colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

A "ajuda" fake da Prefeitura aos afetados

30/07/2023 - 08:23

ACESSIBILIDADE

Afrânio Bastos
Pinheiro, bairro destruído pela Braskem
Pinheiro, bairro destruído pela Braskem

Na mitologia clássica, Prometeu é o deus do fogo e, em certo sentido, o fundador da civilização, tendo passado a capacidade de fazer fogo para o restante de nós. Mas, como punição por ter roubado a tecnologia do Monte Olimpo, ele acaba acorrentado a uma rocha onde, todos os dias, uma águia pousa e come seu fígado. Para maximizar seu sofrimento, o fígado se regenera todas as noites.

Na vida real roubar os sonhos das pessoas com promessas vãs ou falsas esperanças disfarçadas em linguagem metafórica, insidiosa e/ou melíflua, pode até surtir bons efeitos no curto prazo, mas, de forma irremediável no médio/longo prazo o “sabido” vai sofrer as consequências das suas atitudes. Afinal, pode-se enganar a quase todos durante certo tempo; enganar a alguns por todo o tempo; Mas nunca se consegue enganar a todos, por todo o tempo.

E a lei do retorno está aí para não nos deixar mentir. O erro de todo metido a esperto é achar que todos os outros não são... Mas deixemos de tantos prolegômenos. E vamos ao que interessa.

Semana passada destrinchamos para o leitor o que é esse “acordo” (sic) imoral que a prefeitura e a Braskem “celebraram” às custas de Maceió, dos maceioenses e, em especial, das pessoas e famílias vitimas do criminoso megadesastre que aquela empresa provocou em nossa cidade.

Somente possível pelo apoio velado que a empresa tem da justiça em Alagoas lastreada num imoral acordo que ela impôs a todos os atores locais . O que se sabe – mas não se age – é que o tal acordo de tão furado, é facilmente derrubável em qualquer instância superior (até com penalidades para seus autores e subscritores).

Para esta semana vamos nos debruçar com maior detalhe sobre um dos itens daquela imoralidade: a parte em que a Prefeitura “promete” (sic) criar um fundo de apoio aos afetados. Disse lá e repito agora: uma tremenda fake news com quem vem sofrendo na pele as agruras e o sofrimento de ter que enfrentar a todas as instituições em busca dos seus direitos sempre negados.

Como o tema ganhou uma dimensão inesperada, a prefeitura, que todos sabem deixou os mais de 200 mil afetados pelo megadesastre na mão para fechar um acordo em tudo e por tudo nocivo a Maceió - uma tragédia dentro da tragédia em que vivem essas pessoas e nossa cidade – correu para tentar apagar o incêndio que ameaçava se alastrar rapidamente.

E fez isso com outra tremenda fake do tipo “me engana que eu gosto”, que na correria para impedir o incêndio de crescer, “criou” (sic) um órgão (que será um fantasma, podem me cobrar) composto por mais de uma dezena de órgãos da própria prefeitura – e aqui um parêntesis: alguém aí já viu dar certo algum órgão colegiado criado pelos governantes? Eu também não, e olhe que são 50 anos de labuta técnico-profissional)...

Mas o Alcaide foi ainda mais longe na lorota. Seu decreto afirma que os recursos [a serem pagos pela Braskem] serão repassados àqueles órgãos para criarem o milagre da distribuição das benesses para os mais de 200 mil afetados, os mesmos que, sabe-se lá por que, ele deixou na mão no afã de por a mão na bufunfa.

Aliás, o prefeito e a Braskem precisam explicar como ela repassou e a prefeitura recebeu 300 milhões de reais, uma vez que se desconhece nas vias oficiais e no portal da transparência, primeiro como a grana entrou na prefeitura e segundo, no que ela foi gasta, uma vez que não há planos, projetos ou programas formais para tanto. Uma obrigação legal que pode levar à responsabilização da atual gestão municipal.

É preciso também cobrar da Câmara de Vereadores qual foi o seu papel nessa operação esquisita que os maceioenses e os alagoanos desconhecem (Ah! Como seria bom termos uma justiça sem lado!). Este fato, senhores, se não explicado, pode – no limite - levar ao impeachment do prefeito (alô oposição, como vocês irão agir?)

O fato caro leitor, é que essa gestão da prefeitura age se achando esperta demais e todos os outros são bobos e desinformados. A tal ajuda aos afetados não vai ocorrer pelo simples fato que em primeiro lugar, nunca houve e agora, certamente menos, vontade política do município nessa direção, em segundo lugar, por que lhes falta qualificação técnica para adentrarem numa seara que demanda alta expertise politica, técnica e negocial e, em terceiro lugar, por que simplesmente não há grana para isso (avisamos semana passada que se a prefeitura recebesse a merreca de 1,7 bi na totalidade, não daria sequer para pagar metade das despesas de mobilidade que terão que serem feitas na cidade).

É preciso anular esse acordo. Chega de anomias. Chega de se bancar o avestruz e fingir que o problema não é conosco. É sim. É com Maceió. É com Alagoas. E está afetando de forma direta a dignidade de 1 milhão de pessoas!

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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