colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Povo quebrado, crise à vista

03/07/2023 - 05:00

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Agência Brasil/ Marcelo Casal JR
71 milhões de brasileiros estão pendurados nos bancos e entidades creditícias diversas
71 milhões de brasileiros estão pendurados nos bancos e entidades creditícias diversas

O mais recente levantamento da Serasa Experian informa que nada menos que 71 milhões de brasileiros estão pendurados nos bancos e entidades creditícias diversas. O equivalente a 45%, quase metade da população adulta do país está com o nome sujo por não liquidar seus débitos. No conjunto, informa a Serasa, eles devem a bagatela de 341 bilhões de reais...
É um quadro absolutamente dramático para essas famílias, mas também para o Brasil que precisa da população consumindo para 

da crise em que está metido há anos. As famílias brasileiras estão cada vez mais sufocadas e sem condições sequer de manter em dia as contas básicas da casa. E aí, fazer o quê? Apelar para o cartão de crédito ou escolher quais contas não irão pagar naquele mês (e nos outros também).

Somente em abril deste ano, cerca de 700 mil pessoas se tornaram inadimplentes. Não precisa ser economista para ver que com um volume de inadimplentes destes, a cada mês, ao final de 2023, aos 71 milhões de devedores, veremos somados quase nove milhões de endividados.

70% dos devedores estão na casa dos 26 a 60 anos. E os acima dessa idade, quando ainda não foram assaltados pelos bancos que lhes tomam 40% da renda via consignado, vivem sendo pressionados pelos familiares para o fazerem. Para pagar água, energia e o gás em atraso, e depois disso ficarem pagando aos bancos em 36 meses o que foi gasto em um ou dois meses para a manutenção da casa. Que ainda vê reduzida a renda familiar pelo assalto do crédito consignado que enche as burras dos bancos e de certas autoridades envolvidas na tramoia dos aumentos sucessivos das margens dos coitados.

Muitas são as causas para esse estágio a que chegamos. Mas, certamente, os juros estratosféricos aqui praticados, a renda do trabalho estagnada ou regredindo, a inflação corroendo a renda dos mais pobres, são alguns dos indutores dessa escalada rumo ao desastre. Uma vez que são dívidas praticamente impagáveis.

Em edital recente, o jornal o Estado de São Paulo afirma: “A solução para esse drama depende essencialmente do crescimento sustentável [do Brasil], numa escala mais ambiciosa que a atual, para que tenha real impacto sobre a renda do trabalho e o emprego formal. [só que] A inadimplência de quase metade dos brasileiros é um dos freios a esse objetivo. É preciso considerar que a situação real pode bem pior: a Serasa não inclui as dívidas com os agiotas”.

Estamos naquela situação do cachorro que tenta morder o rabo e não consegue. O governo precisa crescer, mas para isso precisa que parcela significativa dos inadimplentes voltem a consumir, mas não cria as condições para isso (o tal do programa Desenrola que ele quer lançar é mais uma dessas piadas de mau gosto).

Com um governo federal que até agora não disse a que veio, sem programas ou projetos e encalacrado pelos congressistas para negociações espúrias que tiram dinheiro da sociedade para entregar a bandidos travestidos de autoridades nos três níveis de governo, caminhamos céleres para mais uma crise política. Que todos sabem como termina. Aguardemos os próximos lances...

O povo não quer mais apenas festas e circos senhores.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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