colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

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O PT ganhou, mas perdeu

03/10/2022 - 05:31

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© Ricardo Stucker / Instituto Lula / Reuters
Lula e Bolsonaro
Lula e Bolsonaro

No sábado, vésperas da eleição, o Datafolha indicava que Lula teria 50% dos votos e Bolsonaro, 37% e o IPEC foi ainda mais longe e cravou Lua 51%, Bolsonaro, 37%. E o que se viu de verdade, foi mais um escândalo dos principais institutos nacionais de pesquisa que erraram feio, de novo. Aliás, vinham errando desde o inicio da campanha pró Lula.

Qualquer leigo estava vendo que os números das pesquisas não batiam com a realidade do movimento de gente que o presidente da República atraia em cada aparição pública, culminando com as gigantes manifestações Brasil afora no dia da independência que contaram com a sua presença. Mas eles, institutos, continuaram a forcar a barra até às vésperas da eleição.

Até que, abertas as urnas, lá estava Bolsonaro vencendo no Sul, no Sudeste, no Centro Oeste e Norte, perdendo apenas no Nordeste dos coronéis do atraso da política nacional. Ainda assim por uma diferença quase 50% menos que a de anos anteriores. Votos que elegeram exponencialmente senadores do seu grupo político e/ou associados e formataram uma câmara dos deputados francamente favorável ao bolsonarismo.

Os petistas via-se isso nas caras de preocupação e perplexidade de Lula e Haddad as duas principais estrelas do partido nessa eleição, com os números colhidos das urnas pelo bolsonarismo e que os institutos de pesquisas esconderam da Nação em todos os prognósticos realizados durante a campanha, até às vésperas da eleição. E isso aconteceu praticamente em todos principais colégios eleitorais, com números sempre a favor do PT e que as urnas se encarregaram de desmentir.

Para o advogado, geógrafo e CEO da Geocracia, Luiz Ugeda, as pesquisas foram as “grandes perdedoras” da eleição. “Elas não captaram um conjunto de eventos que, quando vemos de forma estruturada, chamam a atenção. Essas instituições devem fazer uma autocrítica para que os brasileiros tenham informações confiáveis e fidedignas”. Já o ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE afirmou que “os institutos devem explicar as discrepâncias”. Vergonhosas discrepâncias, diga-se.

Diferentemente do que os institutos insistiam em “vender” para a população, o que se viu foi uma nova onda conservadora tomar conta do país, empurrando – de novo – o PT para o Nordeste do voto de cabresto dos políticos mais reacionários do país. Quem diria...

No segundo turno deveria se esperar dos candidatos uma etapa mais propositiva, onde os brasileiros pudessem entender e escolher a melhor proposta para o país. Não vai acontecer. Com os ânimos acirrados e Bolsonaro, agora, mais que nunca ouvindo a ala do gabinete do ódio (que sai vencedora por conta da sua posição central contrária aos resultados que as pesquisas vinham mostrando), o que veremos será uma guerra fraticida entre Lula e Bolsonaro.

O fato é que o PT ganhou, mas perdeu o primeiro turno. Bolsonaro vem ai mais forte, aguerrido e com o aval de 50 milhões de eleitores e o poder da caneta na mão. Ninguém duvide dessa força. Enquanto isso, o PT, os petistas e associados vão precisar tirar o salto alto com que levaram essa campanha, crentes que o já ganhou de certa mídia, os resultados fakes das pesquisas e o salto ainda mais alto do candidato que se negava até a apresentar um programa de intenções de governo, achando-se acima de todos e com uma indisfarçável sede de fazer este país retroagir ainda mais que na era Bolsonaro, era a realidade. As urnas os acordaram para a crua realidade de que uma enormidade de gente continua rejeitando o PT e seu candidato.

Mesmo fechando a eleição na frente de Bolsonaro com 5 milhões de votos (o Nordeste foi responsável por isso), o partido foi o grande perdedor dessas eleições. Foi também – não há dúvida - uma resposta do eleitor a Lula e sua bandalha nos governos petistas que levaram o país à bancarrota.

No segundo turno, com sua turma motivada e sabendo agora que as pesquisas os enganaram até as vésperas das eleições, com a maturação do auxilio Brasil, a redução dos combustíveis, a economia passando por um rápido surto de bonança (para 2023 a coisa ficará feia) e com a continuada redução do desemprego, Bolsonaro terá tempo suficiente para vender seu “peixe” e minimizar os “ralos” da corrupção, do orçamento secreto, das rachadinhas e outras.

Enquanto isso, seu rival, vai passar o segundo turno a se explicar sobre a corrupção em seus governos. E todos sabem que quem passa uma eleição a se defender, perde. Simples assim. Ademais, a “moral” da tropa vermelha foi ao chão com a ida ao segundo turno.

Do ponto da gestão política, a estrondosa vitória do Bolsonarismo no Congresso de imediato tira de cena a possibilidade das ameaças golpistas do presidente, agora seguro com uma base aliada “vitaminada” para chamar de sua. Mas por outro lado (sempre tem o outro lado), vamos observar o acirramento do impasse político dos dois lados, o que poderá ameaçar agendas muito importantes para tirar o Brasil do atoleiro em que se encontra. Isso se o atual presidente descer da moto e for trabalhar com afinco para mudar o país (ser?).

Por fim, é preciso registrar a resiliência e a capacidade dos eleitores de Bolsonaro em mobilizar e driblar a cerrada “bateria aérea” exercida por parte da mídia, dos institutos de pesquisa, dos artistas, e da sociedade organizada pela esquerda, e surpreender a todos com o magnifico desempenho de Bolsonaro e sua trupe.

O segundo turno, seria o momento adequado para a sociedade cobrar dos dois candidatos outra postura diferente da atual. O jornal Estadão não crê nisso. Em editorial de hoje afirma que “Agora, o Brasil terá o suplício de mais quatro semanas de uma campanha eleitoral que não apenas foi até aqui a mais desprovida de propostas e ideias da história nacional recente, como entra numa fase ainda mais sofrível, ao resumir-se a dois candidatos que são, cada um a seu modo, a exata antítese do que o País precisa”.

Lula e Bolsonaro se merecem, mas o País não os merece.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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