Estou ficando velha
Quando digo que estou ficando velha aos oitenta e quatro anos, meus filhos se divertem. Um deles pergunta: “Mãe, ainda está ficando velha?”
Todos os dias agradeço a Deus por ter permitido que não perdesse a lucidez, embora a saúde seja pequena. Minha memória é fértil, lembro-me de fatos antigos e atuais. Conduzo minha casa com alegria e nitidez.
Já tenho netos e bisnetos, alguns já formados e procuro sempre saber o que eles fazem da vida. Tento ajudar como posso.
Aposentei-me da Assembleia Legislativa, não trabalho no “Velho Sindicato”, mas escrevo meus artigos semanais e procuro atualizar-me com as notícias do Brasil e do mundo.
Apesar de tudo isso, ando mais devagar, enxergo pouco e acompanham-me vários médicos. Alguns amigos estão indo embora e sinto que estou na fila. Quando irei para o céu, com certeza, não sei.
Vejo então, alguns quase idosos, falando mal dos mais velhos, zombando do esquecimento, falando em renovação de um projeto do qual participaram. E eles dizem: “Tudo vai ser novo, vamos mudar tudo”. Morro de rir, vendo os pobres coitados sonhando com o impossível numa casa viciada, onde os dirigentes usam e abusam do direito de errar.
Os processos se acumulam pelo simples pedido de receber férias. Nada segue o ritmo legal, a começar pelas promoções. A Casa de Tavares Bastos é campeã em processos na Justiça. Para mudar tudo isso seria preciso fazer uma nova Constituição.
É, pois, engraçado quando vejo alguns quase idosos vindos do “Velho Sindicato”, pretendendo mudança total. A luta precisa continuar, a Justiça deve ser acionada e o diálogo com a Mesa Diretora precisa ser mantido, apesar dos pesares.
Afastei-me da vida sindical não pela idade, mas pelo cansaço. Passei a bola para outras pessoas engajadas em tão árdua tarefa. Digo que hoje sou “assessora para assuntos resolvidos”. Do alto dos meus oitenta e quatro anos vejo, de longe, com nitidez, o que acontece no Legislativo e mostro tudo aos jovens dirigentes sindicais.
Tivemos uma perda irreparável em 2025. Deus levou Zilneide, minha filha na vida profissional, que deu tudo de si pela luta sindical. Foi embora aos 58 anos, quando ainda tinha muito a contribuir.
Na vida pessoal não tenho o que reclamar. Sou casada desde 1963, isto é, sessenta e dois anos de união com um homem só. Coisa rara no momento atual. Tenho quatro filhos, onze netos e cinco bisnetos. Todos me respeitam e reconhecem minha lucidez. “Apesar de velhinha, vovó é sabida”, dizem eles. Ainda vou às festas de netos e bisnetos; divirto-me com as novidades.
Meus netos estão distribuídos pelo mundo todo: Portugal, Inglaterra e Estados Unidos. Ainda faço planos para visitá-los. Tudo nas mãos de Deus.
Para me manter viva, tomo remédios, visito meus médicos, faço meus exercícios. Graças a Deus tenho um bom plano de saúde e poderia ter dois: um do Exército Brasileiro e outro da Assembleia Legislativa. Alagoas tem bons médicos, bons hospitais e não preciso sair daqui para me cuidar.
Somos um casal idoso, eu e meu marido, que sempre trabalhou, criou os filhos com rigidez, amor e carinho. Hoje, filhos e filhas nos acompanham, não nos deixam sós.
Gostaria de lembrar aos quase idosos que temos uma colega, oitenta mais, dirigindo com maestria o Sindicato dos Aposentados da Assembleia. A ela nossos respeitos pela dignidade que demonstra em sua velhice.
Nossa esperança é que a Mesa Diretora mude de atitude: pague as férias, conceda reajustes melhores, promova os servidores de acordo com a lei. Seria bom demais!
Então, meus amigos, sou ou não sou uma mulher feliz? Cheguei a essa idade, lúcida, sabendo quem sou, lutando pela categoria sem precisar de cargos.
Daí a minha insistência: não sou velha; estou ficando velha!
Viva a vida!
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA