A maldição do ex
Talvez o título seja exagerado, hiperbólico. Ser ex nem sempre é uma maldição, mas uma benção, um benefício. Vejam o Lula, por exemplo. Foi ex-presidente, e manteve o prestígio junto à sua curriola. É ex-presidiário, e sua turma permaneceu junto a ele, ouvindo-o, seguindo-o e defendendo-o. Candidatou-se novamente a presidente da República, e logrou ganhar o pleito, apesar de concorrer com o antecessor com todos os poderes que acompanham o cargo por ele na oportunidade ocupado.
Seus apoiadores não diminuíram; ao contrário, aumentaram. E hoje ele está sobranceiro, sentado na curul de presidente do país, mandando e desmandando, recebendo apoiamentos de políticos que no pleito passado viravam-lhe as costas. Apesar da parlapatice de sempre, e como disse no passado, jamais ter lido um livro, vem se mantendo no poder com razoável desempenho.
Outros presidentes continuaram a manter prestígio social e político após deixarem o cargo. Michel Temer e Fernando Henrique Cardoso são exemplos mais recentes. Principalmente FHC. Mas ambos são intelectuais respeitados, e fizeram um governo sem grandes constrangimentos. Fernando Henrique, mesmo antes de assumir a presidência como candidato da situação, trouxe-nos o Plano Real, além de matar o dragão da inflação. O seu sucesso em nos dar uma economia mais sólida tornou-o inesquecido por seus admiradores e, até mesmo, por aqueles que não lhe têm admiração. Ademais, até hoje é referência política sempre citado.
Bolsonaro não se enquadra nesse cenário de presidentes bem-sucedidos e que continuam a manter o seu cabedal político, principalmente entre os seus apoiadores. É duvidoso, também, que ainda conserve o mesmo nível eleitoral. Como outros, é provável que quando muito, se pudesse candidatar-se a algum cargo eletivo, fosse eleito em seu domicílio eleitoral. Mas até isso hoje é duvidoso. Falta-lhe jogo de cintura, e sequer de melifluidade. É carente, também, de qualquer lustro, o que depõe contra si.
O fato é que vem perdendo, como referido acima, apoiadores, inclusive entre os políticos do seu próprio partido, o PL. Ainda assim, quer mandar como se ainda conservasse alguma sombra de poder. O seu aparecimento público é sempre cercado de ridículo, mas pleno de negativismo. Escapa disso apenas nas redes sociais dos seus admiradores, que parecem ter sofrido lavagem cerebral. O presidente do seu partido, o notório Valdemar da Costa Neto, esforça-se, em suas eventuais entrevistas, em propalar uma sua boa recepção entre os correligionários.
Não pode esconder, porém, que o governo atual vem catequisando apoio entre os seus. Desesperado e raivoso, o ex-presidente bate boca em reunião partidária, o que em nada o auxilia a conquistar o poder de antes, e mesmo que o presidente da sua agremiação tente mostrar confiança, ainda assim nota-se certa preocupação com o avanço de Lula sobre o PL.
Para Bolsonaro, então, a condição de ex foi uma maldição que talvez o mande para o ostracismo permanente.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA