colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Brasil interditado

19/06/2023 - 12:00
Atualização: 19/06/2023 - 17:52

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Agência Brasil
Constituição de 1988
Constituição de 1988

Em 1988, na promulgação da atual Constituição do Brasil, Ulysses Guimarães, deputado federal e presidente da Assembleia Nacional Constituinte, afirmou que “O homem é o problema da sociedade brasileira: sem salário, analfabeto, sem saúde, sem casa, portanto, sem cidadania”.

Três décadas e meia depois o país é um dos mais desiguais do mundo (e Alagoas, de longe, é a campeã dentre os estados brasileiros nesse malfadado ranking) e a violência exorbitou quaisquer limites e, sem freios, avança célere para empalar a sociedade brasileira, que não tem como reagir, eis que as instituições de justiça desse país são as maiores responsáveis por esse estado de coisas (e muitas outras mais).

Nossos jovens continuam sendo despejados no mercado de trabalho semialfabetizados e despreparados até para os empregos mais básicos, quase 70 milhões de pessoas moram de aluguel, mais de 110 milhões vivem em áreas sem esgoto, sem saneamento básico.

A distância entre a sonhática e inclusivista Constituição de 1988 – que afinal não resolveu as nossas mazelas – e a vida real é um abismo que mais e mais se aprofunda. O Brasil precisa pensar urgente numa nova Constituinte. É preciso redesenhar o nosso pacto federativo. Esse que aí está é excludente. O abismo entre a elite e a massa trabalhadora só aumentou nos últimos 38 anos. Atualmente quase 60% da nossa população vive em regime de insegurança alimentar, desnutrida e iletrada, uma equação que nem fecha, tampouco se enxerga saídas para resolvê-la no curto e médio prazo. O abismo social se aprofunda.

O Estado que deveria ser o garantidor dos direitos para todos, de há muito se tornou presa fácil de grupos econômicos e políticos que só sobrevivem à custa do dinheiro público e que estabeleceram garrotes que fazem com que apenas 3% dos recursos destinados a programas públicos em geral cheguem à população carente que dele precisa desesperadamente. E o que dizer dos sindicatos que exigem a manutenção das retrógadas leis trabalhistas que inviabilizam novos empregos e o aumento da produtividade da mão de obra? O cidadão comum está cercado de sanguessugas que lhes arrebatam a cidadania e o direito à vida com qualidade.

E aí sobra campo para os corruptos “salvadores da Pátria”, ou messiânicos de meia tigela, ou para os sebastianistas. Um horror o que acontece com este país ao longo das últimas três décadas de atraso, fisiologismo no mais alto grau, predomínio da visão privatista dos interesses coletivos e assalto à cidadania igualitária. Caldo de cultura desse estado promotor de privilégios, impunidade. Circulo vicioso que o atual modelo não permite ser rompido.

Na verdade, o alimenta, perpetuando a estagnação econômica (40 anos com crescimento pífio de 1% a.a. quando se precisaria de, no mínimo, 3,5% a.a. para sairmos do buraco em que estamos metidos) e o abismo social. A ira popular manifestada em 2013 “contra tudo que aí está” foi resultado direto da insatisfação com a realidade aqui descrita. Que não foi ouvida ou atendida pelos poderosos de plantão. Estamos caminhando céleres para uma nova revolta. Infelizmente desta feita mais agressiva, tanto maior é o desespero de quem nada tem.

É preciso tirar o estado das garras dos grupos econômicos que o assaltam há dezenas de anos ou nada vai sobrar para os cidadãos. É preciso mudar a forma de se fazer política neste país. O clientelismo exacerbado é a outra face do roubo do dinheiro público que interdita o futuro deste país.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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