reduzida, o que deixou a formação da taxa de câmbio mais suscetível a movimentações pontuais.

Com máxima a R$ 5,6595, pela manhã, e mínima a R$ 5,6049 à tarde, o dólar à vista terminou o dia em baixa de 0,36%, cotado a R$ 5,6148. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para outubro teve movimento bem modesto, por volta de US$ 10 bilhões. No ano, o dólar avança 15,69% em relação ao real, que divide com o peso mexicano o papel de pior moeda entre as principais divisas globais.

Para o operador da Fair Corretora, Hideaki Iha, a liquidez apertada, além de trazer mais volatilidade à formação da taxa de câmbio, impede que a queda de hoje seja vista com início de um movimento de alívio para o real. "O dólar caiu um pouco, mas uma taxa acima de R$ 5,60 ainda é muito 'esticada' e carrega um prêmio de risco muito grande", diz Iha, ressaltando que a reação do mercado às intervenções do BC foi muito tímida. "Com o corte quase certo de corte de juros pelo Federal Reserve em setembro e a possibilidade de uma alta aqui, o dólar deveria estar mais baixo, por volta de R$ 5,30. Temos um problema."

Pela manhã, o BC vendeu a oferta de 14.700 swaps cambiais extras (US$ 735 milhões), o que equivale à venda de dólar futuro. Trata-se do restante da oferta de 30 mil contratos oferecidos na sexta-feira e que não foram absorvidos. Ao todo, o BC vendeu na sexta e hoje US$ 1,5 bilhão em swaps cambiais.
No dia 30, já havia vendido US$ 1,5 bilhão em leilão de moeda à vista, operação que estaria relacionada a saída pontual de recursos provocada pelo rebalanceamento do EWZ, o ETF do Brasil no índice do MCSI, com entrada de ações brasileiras negociadas no exterior, como Nubank e XP.

"O leilão de swap cambial contribuiu um pouco para algum respiro do real. Mas nossa moeda segue sendo castigada principalmente por questões domésticas, em especial o risco fiscal", afirma a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. "O projeto de lei orçamentária está sendo muito questionado no que diz respeito às receitas projetadas. Existe muita incerteza se será possível zerar o déficit primário em 2025."

Juros

Sem o direcionamento dos mercados financeiros dos Estados Unidos, que permaneceram fechados em função de um feriado, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) mantiveram o comportamento recente, oscilando ao redor da estabilidade entre os contratos de curto prazo e apresentando ligeira alta nos vértices médio e longo.

Os contratos de vencimento mais próximo seguem refletindo a expectativa de um forte movimento de alta da Selic até o final do ano, enquanto os mais distantes embutem o receio dos investidores em relação à trajetória das contas públicas nos próximos anos e o efeito disso sobre os juros.

Na sexta-feira, o Planalto entregou o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) referente a 2025 ao Congresso, e hoje detalhou a proposta numa entrevista coletiva, mas não conseguiu diminuir a preocupação dos investidores com o equilíbrio fiscal.

O receio envolve a visão de que o PLOA esteja subestimando os custos, na avaliação de Beto Saadia, economista e sócio da Nomos. "O corte de gastos precisa ser mais volumoso porque já há uma previsão de receita menor em 2025, do que em 2024, devido à alta taxa de juros", comenta.

O secretário de Orçamento Federal, Clayton Montes, reiterou que a meta de resultado primário de déficit zero prevista no PLOA poderá ser cumprida com uma folga de R$ 3,7 bilhões (0,03% do PIB). O valor desconsidera o pagamento de precatórios, que retira R$ 44,1 bilhões da meta.

Especialistas ouvidos pelo Broadcast, no entanto, apontam que o plano do governo é dependente demais de receita extraordinária e que exige grande coordenação política, principalmente junto ao Congresso.

São R$ 46,747 bilhões em receitas condicionadas à boa vontade dos deputados e senadores, divididos em três frentes: a majoração da alíquota do imposto de renda de pessoa física sobre o JCP (R$ 6,008 bilhões), o aumento das alíquotas da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) (R$ 14,939 bilhões) e a compensação da desoneração da folha (R$ 25,8 bilhões).

Além disso, o PLOA 2025 prevê que será aceito o formato proposto pelo governo para custear o programa Auxílio Gás. Nos novos termos, haverá gastos com o programa fora do Orçamento público - e, portanto, fora do limite de despesas do arcabouço fiscal.

Um sinal do tamanho da incerteza do mercado é a diferença das expectativas sobre os juros na curva de DIs, nas opções do Copom e no Boletim Focus. Na primeira, há uma expectativa de alta de 40 pontos-base na Selic em setembro (60% de chance de a taxa subir a 11,00%). Nas opções, o cenário mais provável (43%) é de um aumento de 25 pontos-base, e no Focus a expectativa é de manutenção.

A taxa do contrato de DI para janeiro de 2026 subiu a 11,985%, de 11,851% no ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 aumentou a 11,980%, de 11,927%, e a taxa para janeiro de 2029 avançou a 12,150%, de 12,089%. A taxa para janeiro de 2025 fechou perto da estabilidade a 10,985%, de 10,999%.


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