colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

A venda da Braskem aos bancos: a equação não fecha

09/02/2025 - 08:43
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Ao tempo em que a Braskem negocia com os bancos credores a transferência em definitivo das ações da Novonor na empresa para as instituições financeiras credoras, a petroquímica continua a sua marcha batida de escárnio, vilipêndio e animosidade contra as quase três mil centenas de alagoanos residentes em nossa capital (isso mesmo, 300 mil pessoas).

São as cerca de 140 mil pessoas que foram vitimadas pelo megadesastre que ela provocou e destruiu por completo quatro bairros, além de afetar seriamente a um quinto, além de outras cerca de 150 mil pessoas que trabalham, residem e vivem atemorizadas no perímetro de um complexo químico de grande porte da empresa situado no coração da cidade, em plena área urbana de Maceió!

Neste espaço ao longo dos últimos 5 anos, temos buscado oferecer ao leitor um panorama isento da triste sina de nossa cidade sitiada pela Braskem sem que nenhum órgão ou autoridade executiva resolva dar um basta a essa situação. Muito ao contrário. Os que decidem por aqui, infelizmente, parecem ter lado. E não é o dos afetados. Os poucos, raros, que se manifestaram em sua defesa ou foram inexplicavelmente calados, processados ou atropelados pelo rolo compressor nada republicano da empresa.

Pois bem, de novo a Braskem está aprontando com os alagoanos, nos últimos dias de 2024 a imprensa nacional veiculou a existência de tratativas iniciais dos bancos credores da empresa (eles detém em garantia as ações da Novonor, a sócia majoritária da petroquímica) no sentido de assumir o seu controle acionário. O acordo envolveria os 5 bancos credores (Banco do Brasil, BNDES, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander), a Novonor (que ficaria com 4% das ações da Braskem), a Petrobrás, a segunda maior acionista da empresa, podendo também entrar no jogo alguma empresa gigante do setor.

Parece até um filme rebobinado. Novamente a empresa está deixando os credores alagoanos de fora das negociações (como em todas as outras anteriores). Até quando eles descobrem que os dados fornecidos pela empresa são cavilosamente maquiados, escondendo que, nada menos que 61% dos credores da Braskem em Alagoas, e desistem do negócio... É preciso alertar aos interessados que essa enorme massa de prejudicados jamais foram procurados pela Braskem para uma negociação! E isso representa uma montanha de dinheiro.

O nó aperta mesmo, é quando os interessados descobrem que tem que explicar isso aos seus conselhos de administração: como pretendem adquirir uma empresa com um passivo em aberto que quase alcança a casa das duas dezenas de bilhões de reais. Não se tem notícia de nenhum executivo que ponha sua cabeça à prêmio por uma negociação de alto risco como essa.

No caso dos bancos há outro agravante: as ações da Braskem dadas em garantia pela Novonor para obter um empréstimo de 15 bilhões de reais (valor não atualizado monetariamente) valem hoje pouco mais 3,83 bilhões de reais...

Além disso, a empresa que acumula enormes prejuízos nos dois últimos exercícios (2023 e 2024) que alcançam a casa dos 8 bilhões de reais (muito em razão da queda internacional dos preços dos seus produtos, mas – e isso precisa ser esquadrinhado pelos Ministérios Públicos – os gastos que ela declara ter feito em Maceió), além de manter em aberto um passivo de tamanho quase duas vezes e meia o seu capital em bolsa.

Interessante notar que a empresa havia declarado no final do segundo trimestre de 2023, ter em caixa 18,5 bilhões de reais como reservas para enfrentar dificuldades adicionais (operacionais, ambientais e outras)...E aí, vêm perguntas que não querem calar? Por que a Braskem não chama e faz um acordo com o enorme contingente de credores alagoanos (que aliás tem proposta para tal)? Vai aguardar que eles vão à justiça Holandesa? Por que – novamente – numa negociação que poderia avançar de forma adequada com os bancos, os credores alagoanos estão de fora? Não há lei nesse país?

Em resumo: Alguém aí explica como essa equação fecha?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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