colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Zé com Zé

02/02/2025 - 09:47
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Há pouco mais de dois anos neste mesmo espaço tive oportunidade de detalhar a chamada operação Zé com Zé, muito utilizada na época do “far west” da bolsa brasileira. Quando o vale tudo era quase a regra e operações normais, a exceção. Época em que fortunas “respeitáveis” de hoje em dia foram construídas às custas de muita malandragem e picardia.

A Zé com Zé (cujo nome oficial é OMC, operações de mesmo comitente) é uma operação onde a ponta de compra e a ponta de venda são realizadas de forma intencional ou não pelo mesmo cliente, ou seja, sem intervenção de outro comitente. Por seu potencial de danos aos demais investidores, as OMC realizadas em situações que não sejam as expressamente indicadas atualmente pela bolsa de valores, são consideradas irregulares, com penalidades previstas no Manual de Procedimentos Operacionais da B3.

E o que tem a ver a Zé com Zé com este artigo que vai tratar das eleições da Câmara Federal e do Senado, e de suas implicações para o futuro deste país? É que elas estão mais para uma Zé com Zé intencional que uma operação democrática que represente a livre manifestação do desejo do povo através dos seus representantes.
Vejamos.

Há quatro anos, o Senador Alcolumbre, então presidente do Senado “ungiu” um senador de primeiro mandato na presidência daquela casa, o que no jargão político é o mesmo que dizer: elegeu um poste para, através dele, manobrar os cordões do poder e continuar senão mandando, mas muito, muito influente. O Senador Rodrigo Pacheco, um bom quadro, diga-se de passagem, durante seus quatro anos de mandato teve a sombra de Alcolumbre na sua gestão, indicando membros da mesa, atuando como “oráculo” no Senado, articulando operações nem sempre republicanas com as emendas parlamentares cujas digitais para a sua forma excrescente atual são as deles, e segue por aí a toada.

A volta de Alcolumbre era carta marcada desde a sua saída uma vez que hábil e ladinamente ele soube com competência articular nos bastidores e se manter forte no politicamente, mesmo fora do poder. E o compromisso de Rodrigo em ajudar a trazê-lo de volta a casa cujo patrono é nada menos que Ruy Barbosa, notem a contradição, foi cumprido. Uma típica operação Zé com Zé intencional. Que, certamente, e a mídia nacional não aborda, deve ser motivo de preocupação para as instituições e as entidades respeitáveis e com credibilidade da sociedade.

Alcolumbre é do Amapá, um micro estado criado artificialmente (não reunia condições para tal) pela Constituição de 1988 (aquela colcha de retalhos que todas as autoridades juram obedecer, mas ninguém o faz), portanto, um estado inexpressivo politicamente. O que faz de sua reeleição para a presidência do Senado, uma interrogação do tamanho dos 73 votos (90% dos votos possíveis) ... Essas quase unanimidades em eleições para os legislativos tem ocorrido com frequência preocupante e, certamente, não deve ser motivo de comemoração, mas sim de preocupação dos eleitores e da população brasileira. Aí tem.

O que Alcolumbre prometeu que não está no seu discurso insosso e cheio de lugares comuns que atraiu o apoio de nada menos que 90% dos seus pares? Ou eles teriam votado por saber que o Senador não é uma vestal? Ou foi por sua reduzida capacidade cultural e intelectual? Oi foi por sua improvável liderança política de prócer Amapaense?
A resposta será dada ao longo dos próximos 4 anos. Sim, por que – cumpridor dos “acordos” – ele ganhará de presente mais dois anos de bem bom. Preocupante.

Na Câmara Federal, não foi diferente, embora com script diverso. Artur Lira, agora ex. presidente, após se livrar do enroladíssimo Elmar Nascimento, foi buscar a dedo na representação da Paraíba um substituto com características que lhe permita continuar a comandar a casa via Centrão. Outra Zé com Zé em que o povo e a Nação só perdem, haja vista os interesses nada republicanos dessa gente.

Em resumo: mudam os presidentes do Senado e da Câmara e do Senado Federal para que tudo fique igual como sempre.

E o povo, ó!!!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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