colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

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Elias Fragoso: Cadê todos?!

15/10/2022 - 11:53

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Imagens de satélite mostram avanço da desertificação no Nordeste
Imagens de satélite mostram avanço da desertificação no Nordeste

Já no Brasil colonial, os governantes preferiam entregar cestas básicas aos flagelados do Nordeste (o “Auxílio Brasil” da época), em vez de fomentar o seu desenvolvimento econômico (embora a “criação” do Nordeste – enquanto região geográfica – tenha se dado apenas no início do século XX). Desde sua “inauguração”, as autoridades já se pautavam pelo velho e surrado discurso do “é preciso ajudar a região”. Que já naquele distante momento correspondia na verdade em ajudar usineiros quebrados (novidade...) e prover a manutenção de outros privilégios para as elites locais.

De lá para cá milhares de teses, estudos, propostas, programas e projetos propondo alterar a realidade econômico-social regional foram produzidos. Mas o fato é que a desigualdade social da região só se acentuou. Por que será?

Nunca houve vontade política em mudar o “modelo de negócio” que sempre se ancorou na apropriação das verbas públicas pelos grupos dominantes locais para enriquecerem e se manterem no poder – estamos vendo isso de novo nas manchetes da imprensa local e nacional. E é preciso que se diga: tem muito mais gente metida nisso. Nesse sentido, estudo do Banco Mundial é revelador: de cada 100 reais destinados ao Nordeste, apenas 4 reais chegam na ponta sob a forma de investimentos. Os outros 96 reais são apropriados pela máquina estatal incompetente ou dilapidados pela (e na) corrupção endêmica.

Em Alagoas, apesar da “falta” premeditada de dados, suspeito que a grana para investimentos que chegam na ponta não passa de 2 reais em cada 100 liberado. Não se pode “sonhar” que num quadro desses, planos, programas ou projetos atrelados ao férreo controle dos grupos locais dominantes sobre o restante da sociedade funcionem. É o mesmo que enxugar gelo.

Insistir em alocar recursos para serem executados pelo poder público é coonestar com as gangues encasteladas no poder que, literalmente, roubam tudo (ou quase tudo). Eis aí a razão primária do super subdesenvolvimento de Alagoas. Acabar o roubo com mais dinheiro público, é o mesmo que querer apagar incêndio jogando mais madeira no fogo.

A colossal dimensão da corrupção regional e de Alagoas está escancarada no dado espantoso e inaceitável de que o Nordeste, com 27% da população brasileira representa apenas 14% do PIB do Brasil. Traduzindo: é gente demais para PIB de menos. Ou uma perda potencial acumulada de 50% do PIB da região em função dos massivos desvios apropriação dos recursos públicos pelos grupos dominantes da região. Em Alagoas, é ainda mais grave. Sua população é 1,6% da do Brasil enquanto o PIB de apenas 0,5% do brasileiro. Ou seja, temos aí que mais de 2/3 do crescimento potencial “natural” do seu PIB o “bicho comeu”... Adivinhem por quem...

Essa é a causa maior do infradesenvolvimento regional secular e do super subdesenvolvimento de Alagoas que agrilhoa, infelicita e desgraça mais de 50 milhões de nordestinos e mais de 3 milhões de alagoanos. Uma situação deplorável não tem como ser resolvida com projetos, programas ou fórmulas econômicas que envolvam recursos públicos. Seus “remédios” já foram exaustivamente “receitados” para (e na) região com resultados pífios.

O problema do Nordeste e Alagoas é a apropriação dos recursos públicos por maus políticos e maus empresários que de há muito tomaram os cofres públicos de assalto para fazer da região e do estado suas senzalas.

Onde estão as pessoas de bem que se omitem enquanto o desmando criminoso viceja?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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