colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Vida de gado, povo feliz

08/08/2021 - 10:50
Atualização: 23/03/2024 - 10:56

ACESSIBILIDADE


O magnifico Gilberto Gil há algumas décadas, compôs uma ode ao Rio de Janeiro, que na sua primeira estrofe já bem definia a beleza da cidade: “o Rio de Janeiro continua lindo”. E permanece. É sem dúvida uma das mais belas paisagens do mundo, cantada e prosa e verso por uma multidão de poetas, compositores, escritores, artistas.

O lado beleza da terra carioca sempre conviveu desde os primórdios com sua outra face mais, digamos assim, cinzenta. Da corrupção deslavada que foi sendo “refinada” desde sua fundação, passando pelo reinado português, o império, a primeira república, pelas ditaduras Varguista e militar e agora, pela nova república (a partir de 1985).

O processo foi se “refinando” de forma tal que o esgarçamento do seu tecido político atualmente no seu “apogeu” quase já inviabilizou o Estado que foi apropriado pelos estamentos estatais nos seus três níveis, executivo, judiciário e legislativo, que concorrem renhidamente para ver quem suplanta o outro em termos de corrupção, indecência e desmoronamento moral.

O Rio é o “professor” do modelo de escárnio, menoscabo, indiferença e corrupção que campeia por todo o resto do país. A presença por séculos do poder central nas terras cariocas é, sem dúvida, a razão principal para a dissipação da forma de se governar.

Fui trabalhar em Brasília, a nova capital federal, em 1980, portanto, quando a cidade iniciava a sua adolescência e tinha uma população total na casa do um milhão de habitantes, dos quais cerca de 150 mil residiam no plano piloto, onde se situa o poder central.

Portanto, uma cidade iniciante, quase interiorana (em relação à população residente no plano) que trabalhava basicamente para o Governo Federal ou do Distrito Federal. Não é exagero dizer que quase todos se conheciam.

Era o final dos anos ditatoriais, havia, portanto, a censura como elemento presente na vida cotidiana de todos, o que certamente reduzia em muito a circulação de informações sobre casos de corrupção. Que sempre houve. Não no grau de descaramento atual.

Mas quem viveu os primórdios da cidade sabia que todas – eu disse todas – as fortunas amealhadas na época da construção da capital tinha origem fraudulenta. O High Society Braziliense já era tão corrupto quanto o do Rio de Janeiro da época.

A chegada dos estamentos superiores do Poder Brasileiro a Brasília (poder executivo federal, tribunais superiores e poder legislativo federal) trouxe consigo para a cidade nascente, o “modus operandi” caviloso de suas excelências e do séquito de funcionários que os acompanharam vindos da ex Capital Federal, o Rio de Janeiro.

Até o final da ditadura, a coisa ainda andou sobre certo controle, mas a partir da nova república (1985), a corrupção foi tomando um grau endêmico tal, que o descaramento de suas excelências nos três níveis de governo faria corar até o ladrão de banco.

O “pico da evolução” (sic) da bandalha nacional ocorreu nos governos petistas que não apenas roubaram tudo que estava ao seu alcance, como tentaram – e quase conseguiram – conspurcar valores caros aos brasileiros, ao tentar impor de forma ostensiva o desprezo por valores morais e códigos éticos que regem a maioria da nossa sociedade, além de se associar ao que de pior existe na política brasileira, reabilitar inúmeras figuras do submundo político, e fazendo adentrar outros, inclusive oriundos do crime organizado.

Bolsonaro – apesar de seu discurso de radical de direita - veio eleito como esperança para dar um “cavalo de pau” na esculhambação que havia tomado conta de vez do país. Não é preciso dizer que foi a maior frustração do eleitorado brasileiro.

Seu desgoverno canibalizou o pouco que ainda tinha de funcional no governo federal; Incompetente, foi incapaz de realizar as reformas urgentíssimas que o país demanda, ou de realizar qualquer obra de porte (estamos à beira de outro apagão elétrico e ele em negacionismo); Criminoso nas suas ações na pandemia da COVID-19 que nos colocou como párias perante o mundo e que já matou 600 mil brasileiros, ele não se dá por satisfeito.

Politicamente, desde o primeiro dia de mandato se colocou como golpista, um incapaz de entender o bê-a-bá das relações políticas. E, por fim, encalacrado na sua improficiência e criminalidade, busca tentar evitar seu impeachment recrutando a fina flor da gatunagem política – o Centrão - e a eles entregou a chave do cofre.

Agora, além da incompetência jumental de seu governo, vamos ter que conviver com as raposas tomando conta do galinheiro e os ratos de segunda linha roendo as migalhas que lhes serão jogadas “benevolamente” pelos celerados, fruto do repasto do Orçamento da Nação que eles já se apropriaram, e dos recursos dos órgãos com maior poder financeiro que também já estão em mãos do Centrão.

Ah! Sim! Se o leitor acha que vai poder mandar esses calhordas para casa na próxima eleição, pode ir tirando o cavalinho da chuva. Bolsonaro e Lula a bordo de suas brutais rejeições não querem que surja nenhuma candidatura de centro, a única forma de um deles de eleger.

E mais, a câmara dos deputados está preparando a dedo mais uma “reforma eleitoral”. Se passar, o que antes era quase impossível para quem não for da patota, ou que tenha vendido a alma aos safados, agora tornar-se-á literalmente, impossível sair candidato com viabilidade.

Povo marcado, povo feliz. Ah, essa vida de gado!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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