colunista

Alari Romariz

Alari Romariz atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa de Alagoas e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Viva a vida!

21/04/2024 - 06:00

ACESSIBILIDADE


Quando criança, não temos ideia do que é a vida. Os mais velhos nos protegem, nos orientam e nos mostram o bom caminho. Na adolescência, somos audaciosos e pensamos saber de tudo. Ouvir conselhos de mais velhos vira piada para os jovens. Já ouvi de alguns: “Seu tempo passou, meu velho; tudo mudou”. Entretanto, apesar da tecnologia e dos avanços, a vida continua com altos e baixos.

Certa feita, ouvi de uma filha muito inteligente e sabida: “Mãe, deixe-me quebrar a cabeça e aprender com o mundo”. Ela tinha doze anos. E eu respondi: Você não é filha de chocadeira, tem pais vivos. Hoje, é uma mulher de sessenta anos, com três filhos, trabalhadora, mas, de vez em quando, precisa de colo.

Convivemos com idosos, mais velhos ou mais novos, e vemos netos comandando a vida dos avós. A primeira atitude é tomar o cartão do banco do pobre coitado e assumir as despesas da casa dele. Até comprar carro, tirar empréstimo consignado e, em alguns casos, tomar a casa do velhinho. E ele, o idoso, só faz reclamar; não decide nada. Tem medo do neto. Inseguro, chora e vai morrendo aos poucos!

Recentemente, um filho tomou o apartamento da mãe. O imóvel estava alugado e a coitada preparou-se para voltar à antiga moradia. Ousado, o filho respondeu: “Já estou morando lá, com minha família”. Choros, lágrimas, e a mãe foi morar numa casa alugada, cheia d’água da chuva. O que nos conforta é saber que, se não morrer, o filho ficará velho.

Uma amiga querida me contou que passou, em vida, todos os bens para os filhos. Que susto! Se ela estava viva, onde iria morar? Tempos depois, foi residir com uma filha. O genro e os netos não suportavam o barulho das pedras de dominó da idosa. Colocaram-na num asilo, pago com a sua pensão. “Quem dá o que tem, a pedir vem”!

Nossa maior preocupação com a velhice é precisar sair da nossa casa e ficar dependendo dos mais jovens. Eles são muito ocupados, correm muito, não têm paciência com os problemas dos velhinhos.

A segurança emocional passa pelo equilíbrio nas finanças. Trabalhamos durante trinta, quarenta anos, e a aposentadoria nos dá o direito de viver bem, com certa tranquilidade.

Plano de saúde para pessoas com mais de sessenta anos é caro e lento. Uma consulta, um exame, nem sempre são liberados a tempo. Vez em quando, é preciso pagar o exame pedido pelo médico para voltar à consulta. Não adianta termos pago ao plano de saúde por mais de vinte anos. Nem sempre nossos pedidos são atendidos. Ainda acontece de a requisição do plano vir errada. Outro motivo para pagar a consulta.

Imaginem vocês como sofrem os usuários do SUS – Sistema Único de Saúde. É só ouvir os noticiários para perceber centenas de reclamações. Pacientes com câncer esperando numa fila interminável pela quimioterapia. E outros problemas piores!

Para se sentir segura emocionalmente, a criatura que trabalhou durante anos para assegurar seu futuro ainda luta para ter seus direitos à assistência paga ao longo da vida.

Envelhecer com lucidez é bem difícil! A demência e outras doenças “que nos tiram do ar” e nos deixam nas mãos das cuidadoras são bem frequentes. Já perdi amigos e amigas vítimas de tais moléstias, que não sabem nem como se chamam.

Então, amigos e amigas, aqueles que estão vivos, lúcidos, podem viver em suas casas, ajoelhem-se e agradeçam a Deus. Os que podem responder ao filho: “Sim, entendi o que quis dizer”, também rezem! Na velhice, o melhor lugar é a sua própria casa! Viva a vida!banner

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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