colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

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A sete dias e tudo indefinido

23/10/2022 - 07:31

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LR Moreira/Secom/TSE
Urna eletrônica
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No próximo domingo os brasileiros e os alagoanos estarão escolhendo o presidente da república para os próximos quatro anos. Não será algo trivial. O país está dividido entre o ruim e o menos pior se o critério for analisar a performance dos dois candidatos durante suas passagens pela presidência da república. Com esses dois, o país do futuro que nunca chega, pelo jeito também não será desta vez que alcançará a rota do desenvolvimento.

Não custa lembrar que em 2002, no final do governo FHC, éramos a 13ª maior economia do mundo, embalamos e alcançamos o 6º lugar em 2011 e aí o PT meteu a mão na botija e quebrou o país. Atualmente, após os governos Temer e Bolsonaro (e seus dois anos de pandemia) regredimos para 20 anos atrás: somos de novo a13ª economia do mundo. Ou seja, vamos ter que remar tudo de novo para avançar ao 5º lugar que era o que se projetava para 2012 ou 2013. E isso não acontecerá nesses quatro anos vindouros.

Pelo simples fato que os dois candidatos não reúnem condições necessárias para conduzir o país às imprescindíveis reformas, sem o que não vamos a lugar algum. Aliás, os dois sequer tocaram no tema durante o período eleitoral. Preferiram o lugar comum do “nós contra eles”, eficaz para os dois e terrível para o país, rachado e sem perspectiva de mudanças.

Mormente quando se sabe que os dois próximos anos serão dureza, com a economia global em recessão, os reflexos daquela situação serão diretíssimos em nosso país. Além do mais, sabemos, não importa o eleito, vai ser preciso um enorme esforço para ajustar as contas depois da verdadeira derrama praticada pelo atual governo em nome de uma reeleição que somente agora, no final da campanha, parece ter alguma possibilidade de sucesso.
Se ganhar o candidato petista (que até agora fez questão de não assumir nenhum compromisso de uma gestão democrática e responsável), some-se a sua manifesta vontade de arrebentar com o teto de gastos, já mais furado que tábua de pirulito, a sua vocação por mais estado, ou seja, mais gastos sem que se saiba de onde sairão os recursos para tal.

Outro ponto fulcral é que, tanto um quanto o outro, após eleitos tem um encontro marcado com o bom e velho Centrão que fiou a permanência de Bolsonaro até aqui, em troca de portas abertas dos cofres do tesouro federal. Se for Lula o eleito, o mesmo e velho Centrão também estará docemente enamorado do cacique petista que, em troca, terá que abrir as portas do cofre para a turma. Só gente boa.

Teremos sem dúvida quatro anos de mais do mesmo do ponto de vista da economia, com algumas raras iniciativas que sejam do interesse do país. Fora disso, neca de catibiriba. Agora, do ponto de vista político, em especial se for Bolsonaro o derrotado, o bicho vai pegar. Numa imitação rastaquera do comportamento do seu ídolo amado, Trump ao perder a eleição americana.

Já num dos mais atrasados estados do país, a paupérrima Alagoas, que nos últimos 20 anos viu seu PIB desabar nada menos que 46% e a renda per capita familiar média continuar sendo a menor do país, mas cujo governo que saiu se auto intitulou o melhor do Brasil (sic!), a disputa vai ser entre o representante do grupo que representa a Assembleia Legislativa, Paulo Dantas, fruto de acordo com o grupo dos Calheiros que, em contrapartida, pode nadar de braçada elegendo o senador pelo estado.

Do outro lado, o senador Rodrigo Cunha migrou do PSDB para o União Brasil, presidido em Alagoas pelo deputado Artur Lira, que também é o presidente da Câmara Federal. Antigo preferido do eleitor, fez uma campanha pífia de primeiro turno tendo que disputar a sua ida ao segundo turno com o agora quase ex-senador Collor para enfrentar o candidato do governo, Dantas.

O que parecia uma eleição tranquila de segundo turno para Dantas, dada a grande diferença de votos no primeiro turno entre ele e Cunha, se tornou uma loteria que parece ter virado a favor do senador Cunha, após a eclosão do mais recente mega escândalo de Alagoas envolvendo o então governador tampão Dantas que por conta disso, foi afastado do governo pela STJ e proibido de entrar no palácio do governo, num voto rico em detalhes produzido pela PF e o MPF sobre a corrupção do agora novamente parlamentar e que resvala na casa de fazer Leis de Alagoas.

O escândalo deu vida nova à disputa modorrenta que se anunciava para o segundo turno em Alagoas e colocou em pé de igualdade no momento, segundo a Paraná Pesquisas, os dois candidatos, com leve vantagem para Dantas na margem de erro.

Os próximos 7 dias serão cruciais para os dois grupos que se engalfinham numa campanha sem proposições que venham a mudar estruturalmente Alagoas e que pode ser sucintamente descrita como rasa e com acusações de parte a parte.

Com nítida desvantagem para Dantas que viu o escândalo fugir do controle transbordando para a mídia nacional e o restante do país e ameaçando avançar sobre a Assembleia legislativa e que fez fazendo-o sangrar votos na reta final da eleição.

Se for Cunha o eleito, não se tem certeza do que será a sua gestão. Que certamente será mais transparente e de maior lisura que a dos governos anteriores. Mas não há como se avaliar sua capacidade para promover uma virada qualitativa em prol do desenvolvimento que tanto esse estado precisa. No momento é só torcida mesmo.
O candidato tem 7 dias para atrair o voto dos indecisos e daqueles que estão com Dantas, mas podem mudar de opinião. É preciso, no entanto, ao menos um desenho genérico do que ele pretende fazer para mudar Alagoas. Das medidas rasas que ele e o outro candidato tanto falam, os alagoanos estão cansados de saber que elas em nada mudam o quadro atual de atraso, miséria e abandono desse estado.

Alagoas precisa de gente com coragem e capacidade para dar uma virada de mesa na esculhambação que é a gestão pública nesse estado, na falta de projetos de qualidade para alavancá-la desse estágio máximo de subdesenvolvimento e estancar a corrupção generalizada que tomou conta do estado.

A eleição de Dantas, dada as condições atuais da sua candidatura, vai fazê-lo passar os próximos anos se defendendo das graves acusações que o MPF fez contra ele, sem condições práticas de avançar nas ações requeridas de um governante.

Mas, de imediato, e na prática, seu trabalho nos próximos 7 dias será o de estancar a migração dos votos para Cunha. E nisso, o voto de cabresto até hoje presente no interior e periferias são vitais. Sem descurar da força inercial do governo. Se eleito, sua gestão será o mais do mesmo dos grupos que o sucederam no governo nas últimas décadas.

Tenho dito e não canso de repetir: Alagoas tem jeito! Mas é preciso dar um cavalo de pau no quadro reinante de corrupção generalizada, de falta de projetos e gente qualificada para tocá-los. E de vontade política – que falta – para fazer as coisas acontecerem.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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