Saúde e consumo

Pode ter metanol na cerveja? E no vinho? Saiba os riscos

Substância pode aparecer naturalmente em pequenas quantidades em bebidas fermentadas
Por Larissa Cristovão - Estagiaria sob supervisão 02/10/2025 - 20:30
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Agência Brasil
Especialista explica o risco de bebidas fermentadas, como vinho e cerveja, serem contaminadas por metanol
Especialista explica o risco de bebidas fermentadas, como vinho e cerveja, serem contaminadas por metanol

As recentes notificações de intoxicação por metanol no Brasil, incluindo seis mortes em São Paulo e 59 casos suspeitos em todo o país, levantaram dúvidas sobre a segurança de bebidas alcoólicas além dos destilados, como vinhos e cervejas. Até agora, as ocorrências confirmadas envolvem apenas destilados, mas especialistas alertam que a preocupação também pode se estender às bebidas fermentadas.

Presença natural em vinhos e cervejas

O metanol pode surgir em pequenas quantidades durante o processo de fermentação, especialmente em frutas ricas em pectina, como uvas, maçãs e ameixas.

“Durante a fermentação, a pectina pode ser degradada por enzimas que liberam metanol. Esse processo ocorre de forma natural e, quando controlado, resulta em concentrações seguras ao consumo”, explica o analista químico Siddhartha Giese, do Conselho Federal de Química (CFQ).

Na prática, vinhos tintos podem conter até 400 mg por litro de metanol, segundo a legislação brasileira. Já os vinhos brancos e rosados têm limite de 300 mg por litro. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a cerveja apresenta concentrações ainda menores, variando de 6 a 27 mg por litro, valores considerados seguros.

Giese reforça que esses números estão muito abaixo da dose tóxica para humanos, que começa a partir de 8 gramas ingeridos:
— “O vinho produzido dentro das normas não representa risco à saúde”, destaca.




Quando o risco aumenta

O perigo cresce em fermentações espontâneas ou mal controladas, que podem intensificar a produção de metanol. Isso acontece, por exemplo, com frutas excessivamente maduras, altas temperaturas ou falta de controle microbiológico.

Nos destilados, há um agravante: o metanol tende a se concentrar durante a destilação, elevando o risco de intoxicação.

Maior perigo: a adulteração

O risco mais grave, no entanto, está na adulteração criminosa de bebidas. Em alguns casos, o metanol é adicionado intencionalmente para aumentar o teor alcoólico aparente em produtos de fabricação irregular ou de baixa qualidade.

“A substância pode ser misturada a qualquer tipo de bebida, inclusive vinhos e cervejas, o que torna a contaminação perigosa. O metanol é incolor e tem sabor semelhante ao etanol, dificultando a identificação sensorial”, alerta Giese.

Não há métodos caseiros confiáveis para detectar a presença do composto. Alterações de sabor ou odor podem levantar suspeitas, mas não são determinantes. Os especialistas recomendam que o consumidor evite bebidas de origem duvidosa, sem selo fiscal ou vendidas a preços muito abaixo do mercado.

Efeitos no organismo

O metanol é altamente tóxico. Dentro do corpo, ele se transforma em substâncias como formaldeído e ácido fórmico, responsáveis pelos efeitos mais graves.

A oftalmologista Stefânia Diniz, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), alerta que o ácido fórmico provoca uma espécie de “asfixia celular”:
— “Ele impede que o oxigênio chegue às células, mesmo quando está disponível no sangue. As do nervo óptico e da retina são muito sensíveis e podem sofrer inflamação, degeneração e até levar à perda de visão.”

Além da cegueira, a intoxicação pode causar insuficiência renal, pulmonar, danos neurológicos, coma e até morte.


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