brasília
Governo aposta em Motta para reduzir influência de Arthur Lira na Câmara
Palácio do Planalto reorganiza base aliada para fortalecer presidente da Casa
O governo federal decidiu adiar a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) como parte de uma estratégia para reorganizar a base aliada e restabelecer o controle político na Câmara dos Deputados. A manobra busca dar tempo ao Planalto para fortalecer o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), e reduzir a influência do ex-presidente Arthur Lira (PP-AL), cuja relação com o Executivo se desgastou nos últimos meses.
Segundo integrantes da articulação política, o adiamento impede que o calendário de liberação de emendas seja antecipado, mantendo o poder de negociação nas mãos do governo. “Quando você aprova a LDO, carimba o calendário das emendas. Segurar a votação dá ao governo o controle do tempo e da pauta”, afirmou um dos articuladores do Planalto. As informações são do ICL Notícias.
Nos bastidores, auxiliares de Lula avaliam que o ambiente político na Câmara mudou. Deputados antes ligados ao Centrão teriam voltado a se aproximar do governo após a sinalização de que o presidente pretende retomar o comando direto das articulações, sem intermediários. “Quer estar comigo, janta comigo, tira foto comigo e volta comigo. Quem está comprado em Lula está com ação mais valorizada”, resumiu um aliado do presidente.
Embora reconheça o peso político de Arthur Lira, o Planalto considera que sua liderança perdeu força e utilidade prática. Hugo Motta, por outro lado, vem sendo visto como um interlocutor mais previsível e aberto ao diálogo institucional. Desde os episódios de invasão bolsonarista ao Congresso, assessores de Lula defendem que a Câmara precisa de um comando político firme e alinhado à estabilidade democrática.
A estratégia do governo é clara: pavimentar uma transição gradual de poder, diminuindo a dependência de Lira e consolidando Motta como novo articulador da base. A Casa Civil e o Ministério das Relações Institucionais têm calibrado a liberação de cargos e recursos regionais para atender demandas que passam diretamente pelo atual presidente da Câmara, enfraquecendo o grupo alagoano.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, já havia elogiado publicamente a condução de Motta e do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, durante o episódio em que a oposição tentou paralisar o Congresso. “Retomaram o comando das Casas, deixando claro que os interesses do país e do povo não podem ser submetidos às chantagens”, afirmou.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), também exaltou o papel de Motta no diálogo político, em discurso proferido em 8 de outubro, quando o Plenário discutia a medida provisória que compensava a faixa de isenção do Imposto de Renda. Segundo Guimarães, o paraibano “tem agido com responsabilidade e compromisso institucional”.
No Planalto, a aposta é que o fortalecimento de Hugo Motta garantirá estabilidade nas votações e reduzirá o custo político das negociações — que, sob o comando de Lira, se tornaram mais onerosas e imprevisíveis. A leitura é que a governabilidade depende de uma Câmara funcional e de um presidente comprometido com a estabilidade, não de uma relação de dependência com um único líder.
Para aliados do governo, a “era Lira” chegou ao fim. O momento é de transição para um novo ciclo, mais descentralizado, em que a sintonia entre Lula e Motta deve se tornar o eixo do equilíbrio político em Brasília. Como resume um interlocutor do Planalto: “O vento virou — e o governo voltou a ter influência no jogo”.



