caos em brasília
Lira é acionado em meio a crise entre Motta e Planalto sobre "Dosimetria"
Lula recorre ao ex-presidente da Câmara após Motta pautar projeto que reduz penas a golpistas
A articulação política do governo viveu seu momento mais crítico desde o início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após a aprovação do projeto de lei da Dosimetria — proposta que reduz penas de envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro e que beneficia o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em meio ao impasse, governistas chegaram a recorrer a Arthur Lira (PP-AL) na tentativa de reverter a votação conduzida pelo atual presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
A comparação com Lira, cuja relação com o Planalto sempre foi marcada por desconfiança, veio justamente pela percepção de que o ex-presidente da Câmara, ao menos, costumava avisar o governo quando pretendia pautar temas sensíveis ao Executivo. A condução de Motta, por outro lado, foi tratada como surpreendente e um rebaixamento no nível de diálogo com o Planalto.
Segundo interlocutores do governo, Motta não sinalizou em nenhum momento que levaria o PL da Dosimetria à votação — mesmo tendo se reunido na véspera com a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). A aprovação do texto, portanto, aumentou a tensão e abriu a possibilidade de veto por parte do presidente Lula, a depender da versão aprovada pelo Senado.
Durante a sessão, Gleisi Hoffmann manteve contato com Guimarães para avaliar as chances de adiamento. A base governista tentou negociar até os últimos minutos e buscou uma reunião com Motta em seu gabinete — sem sucesso. Os deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Renildo Calheiros (PCdoB-PE) então procuraram Arthur Lira, que pouco depois os acompanhou até a Mesa, onde Motta presidia a sessão.
As tentativas de acordo para ganhar tempo, incluindo pedidos para que outros projetos fossem votados antes, foram rejeitadas, e o governo acabou derrotado. O clima piorou após a retirada à força do deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) da cadeira da Presidência. O episódio gerou tumulto, relatos de agressões e acusações de abuso de autoridade contra Motta. A Mesa Diretora também restringiu o acesso ao plenário, expulsando jornalistas e assessores, o que inflamou ainda mais o ambiente.
Na retomada da sessão, parlamentares governistas fizeram discursos duros e inéditos contra o presidente da Câmara. O líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), foi direto: — Vossa excelência está perdendo as condições de seguir na presidência desta Casa.



