colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Perder grandes amigos

31/03/2024 - 06:00

ACESSIBILIDADE


Vi, recentemente, uma linda história: uma senhora tinha uma grande amiga e, de repente, a criatura sumiu. Eram dez anos de sólida amizade, mas chegou ao fim sem motivo aparente. Cansou a pobre senhora de procurar a amiga e não conseguiu achá-la. Foi atrás então de seu mentor espiritual e recebeu a seguinte resposta: O motivo é dela. Faça outras amizades e entregue tudo a Deus.

Aos 12 anos conheci uma menina da minha idade, chamada Ana Maria. Fomos amigas durante setenta anos. Discordávamos em vários assuntos, inclusive políticos, mas nunca brigamos e ríamos juntas, chorávamos juntas. Só Deus nos separou, quando a levou para o céu.

Outra história interessante de duas amigas. Uma vivia bem, a outra lutava com dificuldades. A primeira tentou ajudar a segunda, dando-lhe teto para morar e poder complementar seus estudos. Inesperadamente, a que recebia as benesses sumiu. Sua benfeitora estranhou, mas “não passou recibo” e a amizade se desfez. Parece um filme policial!

Entre outras amizades desfeitas que conheço, existe a de duas irmãs que foram criadas com amor, com pais maravilhosos. O pai morreu, a mãe passou dos noventa, está viva. As duas mulheres se afastaram por questão de herança. Já têm filhos e netos, entretanto vivem afastadas. É de fazer pena para quem as conhece desde a tenra infância.

Nas grandes famílias as amizades se destroem e as pessoas que se amavam se afastam, negam um simples aperto de mão, “dão um tempo” aos irmãos. Não concordo com você, diz uma delas e esquece a irmã amiga de quem dizia gostar.

E as pessoas vão ficando velhas, vendo a morte por perto, perdendo o consolo, o apoio por motivos fúteis. Quem tem razão? Por que se afastaram se os pais fizeram tudo para que fossem unidos? Deve ser vaidade, poder, maus conselhos, falta de Deus em suas vidas.

Muito engraçado é a atitude dos descendentes: sobrinhos e sobrinhas que diziam gostar das tias, afastam-se e se esquecem dos bons momentos vividos em família. Outros tentam a reconciliação, ferindo a velha mãe. As questões vão se aprofundando e os entes queridos se dispersam.

De vez em quando, o velho pai aparece em sonho e pergunta irritado: “Esqueceram dos meus conselhos? Não se lembram do nosso lema: Unidos seremos fortes?” Ninguém escuta! Cada um leva sua vida isolado, mas sempre pensando nos outros. Até quando? O perdão não aparece, o orgulho é maior. Tudo nas mãos de Deus!

Vejo sempre a Missa de Aparecida às 18 horas e os temas insistentes nas semanas passadas foram a amizade e o perdão. Ouço atentamente as palavras do padre e penso comigo mesma: Perdoar, eu perdoo, mas conviver novamente é muito difícil. Será que isso é exercer o perdão?

Aí vem a reflexão: sou uma idosa feliz, meu marido e meus filhos gostam de mim, procuro ir à igreja, entender as leituras, aplicá-las em minha vida, tenho muitos amigos, luto por causas em que acredito.

Sempre soube através do modo como fui criada que, de toda experiência, devemos tirar o lado bom da história. Então vem o resultado negativo: conhecer dentre todos os parentes quem gosta da pessoa, quem fica com ela, quem lhe deu razão, quem não lhe deu razão, mas ficou ao lado dela.

Leitores amigos, a vida é cheia de altos e baixos, ganhos e perdas. Cabe a nós administrá-los e procurar o caminho do bem. Se perdermos um amigo, ganharemos outros.

E a vida continua...

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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