colunista

Alari Romariz

Atuou por vários anos no Sindicato dos Servidores da Assembleia Legislativa e ganhou notoriedade ao denunciar esquemas de corrupção na folha de pagamento da casa em 1986

Conteúdo Opinativo

Injustiças sociais

14/06/2025 - 06:00
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Comecei a trabalhar muito cedo. Com doze anos estudava pela manhã e, no segundo horário, ia com meu pai para o seu escritório de contabilidade. Aprendi muita coisa e comecei a gostar de matemática. Abri os olhos para a vida! Com dezoito anos fui contratada pela Assembleia Legislativa de Alagoas na condição de interina. Fiz concurso público e tive um bom desempenho. No entanto, a Mesa Diretora me nomeou para outro cargo, ou seja, Auxiliar de Bibliotecária. Como era jovem, sabida e estudiosa, era sempre chamada para trabalhar na elaboração do Orçamento anual, integrando uma equipe chefiada por Luiz Ferreira Pinto, contador-geral do Estado. Na época dos reajustes, eu era convocada para elaborar os cálculos sigilosos. A Assembleia vivia um bom momento: os servidores eram respeitados, os reajustes eram justos, tínhamos apostilas com nossos direitos, e os dirigentes não eram vaidosos. Conversávamos com todos eles, e não precisávamos recorrer à Justiça para obter nossos direitos funcionais.

O tempo foi passando, o Legislativo foi crescendo e o duodécimo passou a ser administrado pela Mesa Diretora. As nomeações passaram a ser feitas sem controle, e o Poder chegou a ter cinco mil servidores ativos. O governo do Estado repassava o duodécimo sempre em valor maior. Não havia controle de nenhum dos dois lados.

Em 1989 foi aprovada a Constituição Estadual e conseguimos organizar o nosso Sindicato. A partir daí, as Mesas Diretoras começaram a perseguir os servidores que reclamavam seus direitos na Justiça. Fui rebaixada porque organizava grupos de funcionários para reivindicarem direitos adquiridos. A luta foi grande, até que um presidente do Legislativo, humano e generoso, corrigiu meu salário — mas, infelizmente, não me reintegrou ao cargo de auditora, função que assumi por ter formação universitária em Economia.

O Sindicato iniciou suas lutas pelos direitos dos servidores. Com o Imposto Sindical, conseguimos construir nossa sede, a sede do nosso plano de saúde — a Copamedh — e o Clube Legislativo. O patrimônio da entidade foi edificado com o dinheiro da categoria.

Os dirigentes da época respeitavam o “Velho Sindicato”, que não quis se tornar “novo”. Conversávamos com o presidente do Legislativo sem cerimônia. Passamos por uma fase difícil com dirigentes vaidosos, mas superávamos os problemas. Alguns erros cometidos pela Mesa Diretora daquele período eram corrigidos administrativamente. Quando ela descobriu que a Justiça era lenta, tudo passou a ser resolvido judicialmente. Ainda hoje surgem processos de 1985. Muitas das pessoas beneficiadas já faleceram.

Recentemente, descobri que meu salário estava sendo calculado de maneira errada, sem observar uma Emenda Constitucional que rege o assunto. O salário diminuía mês a mês, e eu não entendia a razão. Procurei um funcionário do Departamento de Pessoal, e ele me respondeu: “A senhora não pode subir mais” — e sorriu! Pedi a cópia da Emenda Constitucional que me penalizava. Estudei o documento, procurei pessoas da área jurídica e cheguei à conclusão de que o sorridente colega “congelou” o teto constitucional e aumentou o redutor constitucional. Eu iria ficar sem salário!

Consegui falar com o diretor do Departamento de Pessoal no dia 10 de junho. Fui recebida de forma fria, porém educada. Entreguei a ele um documento elaborado por mim, contendo todas as minhas perdas. Ao fim da reunião, ele me disse que iria conversar com o procurador e analisar o caso.

Na minha sublime inocência, não quero acreditar que houve má-fé por parte do colega do Departamento de Pessoal. Acredito que ele não soube interpretar a lei e não buscou ajuda. Se eu não fosse uma pessoa esclarecida e confiasse apenas nas palavras do moço sorridente, aonde iria parar? Só Deus na causa!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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