Li em outra oportunidade ser a Natureza uma das manifestações de Deus. Desde então, rememorando a admiração que tenho pela Natureza, acredito com muita dose de certeza nisso. Acho que por isso, por ser uma manifestação de Deus, a Natureza é tão admirada por todos, mesmo por aquelas pessoas que fingem não ter o menor interesse por ela.

Vivemos hoje em um mundo em que a democracia, sempre discutida e pesquisada, vem sofrendo algumas barbeiragens, como a do presidente Lula, para quem essa forma de governo é relativa. Essas elucubrações malucas não me atraem, a mim que sou um democrata de carteirinha, educado que assim fui desde a mais tenra idade. Tocou-me, porém, esta semana, um fato natural, para alguns apenas outra das curiosidades da vida: a Lua azul. Não consegui apreciar o fenômeno, hospitalizado que estava.

Mas na televisão vi a presença numerosa de pessoas na orla marinha de Maceió. Pessoas de todos os credos, raça, cor, condição social, etc, circunstâncias que a decantada democracia partidária, isto é, aquela exercida pelos nossos laboriosos políticos que eles mesmos não conseguem imprimir, ou disso não têm maior interesse, a não ser aquele manifestado nos pleitos eleitorais. 

Na boca da noite – gosto dessa expressão antiga – vi pelas emissoras de todos os lugares, o povo, o genuíno, reunido à espera do surgimento no horizonte do nosso satélite. Ao par disso, mais uma vez os repórteres explicavam o fenômeno, como se todos estivéssemos querendo dele saber em maior ou menor profundidade, pois naquele instante, creio, as pessoas pretendiam apenas ver o astro, que por sinal veio bastante iluminado, espargindo sua branca luz sobre todos, independentemente do gênero fossem namorados, amantes ou “ficantes”, jovens ou idosos, tão desimportantes são tais condições. 

Como já vi muitas luas azuis (sempre brancas), não pude ver mais essa porque as paredes do hospital me impediram. Chorei, para gáudio da minha esposa, sempre ávida de demonstrar mais e mais o seu carinho e desvelo. Não vi a Lua, mas senti minha mulher pousar a cabeça no meu ombro, e “catar-me um cafuné”.

Não é sobre essa cena tocante que me dispus a escrever, mas à demonstração de quanto a Natureza é democrática, a todos distribuindo igualmente a sua beleza. E como em uma sociedade democrática é sempre feliz, as pessoas riam, confraternizavam, comentavam, aventavam hipóteses, todos esquecidos das agruras do dia a dia. Vendo a cena na chamada “telinha” pus-me a pensar na sensação democrática. Não sei se algum político estivera lá, mesmo por puro oportunismo. 

Difícil imaginar, porquanto as eleições próximas ainda estão um pouco distantes e, como dizem os nossos representantes políticos, a memória do povo é curta, ou volúvel, como na ópera de Verdi, La Donna è Mobile.
Na verdade, não importa, pois o fundamental mesmo é que a Natureza propiciou a todos um momento, mesmo que breve, de congraçamento democrático.