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No Dia dos Professores, cresce o alerta sobre o esgotamento emocional

Mais de 150 mil docentes foram afastados por problemas de saúde mental em 2023
Por Redação 15/10/2025 - 07:14
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Pixabay
Quem cuida de quem ensina? No Dia dos Professores, cresce o alerta sobre a saúde mental e o esgotamento emocional na educação
Quem cuida de quem ensina? No Dia dos Professores, cresce o alerta sobre a saúde mental e o esgotamento emocional na educação

O Dia dos Professores, celebrado nesta quarta-feira, 15, é uma data para reconhecer e agradecer a quem muda vidas através do ensino. Entretanto, por trás das celebrações, essa data também serve como um alerta importante: quem está cuidando de quem educa? Mais de 150 mil docentes da educação pública brasileira foram afastados de suas atividades em 2023 devido a questões de saúde mental, segundo pesquisa da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) com dados do INSS. O diagnóstico central é o esgotamento emocional, que muitas vezes se associa à depressão e à síndrome de burnout, as quais têm sido cada vez mais frequentes entre educadores.

Segundo a psicopedagoga Ariane Meneghetti, do Núcleo de Apoio e Atendimento Psicopedagógico (NAAP) da Estácio, o adoecimento psíquico, que antes era visto como um caso isolado, agora é uma realidade coletiva nas escolas e universidades. De acordo com ela, a sobrecarga de trabalho, a desvalorização da profissão e a ausência de apoio institucional tornaram o ambiente escolar um verdadeiro celeiro do esgotamento. “A docência, que é uma profissão maravilhosa e significativa, vem sendo atravessada por muita pressão.” O emocional se esgota e, com ele, a saúde física e mental do professor”, destaca.

A sobrecarga que os educadores enfrentam vai muito além do ambiente escolar. Para além de educar, eles exercem papéis que vão além da sua formação: são mediadores, orientadores, psicólogos, administradores e, muitas vezes, suporte para famílias em situação de vulnerabilidade. Falta apoio e, sem ele, lidam com um dia a dia repleto de exaustão, frustração e uma solidão profissional que só aumenta. Ariane ressalta que a baixa remuneração, a falta de comunicação com a gestão da escola e as condições de trabalho inadequadas pioram a situação. Ela menciona que um dos aspectos mais sensíveis é o desafio da inclusão na escola. São muitos os professores que acolhem alunos com deficiência ou neurodivergência sem ter recebido a formação e os recursos necessários para um acompanhamento efetivo. Essa falta de suporte, tanto em termos pedagógicos quanto emocionais, cria insegurança e um senso de incapacidade, aumentando a probabilidade de problemas de saúde.

A saúde mental dos professores também foi profundamente afetada pela pandemia de Covid-19. O medo de contrair a doença, somado ao isolamento e à súbita mudança para o ensino remoto, gerou um clima de incerteza que provocou ansiedade, estresse e crises de pânico. Nesse meio tempo, os professores tiveram que se ajustar de forma ágil às novas tecnologias e métodos de ensino, ao mesmo tempo em que viam desaparecer o contato humano que sempre foi crucial para a relação pedagógica. A mudança repentina levou muitos a se questionarem sobre suas funções, convertendo o que antes era um símbolo de satisfação em um lugar de ansiedade e confusão. Ainda com a volta das aulas presenciais, a falta de ânimo e a sensação de esgotamento no ofício de ensinar persistiram, evidenciando que a saúde mental deve ser prioridade na política educacional e não apenas um tema passageiro de campanhas sazonais.

Embora tenha havido progresso no debate sobre saúde mental na educação, Ariane acredita que o assunto ainda é abordado de maneira superficial e esporádica. Segundo ela, é preciso instaurar políticas permanentes de cuidado que articulem o bem-estar dos professores ao dia a dia das instituições. Um exemplo é o trabalho realizado pelo Núcleo de Apoio e Atendimento Psicopedagógico (NAAP), que presta atendimento psicológico e psicopedagógico a professores, coordenadores e alunos, com o objetivo de tornar o acolhimento uma parte da cultura da instituição. De acordo com a especialista, iniciativas como a criação de espaços para escuta ativa, grupos de apoio emocional, treinamentos focados no autocuidado e a flexibilização da carga horária são estratégias eficientes para diminuir o estresse e fortalecer os laços. Além de evitar que as pessoas se afastem, essas iniciativas criam um senso de pertencimento, valorização e equilíbrio emocional.

Segundo Ariane Meneghetti, a saúde mental dos professores está diretamente relacionada às condições de trabalho, à valorização profissional e ao peso que a sociedade confere à educação. Conforme ele destaca, aceitar essa realidade é o primeiro passo para converter o cuidado em uma política e a empatia em ação.


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