colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Uma fábula ESG

10/07/2022 - 08:32

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Extra/Arquivo
Braskem em Maceió
Braskem em Maceió

Era uma vez um país de terceiro mundo, corrupto, governado por gente despreparada e com uma elite corporativa atrasada e insensível socialmente que se achava o ó do borogodó, o suprassumo do empresariado global, mas não passava de copiões mal ajambrados de iniciativas globais modernizantes que por lá sempre chegavam com anos de atraso e eram “adaptadas” para pior à realidade local de atraso, subdesenvolvimento e ao famoso “jeitinho” do país que nada mais era que incompetência técnica e gerencial superior à media global, que os coloca sempre mal posicionados nos principais índices corporativos mundiais.

No empresariado, um setor se destaca ainda mais negativamente por seu modelo predatório dominado por megas corporações globais: o minerador. Tido como um dos mais retrógados do mundo por sua política de terra arrasada onde operam, eis que uma dessas mega estruturas desenhadas para explorar maximamente as riquezas minerais de países do terceiro mundo se destacou ainda mais pelo megadesastre que provocou numa das capitais do país, provocando um prejuízo que se aproxima dos 20 bilhões do dinheiro local, sem que até agora se tenha notícia de que tenha sequer iniciado conversas para pagar o grosso da dívida. 

Essa empresa, que durante toda a exploração mineral no estado do megadesastre viu aquela unidade da federação, uma das mais pobres e atrasadas do país, se tornar ainda mais pobre e subdesenvolvida com seus principais índices retroagindo fortemente nos últimos 20 anos (PIB REAL = - 46%, renda média per capta domiciliar = - 66%, dentre outros), enquanto ela passava de uma empresa de porte regional para ser uma das gigantes do seu setor no mundo, na mais clara comprovação do modelo invertido que a mineração proporciona: à empresa tudo ao estado e seu povo menos que nada. 

Pois bem, essa empresa que arrebentou com a capital do estado, viu o que já era ruim na economia local se tornar uma tragédia enquanto ela surfava em lucros bilionários crescentes, resolveu que mesmo nessas condições, ela se tornaria uma das campeãs ESG do mundo. 

ESG é a última moda que grandes consultorias globais encontraram para ganhar dinheiro à custa das empresas (já houveram antes vários outros índices). ESG, é bom relembrar, é a sigla em inglês que significa boas práticas em termos de sustentabilidade ambiental, visão social e governança corporativa. É o índice da moda. Que ajuda a capturar investimentos e a abrir portas nos mercados nacional e internacional. E dá prestígio a quem detém a láurea “vendida” por alguma importante consultoria. 

Pois bem, a empresa em tela mesmo com tamanha bagagem negativa nas costas e ainda mais sendo uma das maiores fabricantes de resinas termoplásticas do mundo, aparece com um título ESG dado, segundo ela, por uma organização ligada à ONU (não é à toa que essa entidade virou pó em termos de credibilidade no mundo) e exibe tal título juntamente com textos esculpidos para tergiversar sobre a sua real situação na cidade que ela semi destruiu, no estado que ela ajudou a afundar com fakes de que estava promovendo seu desenvolvimento!

Mentiras destruídas por dados constantes no livro Rasgando a Cortina de Silêncios. Nesse país de mentirinha é bem capaz da empresa agora partir para pedir ressarcimento pelos prejuízos que causou e vem causando. Afinal estamos na terra onde tudo é possível, inclusive nada. A justiça local que o diga.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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