colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Até quando Alagoas vai Aguentar?

11/12/2022 - 07:55
Atualização: 11/12/2022 - 08:04

ACESSIBILIDADE

Reprodução
George Santoro
George Santoro

A mentira é aceitável em algum nível no ambiente profissional? Para entender a questão, a especialista em gestão de pessoas e clientes Juliana Almeida Dutra, diretora da DEEP – Desenvolvimento e Envolvimento Estratégico de Pessoas e Clientes realizou entre fevereiro e junho de 2013, pesquisa sobre o tema com 350 profissionais de diversos cargos e posições, atuantes em empresas públicas e privadas, em posições de liderança:

“O que descobrimos foi que as pessoas mentem por três motivos: ética, ego e sobrevivência” Quem mente por ego busca sustentar a qualquer preço uma posição que lhes assegure a sua “vitória” não se importando com o prejuízo que isso pode causar aos outros ou a toda uma sociedade.

Na mentira “ética”, o argumento é que fazem isso em defesa ou para manter “sigilo” sobre questões da empresa (ou governo). Os que mentem por sobrevivência, buscam controlar a narrativa em seu favor para evitar de “se queimar” com os chefes ou a opinião dos colegas (e a pública, diria eu). Ela continua: “75% dos entrevistados colocam a mentira como subterfúgio causado pelo medo da verdade. Este medo da verdade é o medo da realidade, e para não enfrentá-la, mentem para os outros também”.

O médico psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo), Hermano Tavares, em declarações ao site Administradores afirma que “Todos mentimos, para amenizar as situações... A questão é a extensão e a intenção da mentira” e continua: “O problema começa quando a pessoa mente para... manipular situações e informações. “Aí, ela passa a ser perigosa”. E conclui: “Na verdade, quanto maior a ambição [e o cargo] maior a tentação para a mentira”,

Tavares crava que dos três comportamentos de pessoas que mentem... aquele que o faz por má-fé, ou para ter vantagem em alguma situação é o mais perigoso. “Quando se fala em ambiente de trabalho, penso mais neste perfil de pessoa mentirosa”,

Do ponto de vista legal, ao mentir no ambiente de trabalho, o empregado comete um ato ímprobo que revela desonestidade, abuso, fraude ou má-fé e isso constitui motivo para rescisão do contrato de trabalho [demissão] por justa causa, nos termos do artigo 482, alínea 'a' da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

Pois bem, todo esse arrazoado tem um motivo. Na sexta-feira em edição de um jornal local o secretário da fazenda – tal qual Pinóquio – voltou a esgrimir a sua retórica enviesada para fugir dos temas mais agudos da sua gestão, que ele não tem como responder ou por que implicaria seu ex-chefe ou a ele mesmo.

E começa de cara como uma lorota: “com relação ao Brasil, estou preocupado. A inflação mundial ainda está alta, os bancos aumentaram as taxas de juros e o país não terá muito dinheiro público”. Algo que até a velhinha de Taubaté do Veríssimo está cansada de saber: quando países centrais (ricos) entram em crise – e eles estão – o Brasil e muito sofre diretamente as consequências disso. E estados com economias em estado de frangalhos com a de Alagoas, só não irão à bancarrota se forem ajudados pelo governo federal – que está quebrado. Mas isso ele não fala e ainda por cima planta uma fake de um futuro róseo para esse estado.

Em outro momento, Santoro afirma que “a nossa economia continuará em crescimento”. Não é verdade. Nos oito anos do governo Renan Filho, o PIB real de Alagoas foi negativo e ele não tem como desmentir isso, a base de cálculo levou em consideração a inflação medida pelo IBGE e os índices de “crescimento” (sic!) divulgados pelo secretário. Não vamos continuar crescendo coisa nenhuma, vamos é passar por um enorme perrengue nos próximos anos. Misturar crescimento no nominal e esconder as taxa de crescimento reais é, no mínimo, para não ir mais longe de uma irresponsabilidade técnica e social abissal.

Ele também continua a afirmar que a nossa economia está em equilíbrio”. Que equilíbrio? Estamos há dezenas de anos com crescimento real negativo do PIB (para os não iniciados em economia, estamos é ficando mais pobres há dezenas de anos!). Apenas para renovar a informação que consta no nosso livro “Rasgando a Cortina de Silêncios” – O lado B da exploração do Sal-Gema: entre 2002 e 2019, o PIB real desse estado retrocedeu nada menos que 46%!!!

A sociedade alagoana precisa ser alertada dessa cachoeira de fakes que o secretário da fazenda de forma irresponsável fica martelando como se verdade fosse. Digo e repito novamente: Alagoas está quebrada há muito tempo. E se nada for feito e for mantida essa politica ruinosa iremos cada vez mais para o fundo do fundo do poço.

Mas a entrevista não ficou apenas nisso. Ele voltou a martelar nas fantasiosas vantagens que o mega desvio de 450 milhões do dinheiro dos servidores públicos pela SEFAZ (a grana por Lei não pode ser mexida e menos ainda apropriada pelo estado para pagar o 13º salário de todos os servidores) foi algo bom para os barnabés. Foi ótimo para ele, que fez caixa para livrar a cara de não ter como pagar o 13º. Essa é que é a verdade.

E, como a três semanas seguidas, faço nesse espaço o mesmo repto para que ele abra as contas do estado para a sociedade saber o fragelo financeiro que vive Alagoas, sem pagar seus fornecedores há meses, hospitais onde falta tudo, até gaze, uma asfixia total dos órgãos estatais prestadores de serviços públicos. Mas ele não fala disso, claro.

Mais à frente, na mesma entrevista, ele defende a “compra” (sic!) das 304 escolas velhas, caindo aos pedaços pelo AL Previdência “em troca” dos 450 milhões dos servidores, como outra coisa maravilhosa. A verdade é que se trata de um calote colossal, uma tunga no dinheiro do servidor que ele, por Lei, não poderia meter a mão.

As escolas deterioradas estão por exigir de cara uma gigante reforma. Além disso, quem vai pagar pela manutenção milionária de cada uma delas? A grana dos servidores que restou no caixa do instituto de previdência, agora “donos” de um patrimônio que há dezenas de anos já foi 100% depreciado! Pense!!! E ainda por cima, tornou o órgão de Previdência dos funcionários públicos na maior imobiliária de Alagoas, a um custo absolutamente fora de qualquer parâmetro técnico de razoabilidade.

E ainda teve a cara de pau (alô sindicato dos professores, cadê vocês?!!!) de afirmar que vai manter a educação em expansão. Gostaria muito que o novo especialista em educação explicasse isso... Qual é a “mágica” para fazer o que não funciona e nos coloca na rabeira dos rankings nacionais do setor, em algo funcional da noite para o dia. E promete que haverá recursos para a agricultura, para a saúde, a segurança. Quem quiser saber o estágio de penúria dessas áreas (e das demais) é só conversar com quem trabalha numa delas, nem vou me dar ao trabalho de entrar em detalhes.

Ele também elogiou a economia açucareira pelo “alto nível de empregabilidade”. Ele quis dizer subempregos que por alguns meses do ano sustenta uma mão de obra despreparada que passa o resto do ano esperando a próxima safra sem que o estado rigorosamente nada faça para mudar esse quadro. Há séculos.

E, afinal, “candidamente”, informa aos caros alagoanos que vem aí mais um tarifaço para bancar a incompetência governamental da gestão ruinosa de Alagoas (um aviso aos navegantes que vão ser mais uma vez extorquidos pelo estado, o PL sobre o tarifaço já está na Assembleia e pronto pra ser votado pela bancada do governo).

Ele só não diz como vai fazer (não vai) para reduzir a dívida pública (que continua a crescer e ficar a cada dia mais impagável...). Pelo contrário, vai continuar usando o “resto” de crédito que tem junto aos bancos privados para endividar ainda mais um estado que não terá como honrar esses compromissos e ao mesmo tempo manter a folha e o pagamento dos seus milhares de fornecedores em dia. Ele também não toca nem de longe dos gigantescos benefícios fiscais que o estada concede – irregularmente – à Braskem e a várias outros empresas amigas, afinal para que falar disso né? Qualquer coisa os otários dos alagoanos pagam pela ineficiência e a corrupção que grassa nesse estado...

Assim é muito fácil governar. Resta saber como ficará lá na frente... (alô governo Suruagy...)

É preciso dar um basta nessas mentiras. O alagoano precisa saber a real situação desse estado, os empresários precisam estar alertas para isso, os sindicatos que se esconderam até agora precisam se juntar aos raros que se movimentaram, a academia precisa se manifestar, os conselhos profissionais idem, os políticos que são os únicos beneficiários dessa bazófia precisam entender que estão matando a galinha dos ovos de ouro e que o povo, miserável e passando fome já passa de 1,3 milhões de pessoas em nosso estado. Que se for somado aos remediados alcançam o inaudito percentual de 98% da nossa população (classes C, D e E), 3,3 milhões de pessoas!

Não é mais possível aceitar passivamente uma coisa dessas, que pessoas com responsabilidade pública continuem a mentir tão descaradamente e os 2% (classes A e B) continuem a fingir que está tudo bem.

Não está. Ponto.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


Encontrou algum erro? Entre em contato