colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

É preciso repensar o Nordeste

25/05/2023 - 14:24

ACESSIBILIDADE


Como costumo dizer, o Nordeste, são dois: o do litoral exuberante, bonito e com um gigantesco potencial turístico muito mal aproveitado. E o resto. Com, claro, as ressalvas de sempre aos bolsões de crescimento localizados em algumas áreas da região. Mas também são vários, por suas diferentes raízes culturais, geografia e características próprias inerentes à suas diferentes nove unidades federativas.

A região é a mais antiga do país (foi palco por séculos da colonização brasileira) mas perdeu espaço com a débàcle da cana de açúcar (sempre ela, e ainda tem gente que insiste em reafirmar a monocultura como uma saída para a pasmaceira em que Alagoas se encontra), para o café que se tornou quase hegemônico por muito tempo na pauta de exportações brasileira.

A perda da hegemonia econômica no país foi o que levou à criação do Nordeste como região, a partir dos barões do açúcar que buscavam “auxlio” nos governos para que seus negócios deficitários e antieconômicos sobrevivessem, à custa da miséria de quase toda a “região”. O discurso para isso foi que a região era carente de investimentos (leia-se ajudas, esmolas), o que acabou por construir uma imagem nacional de “pobrismo”, “coitadismo” para o Nordeste que perdura até hoje.

Com esse quadro à frente, a Sudene surge nos anos 60 para “mudar a cara do Nordeste”. Desenvolvê-lo. Seus planos regionais de desenvolvimento, sua marca registrada, deu com os burros n’água. O que vimos foi a repetição – agora ampliada – do monstrengo sorvedor de recursos públicos sempre existente por aqui que proporcionou no período de 50 anos uma das maiores “sangrias” de recursos federais destinados à região, com desvios bilionários “saindo de todos os seus poros” para os bolsos do empresariado nacional (que pegava a grana e levava para o Sudeste para aplicar em seus negócios, por exemplo).

Herança desse modelo que se abriu à corrupção, de cada 100 reais destinados à região apenas 3 reais chegam à ponta, segundo o Banco Mundial. A quem de fato precisa dele para melhorar de vida e para geração de crescimento. O Nordeste é um espantalho vivo, estagnado e sem direção. O típico navio fazendo água por todos os lados e sem planos de como evitar o naufrágio.

Com 27% da população e apenas 14% do PIB nacional, o tamanho da iniquidade das suas desigualdades, extrema pobreza, analfabetismo gigante e tantos outros indicadores capazes de nos envergonharem mundo afora, aflora doídamente para que o mundo continue a enxergar a região como uma das mais subdesenvolvidas do mundo dentre os países de maior PIB.

A região clama por mudanças estruturais capazes de reverter essa situação. É preciso pensar o “novo Nordeste” não como um todo, mas em suas partes e ir desconstruindo a “máquina de não mudança” que aí está, começando pelos restos mortais da Sudene e sequenciando com cada “igrejinha” que veio sendo montada ao longo destes mais de meio século (formas de financiamento, estruturas arcaicas dirigidas para a corrupção, etc.). O espaço é curto, mas...

O Nordeste tem jeito!

Precisamos desconstruir esse Nordeste enquanto invenção, esse Nordeste criado para a não mudança. Enquanto não fizermos isso, estaremos reproduzindo esta maquinaria de imagens e discursos das elites. Mudar isso é possível, e para isso é preciso inventar novas formas de pensar e enxergar o Nordeste, é preciso inverter a pirâmide, enfim, é preciso atitude.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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