A saúde do militar idoso
Desde menina sempre me tratei pela Patronal. Meu pai era fiscal do IAPI e nós tínhamos um bom plano de saúde. Íamos a médicos e dentistas. Com quase quinze anos, fiz uma operação de apêndice, fui atendida na Santa Casa de Misericórdia com as despesas cobertas pela antiga Patronal. Depois de casada com um militar, perdi o direito ao plano de saúde. O parto de minha primeira filha foi pago por nós, pais. Passados alguns anos, o Exército passou a ter um plano de saúde. O Fusex. Os militares descontavam em seus salários os valores referentes ao novo direito adquirido. Nas cidades onde havia hospital militar, as consultas e exames eram feitos por lá. A não ser quando não havia alguma especialidade naquele hospital.
Nosso plano de saúde chegou a ter convênio com a Unimed. Era bom demais. Chegamos a ter carteirinha, íamos às consultas e realizávamos os exames sem precisar comparecer à sede do plano. Como alegria de pobre dura pouco, tudo virou de cabeça para baixo. No momento atual, se o conveniado precisa de qualquer atendimento, é uma loucura. Primeiro tem que marcar um dia para ser atendido e dizer o que está precisando. Isto demora mais ou menos trinta dias. Os pedidos ficam no plano por mais um ou dois meses. Depois a criatura é chamada para receber a notícia da falta de verba. Diz o atendente: “Só tem dinheiro para consulta. Exame fica no aguardo”.
Como fui servidora pública e entendo o mecanismo dos planos de saúde e o militar desconta todo mês um determinado valor para ter direito à assistência médica, fico pensando: para onde vai tanto dinheiro? As autoridades locais só sabem dizer que a verba recebida foi pouca. É preciso esperar o mês seguinte. A verba vem do salário dos militares; tem que voltar toda. Não é verba do governo! Resultado: se o médico está marcado e precisamos fazer os exames, só há uma saída: pagar do próprio bolso. No presente mês gastamos, eu e meu marido, mais de dois mil reais de consultas e exames. Se formos pedir restituição, os atendentes argumentam que não temos direito, pois o plano cobria o procedimento. Insistir com requerimentos, é perda de tempo.
Um amigo nosso, falecido, que foi general, dizia que o governo federal não repassa as verbas do Exército na sua totalidade; sempre faltava algo ou ia para outro lugar. Insisto: o dinheiro que os militares descontam para o Fusex sai do salário deles. Deve voltar. Na hora de ir ao médico ou fazer exames, se o plano não cobrir, poucos têm como pagar. Ouvi de uma mãe na fila do plano: “Desde dezembro de 2024, há três meses, solicito um exame de ouvido para meu filho; o médico teve pena de mim e realizou o procedimento, pois a criança sofria muito. Só no dia dez de março levei a autorização”.
E por falar em médicos, alguns estão saindo do Fusex. Perguntei a um deles por que saiu. Resposta: “Demora muito a pagar. Perdi a paciência!” Uma tática usada pelos conveniados é ir à emergência. Qualquer dorzinha, corre para lá. Assim mesmo, já passei uma vergonha. Tive uma forte dor na perna, fui à emergência e a recepcionista me disse: “O Fusex está suspenso”. Para ser atendida particularmente, precisava deixar uma quantia alta. Desisti e saí estressada. Eu e meu marido temos oitenta e quatro anos, não podemos ir para outro plano. Estamos sofrendo com o atendimento feito por pessoas inexperientes que não entendem o mecanismo financeiro da instituição. Entregam a ficha e mandam o pobre velho esperar. Para falar com alguém mais esclarecido é difícil. Meu marido conseguiu e obteve a mesma resposta: falta de verba.
De quem é a culpa? Do governo federal que não repassa as verbas? Dos administradores do plano que não reclamam o repasse da verba descontada? Alagoas está sofrendo com a deficiência da assistência médica do Fusex. Quem ajuda? Só Deus?
É conveniada do Fusex
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA