colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

A despeito das negociações

01/10/2023 - 06:51
Atualização: 02/10/2023 - 12:27

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Foto: Divulgação
Braskem em Maceió
Braskem em Maceió

Abraham Lincoln, ex-presidente dos EUA e hábil negociador, dizia a respeito de negociações que “se eu tivesse 8 horas para derrubar uma árvore, levaria seis horas afiando o machado”. E mais não disse. Nem era necessário. Alagoas, após vivenciar 5 décadas do mais retrógrado colonialismo corporativo da parte das mineradoras do sal-gema, nossa principal riqueza mineral, precisou “sofrer na pele” um mega crime ambiental – o maior do mundo em sua categoria - que destruiu parte significativa de sua capital e afetou de forma direta a 160 mil maceioenses (17% da sua população!), para começar a entender que sempre esteve numa roubada quando o tema é o sal-gema. 

Mesmo assim, foram necessários mais 5 anos de agruras, vilipêndios, achaques, insolências diversas e fake news generalizados por parte da sua agressora para reagir ao estado de torpor manipulado em que sempre esteve envolvida, por conta das lorotas contadas à nossa gente pelas empresas que exploraram o mineral durante esse longo tempo, contando com o “auxílio luxuoso” de políticos, autoridades nos mais diversos escalões federais, estaduais e municipais para fechar o cerco sobre um povo ordeiro, trabalhador e em sua imensa maioria desinformado das barganhas e negociatas que houve por detrás das cortinas cerradas. 

Me impressiona até hoje com todas as informações que temos disponibilizadas – números acachapantes que desmentem cabalmente a lorota do segmento ser o “carro-chefe “ da economia alagoana. Não é. Nunca foi. Nunca será. Pelo simples fato de que somos tão somente meros fornecedores de matéria-prima para as multinacionais que nos exploraram sem nenhum retorno econômico ou social consistente. Basta saber que há 50 anos éramos um dos estados mais atrasados do Brasil e hoje, continuamos na mesma sina. Precisa mais? 

O que faz as pessoas acreditarem que uma empresa que representa tão somente 0,08% da geração do raso PIB do estado, emprega menos de 0,13% da mão de obra formal em Alagoas e que – literalmente – sitiou Maceió e Alagoas, poderia ser a “líder desenvolvimentista” (que nunca foi) do estado? Somente maus intencionados e a própria empresa têm interesse em alimentar tamanha fake news. As recentes mudanças de orientação na seara política e administrativa do estado em relação à Braskem alteraram o gigante desequilíbrio que havia em desfavor da luta dos maceioenses contra a empresa. 

Agora fustigada de todos os lados (tem uma CPI pela frente a enfrentar, a Comissão de Valores Mobiliários, antes aliada, foi instada a abrir procedimentos investigatórios sobre os relatórios capciosos que a empresa emitiu para o mercado, “balanceando” a verdade de Alagoas e, com sua venda em stand by até uma solução do seu passivo em Alagoas, a empresa sabe que tem uma última oportunidade antes dos fatos acima irem a um desenlace que não é do seu interesse. E este caminho passa por pagar o que deve por aqui. Sem mais, nem menos. Mas, para isso, os negociadores de Alagoas precisam fazer o dever de casa ensinado por Lincoln: preparar-se para as tratativas. Estamos fazendo a nossa parte, levantando – pela primeira vez – o total do passivo da empresa em Alagoas. 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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