colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

E lá se foi Tia Nelba!

29/09/2021 - 15:47

ACESSIBILIDADE


O que o idoso tem de mais valioso em sua vida é um baú de recordações. Umas boas, outras ruins. Mas servem de julgamento às pessoas que com ele conviveram.

Nos idos de 1950, as jovens alagoanas que estudaram no velho Instituto de Educação eram selecionadas através de exames rigorosos e instruídas por professores catedráticos. Havia uma certa rixa com as meninas de colégios particulares, mas naquela época o ensino público era de boa qualidade.

Duas mocinhas de classe média estudavam na velha instituição do centro da cidade que, em 1957, foi transferida para o bairro do Farol e transformada em Colégio Estadual Moreira e Silva, passando a fazer parte do Cepa. Coincidentemente, as duas jovens começaram a namorar dois irmãos e com eles se casaram.

Por conta da profissão dos maridos, militares, viveram em vários lugares e terminaram se estabelecendo em Recife. A vida foi seguindo, os filhos aparecendo e os problemas surgindo. As duas jovens se tornaram senhoras, foram convivendo uma com a outra, desenvolvendo um bom relacionamento.

Os filhos foram crescendo e tendo uma criação interessante, porque as mães eram completamente diferentes. Todavia, como os pais das crianças eram muito unidos, foram passando o exemplo para os filhos, que se tornaram amigos de uma vida toda.

A distância não separou as duas mulheres. Elas se encontravam em diversas ocasiões e recebiam os sobrinhos com muito carinho. No Recife, meus filhos tinham uma pessoa querida, que sempre os recebia muito bem. Por outro lado, em qualquer estado do Brasil, os filhos da Tia Nelba tinham em nossa casa um lugar repleto de amor.
Já madura, ela resolveu cursar Psicologia na Universidade Católica de Pernambuco e passou a trabalhar com crianças especiais em Casa Amarela, no Recife. Lá ficou durante mais de vinte anos e adquiriu vasta experiência.
Os anos foram passando, os netos chegando e o amor crescendo. Como Nelba não possuía filhas mulheres, se apegou às minhas duas meninas, sempre as tratando com carinho, gentileza e muito cuidado.

Entretanto, não há só coisas boas na vida e os problemas foram aparecendo. Platão, marido de Nelba, militar e excelente professor de matemática da Universidade Católica de Pernambuco, adoeceu gravemente, falecendo aos 71 anos. Foi um choque terrível. A família sentiu uma grande lacuna com a ausência de um marido, pai, avô, irmão e cunhado da melhor qualidade. Lembro-me que na missa de sétimo dia, foi elogiado pelo reitor da PUC: “O professor Platão fundou o Curso de Administração de nossa universidade, ensinando Matemática Financeira, durante quarenta anos. Nunca faltou um dia, nem chegou atrasado às aulas”. Aproveitei a ocasião para mostrar aos filhos e netos o exemplo do meu cunhado querido.

Durante a doença do Platão que durou um ano, íamos ao Recife toda semana, prestar assistência ao casal.
Ficou viúva a Tia Nelba, virando uma mulher triste. O companheiro fazia falta demais e ela foi se trancando e administrando a perda do marido com apatia e muita dor.

Os três filhos de nossa cunhada cuidaram dela com muita dedicação. Seu filho mais novo morou com ela nesses últimos onze anos de viuvez.

De repente, nossa amiga adoeceu com um problema de apendicite, que infeccionou e a deixou vinte e tantos dias na UTI. Em 17 de setembro recebemos a notícia do seu falecimento.

A tristeza tomou conta de nossa família. Deus levou uma pessoa querida, que amparou nossos filhos, sendo para mim uma cunhada-irmã.

Que Ele a tenha em bom lugar!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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