DECISÃO

Quatro são condenados pela morte do empresário Kleber Malaquias

Júri popular começou na segunda-feira, 17, e se estendeu até a noite de terça-feira, 18
Por Maria Salesia, Arthur Fontes e Adja Alvoravel 18/02/2025 - 23:00
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Quatro homens foram condenados nesta terça-feira, 18, por envolvimento na morte do empresário Kleber Malaquias. O júri popular, que teve início na manhã de segunda-feira, 17, foi presidido pelo juiz Eduardo Nobre, enquanto a acusação ficou a cargo dos promotores de Justiça Lídia Malta e Thiago Riff.

Veja as condenações de cada um dos acusados:


- Edinaldo Estevão de Lima: 
oito anos de reclusão em regime semiaberto. Como não existe regime semiaberto em Alagoas, o juiz autorizou que ele responda em liberdade.

- José Mário de Lima Silva: 12 anos reclusão regime fechado. Como já cumpriu parte da pena, terá de cumprir mais oito anos, quatro meses e um dia em regime semiaberto. Como não existe regime semiaberto em Alagoas, o juiz autorizou que ele responda em liberdade.

- Fredson José dos Santos: 30 anos de reclusão em regime fechado. 

- Marcelo José Souza da Silva: 24 anos de reclusão em regime fechado.

O juiz também pediu a perda do cargo de militar de José Mário e de Marcelo José.

"Foi um julgamento árduo, dois dias completos. Agora finalizamos o segundo dia cansados, mas com esse dever realmente de alívio, dever cumprido. Podemos discordar de algumas situações, de algumas penas. Mas, em termos gerais, foi um julgamento muito positivo. A condenação dos quatro pisados que sedimentaram realmente a confiança da sociedade na atuação", afirmou o promotor Thiago Riff. "Foi uma resposta à sociedade que, graças a Deus, conseguimos contribuir".

Kleber Malaquias foi assassinado com dois tiros no dia de seu aniversário, em 15 de julho de 2020, dentro do Bar da Buchada, localizado na Mata do Rolo, em Rio Largo. A vítima era conhecida por fazer diversas denúncias contra políticos e por fornecer informações ligadas a essas mesmas denúncias à polícia e ao Ministério Público de Alagoas (MPAL).

Primeiro dia

Evany Malaquias, mãe da vítima, disse durante o julgamento que o filho pensava em deixar Alagoas por receio das ameaças que sofria por ter feito denúncias contra políticos de Rio Largo. Emocionada, disse que foi o dia mais triste da vida receber a notícia da morte do filho no dia do aniversário de 41 anos dele.

O delegado Lucimério Campos, que na época do crime era titular da delegacia de Rio Largo, depôs na condição de testemunha de acusação. Lucimério denunciou que houve "interferência política" para afastá-lo do inquérito e se alterou quando um advogado pediu que ele citasse nomes.

Em seu depoimento, o réu José Mário, sargento da Polícia Militar de Alagoas, afirmou que o delegado forjou provas e induziu o Ministério Público de Alagoas (MPAL) ao erro. Por tê-lo "desafiado", José Mário afirmou que foi coagido pelo delegado. O sargento classificou a postura de Lucimério como um "teatro".

Um dos momentos de tensão ocorrido durante o julgamento foi provocado pela advogada do réu Marcelo Souza, que pediu a promotora Lídia Malta que "baixasse o tom de voz, porque ela estava muito alterada". As duas se estranharam e o juiz Eduardo Nobre, que preside o julgamento, interveio e lembrou que não iria permitir que o caso "fosse ganho no grito".

Segundo dia

O segundo dia de julgamento foi de apresentação das provas pelo MPAL e debates entre acusação e defesa. Os promotores de Justiça Lídia Malta Prata Lima e Thiago Riff sustentaram a acusação com as qualificadoras que embasam o pedido de condenação dos réus, que negaram a participação do crime.

Durante o inquérito instaurado após o crime, em 2020, o MPAL descobriu que os réus tinham por estratégia, para se livrar das acusações, imputar o crime a um sargento da Polícia Militar de Alagoas, identificado como Alessandro Fábio da Silva, assassinado em 2022.

"Precisamos primeiro condenar esse escalão daqui, para depois elevar o nivel", disse a promotora se referindo aos réus.

A trama foi revelada após a prisão preventiva do delegado Daniel Mayer por forjar provas para proteger os criminosos, quando foram acessas conversas reveladoras, sobre os planos dos envolvidos na execução.

"Esse pseudo-delegado tem que ser expulso da Polícia Civil. Ele tem que ser expulso. Só faltou, diante das provas, ele sair da cadeira das testemunhas para sentar ali, no banco dos réus", disse. "Quem veste uma farda e mata é criminoso travestido de policia... não podemos tolerar que crime de pistolagem volte a assombrar as instituições e sociedade alagoanas", continuou.

Segundo o promotor Thiago Riff, o caso é emblemático e pode indicar a existência de uma nova versão da Gangue Fardada, que atuou em Alagoas nos anos 90 sob o comando do ex-tenente-coronel Manoel Cavalcante. O grupo esteve envolvido em crimes como pistolagem, roubos de carros e assaltos. A comparação foi feita porque os réus incluem militares e ex-militares.


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