A confissão calada de um crime
Se o leitor tivesse o poder de indicar quem do grupo NOVONOR/BRASKEM deveria ser convocado para prestar depoimento na CPI da Braskem (aquela que não vai terminar em pizza, segundo seus líderes) sobre a mega destruição que ela provocou em Maceió e o Tsunami econômico, social, psicossocial e físico/material elevado à enésima potência em Alagoas, quem dos dirigentes abaixo seria a sua indicação (só vale um).
a) O acionista majoritário da NOVONOR e, portanto, sócio majoritário da Braskem;
b) O Presidente da Braskem (o executivo responsável por tudo que ocorre com e na companhia);
c) O Vice-Presidente Executivo de Manufatura Brasil e Operações Industriais Globais (aquele diretamente ligado aos problemas da operação e manutenção da empresa);
d) O Diretor Global de Pessoas, Comunicação, Marketing e Relações com a Imprensa da Braskem.
e) Os engenheiros que projetaram as minas;
f) Os técnicos que lideraram a mineração criminosa realizada pela Braskem em Alagoas.
Para nenhuma surpresa da Braskem, o convocado foi... O Diretor Global de Pessoas, Comunicação, Marketing e Relações com a Imprensa. Anotem bem aí o cargo da figura. Ficaram de fora todos os personagens que não poderiam ficar. São os maiores responsáveis pelo que está ocorrendo atualmente em nossa terra.
E os que poderiam explicar como e porque a empresa não é a culpada (como ela insinua todo dia), mas é uma empresa cidadã, que mesmo não sendo a causadora do problema está ajudando aquele estado a se sair dessa. Seria interessante ouvir as lorotas que eles teriam a contar...
Seria. Até por que mesmo o cara da área de pessoal que vai lá na quarta feira desta semana iniciante já foi blindado no STF com mandado que lhe assegura (conforme a Constituição), o direito de ficar calado e não produzir provas contra si ou a empresa, nesse caso. Um faz de conta que tem um único destino: proteger a empresa das questões que ela não tem como responder sem se incriminar.
Ah! Sim! O Senador que fez a “convocação” é da Bahia. E não faz questão de dizer aos seus pares que é amigo dos donos da Braskem (o que nada significa, claro). Uma indicação à dedo. Milimétrica. Pra que correr riscos, né? Dessa forma ninguém dirá que a CPI não está fazendo o seu trabalho. Mas não para Maceió e Alagoas. Para os afetados e os alagoanos em geral.
Essa foi a razão de convocarem o cara da área de pessoal da Braskem – friso: da área de pessoal! - para explicar o megadesastre que a Braskem causou em Maceió! O maior crime ambiental do mundo em área urbana perpetrado pela empresa em nosso solo e subsolo e a comissão leva para explicar o problema um profissional que – evidentemente – não está qualificado para isso. E que ainda por cima, vai ficar calado, por que seguro morreu de velho!
Será que a comissão não sabe que o megadesastre arrebentou com uma área de 3 milhões de metros quadrados de nossa Capital, afetou a vida de 140 mil pessoas, gerou o maior transtorno para a cidade de Maceió afetada em todos os seus pilares estruturantes, impactou de forma séria oito dos municípios da região metropolitana de Maceió e o estado de Alagoas como um todo gerando um passivo no estado superior à dívida que a empresa tem com os bancos?!!!
Até a velhinha de Taubaté do Veríssimo tem certeza que sim.
Mas nesse Brasil Macunaímico onde a versão predomina aos fatos, a injustiça de há muito levou de roldão a justiça, onde rico é rico, pobre é pobre e preto é preto, prá toda a vida, o que a Braskem vem fazendo em Alagoas com o apoio descarado de alguns maus alagoanos ultrapassa até esses limites dos absurdos ora citados!
Até quando? São seis anos, não fosse uma inciativa isolada de um dos afetados que a está criminalizando na justiça nada de relevante teria ocorrido até agora (embora se saiba que a iniciativa não vai dar em nada pelas razões que até as pedras sabem).
Alagoas não pode mais se vergar a este tipo de pressão de uma empresa que representa tão somente 0,4% do PIB desse estado! Que quase nada recolhe aos cofres públicos (é uma mixaria). A passagem calada do representante da Braskem pela CPI na próxima quarta-feira é a demonstração cabal de como ela prefere agir. Ou não agir, como é o caso.
Até quando “ficar na janela vendo a banda passar [sem tocar] coisas de amor”, permitindo que a música soturna da Braskem - cujo único objetivo é se dar bem – prevaleça em detrimento de Maceió, Alagoas, os afetados, os maceioenses e os alagoanos?
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA