colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Um balanço da carta aberta preventiva à venda da Braskem

13/02/2022 - 07:30

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Afrânio Bastos
Imagem da região afetada pela mineração de sal-gema da Braskem
Imagem da região afetada pela mineração de sal-gema da Braskem

Quando a sociedade se rebela em reação à anomia e/ou prevaricação das autoridades, é sinal claro da falência do pacto político vigente e do esgarçamento moral dos que estão no poder. Ao avocar para si, premida pelas circunstâncias, o papel de protagonista, a população desnuda o vácuo existente entre ela e seus delegados e sinaliza a necessidade de mudanças. De pessoas e procedimentos. 

Alagoas está nesta etapa. Não vê quem não quer. O senso comum da delegação da política aos políticos e das questões públicas aos gestores públicos recentemente foi contestado em Maceió, pelas razões elencadas acima. A sociedade se viu obrigada a lançar uma carta aberta preventiva à venda da Braskem, endereçada aos cidadãos de Alagoas, à Bolsa de Valores (B3), à CVM (que já abriu processo administrativo para averiguar as denúncias à bolsa de New York e à SEC (a CVM americana) e aos investidores.

A ideia era alertá-los sobre o megapassivo de Maceió – pouco conhecido – decorrente do megadesastre ambiental que a Braskem provocou na cidade e que os atuais controladores estariam deixando para trás após sua venda. A carta provocou enorme repercussão entre os alagoanos e a atenção da mídia nacional e de sites especializados em finanças, le[ando à suspensão da transação prevista para 31/01. Uma enorme vitória para Maceió e da cidadania! Na quarta-feira, dia 9/2, o site especializado Scoop by Mover, que abriga a maior comunidade de investidores da América latina, informou que a empresa está estudando transferir a venda para o segundo semestre.

Outro ponto para o movimento. Sinal de que o “rolo compressor” da empresa em relação a Maceió foi obstado. A Braskem precisa negociar os prejuízos de Maceió antes da próxima rodada de vendas, para não correr novo risco de fracasso. Este é um desses momentos em que se avalia que, a despeito de tudo, a frase da socióloga Margaret Mead nunca se fez mais atual: “Nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo”, ou uma situação qualquer... Os governantes locais que nos últimos 4 anos se esmeraram em se omitir do protagonismo em defesa de solução dos interesses de Maceió e dos refugiados ambientais no caso do megadesastre ambiental, e que há quase 5 décadas nada fizeram para relocalizar a planta industrial da Braskem de dentro da cidade, de onde ameaça centena de milhares de pessoas, agora terão que enfrentar, queiram ou não, esses temas. 

A carta desnudou suas anomias e trouxe de volta ao palco as novas e velhas suspeitas de corrupção no trato com a empresa. Os cidadãos estão preparados para lidar diuturnamente com a questão neste ano eleitoral até a solução dos dois passivos: o de Maceió (relocalização da planta industrial e indenização dos prejuízos do megadesastre; e o dos refugiados ambientais). Não é demais lembrar que, maior a demora, maior será o desgaste político e da empresa. A pressa agora mudou de lado. 

A sociedade de Maceió agora sabe e não mais está disposta a engolir lorotas, discursos vazios e desculpas rasas ou esfarrapadas de políticos. Tampouco comunicados tergiversantes esculpidos milimetricamente com intuitos diversionistas. Nem entrará em barganhas criminosas. Daqui em diante desmentirá qualquer fake. De autoridades ou da empresa. E exige participar das negociações. Por mais lisura e transparência no processo negocial. E quer Maceió de volta, depois do sítio da Braskem.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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