Ah, essa tal de desigualdade que nunca involui
Segundo a OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, órgão apoiado pelos países membros da União Europeia e cujo objetivo é promover padrões internacionais capazes de alavancar o desenvolvimento econômico, humano, financeiro, ambiental, social e comercial dos seus membros e de ajudar a países pobres e remediados a saírem da situação de imobilidade social que é combustível a alimentar o processo de desigualdade.
Respeitado em todo o mundo por seus estudos, pesquisas e intervenções de alta qualidade em termos de respostas dos seus “orientandos”, a organização recentemente trouxe a tona algo que por aqui estamos cansados de saber, sem que ninguém faça nada para mudar esse status quo medonho: no Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, um sujeito para sair da pobreza e alcançar o status de classe média - pasmem! - levaria 9 gerações para chegar lá (depois de esforços gigantescos, diga-se).
O estudo (A broken social elevator), de 2018 analisa maneiras para alavancar o status quo das pessoas mais pobres de 24 países que fazem parte da Organização. Nele concluiu que na Dinamarca bastam apenas 2 gerações para as pessoas ascenderem da pobreza para a classe média e até 7 gerações na Hungria, com uma média entre os 24 países-membros de 4,5 gerações. Enquanto em nossa Nação os pobres levam penosas 9 gerações para alçar voo para o patamar de renda média do país...
O Brasil empata com a África em termos de imobilidade social e ganha apenas da Colômbia dentre os 24 países membros da OCDE. Vergonhoso isso. Em estudo recente da FEA-USP, a faculdade de economia, administração e atuária da Universidade de São Paulo, o professor Wagner Kamakura idealizador do Critério Brasil de Classificação Econômica que dividiu a população da Classe A, passando pela B e a C até alcançar a D/E com base em dados do IBGE na sua Pesquisa de Orçamento Familiar.
A versão mais recente do estudo classifica como classe A, a família que tem renda média de 21,8 mil reais e como classe D/E, as famílias com renda média mensal em torno de 900 reais. 24 vezes menor que a renda média da classe A. É mole?
E cadê as políticas afirmativas? Não passa de discurseira política. O que nossas autoridades sabem fazer e bem, é a política assistencialista mais rastaquera e baixa possível, dando esmolas de merrecas sem contrapartidas de quem as recebe. É esmola mesmo, para garantir o voto dos miseráveis, dos mais de 70% de semialfabetizados desempregados ou em empregos precários que só aviltam a quem dele se vê obrigado a apelar para não morrer de fome (porque outros 30% de nossa população já vive em estado permanente de fome, num país que o terceiro maior produtor mundial de alimentos).
Desde que me formei há 5 décadas que ouço a baboseira de que este é o país do futuro. Nunca seremos com essa montanha gigantesca de miseráveis sem mobilidade e esperanças, fruto da mais iníqua desigualdade do mundo que campeia de Norte a Sul e de Leste a Oeste do País. Tinha razão o Ex. Senador Eduardo Suplicy quando batalhava- e era alvo do deboche de seus pares – pela política de renda básica decente e proativa, com exigência de contrapartes de quem a recebesse. Melhor isso que esse deserto de nada, de bolsas-famílias e que tais.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA