vítima de feminicídio
Coincidência liga caso Ângela Diniz ao impeachment de Fernando Collor
Atuação do mesmo advogado conecta dois episódios marcantes da história do país
O lançamento da série “Ângela Diniz: Assassinada e Condenada”, da HBO Max, reacendeu o debate sobre o feminicídio que marcou os anos 1970. O caso voltou a ganhar atenção não apenas pela repercussão do crime, mas também por uma coincidência histórica pouco lembrada: o advogado que atuou como assistente de acusação no julgamento do assassino de Ângela também integrou a defesa do então presidente Fernando Collor de Mello durante o processo de impeachment.
Evaristo de Moraes Filho foi contratado pela família da socialite para acompanhar o julgamento de Raul Fernando do Amaral Street, o Doca Street. Anos depois, foi convocado por Collor para compor sua equipe de defesa no Senado. De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, o advogado recebeu menos de R$ 500 mil pelo trabalho — valor considerado modesto para uma causa de grande visibilidade.
O julgamento do assassinato de Ângela Diniz se tornou marco na discussão sobre violência de gênero no Brasil. No primeiro júri, Doca foi condenado a dois anos de prisão, após a defesa sustentar a tese da “legítima defesa da honra”. A reação de movimentos feministas e da sociedade levou a um novo julgamento, no qual o réu recebeu pena de 15 anos por homicídio doloso, embora tenha cumprido apenas três em regime fechado.
A tese da “legítima defesa da honra” permaneceu controversa por décadas, até ser considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal em 2021. Segundo o STF, o argumento viola princípios como dignidade humana, proteção à vida e igualdade de gênero.



