Todos culpados
Em 1900 a economia americana era 5 vezes maior que a brasileira. Em 2021, essa diferença subiu para 14,3 vezes. Em relação à China, em 1980 o PIB do Brasil era 2 vezes maior que o da China. Em 2020, o PIB chinês já era 10 vezes maior que o brasileiro. A inação não ficou barata para quem continuou “deitado em berço esplêndido” por tomada de decisões erradas (ao deixar de optar pela industrialização pró agricultura medieval no início do século 20) e por não realizar as reformas estruturais ao tempo em que chineses e outros asiáticos (apelidados de tigres asiáticos) fizeram e são hoje nações industriais ricas, enquanto o Brasil continua a patinar nas mãos de políticos incompetentes e de uma elite empresarial ultraconservadora usurária, egocêntrica e predadora.
Nos tempos atuais de intolerância, maniqueísmo e egoísmo, tenho, quase sempre, exceto em situações muito reservadas, evitado dar minhas opiniões. Os ânimos acirrados de politização superficial, com pouco aprofundamento em questões cruciais, têm levado as pessoas de todas as idades a discussões estéreis, sem conclusão lógica, movidas tão somente por sentimentos passionais. Não vale a pena, cheguei à conclusão, principalmente na idade em que estou, expor ideias, mesmo que de forma serena e coerente, e ouvir, como resposta, discursos apaixonantes e raivosos.
Que na falta do que fazer vivem em torno da dicotomia cega inaugurada pelos petistas do “nós contra eles” e exacerbada nos últimos anos, no limite, por uma extrema direita golpista que paralisa o país. Para ficar apenas nos tempos mais recentes... A “trumpetada” destemperada de quarta-feira pega novamente o país de calças curtas e sem armas efetivas pra se defender do cafajeste americano que azucrina o mundo há quase uma década. Orientado por um inimigo público dos EUA e por antigas teses stalinistas, Lula se colocou na linha de tiro do americano – igual a ele, está condenado, mas não vai preso – que insuflado por gente do tipo dos Bolsonaros, o esgoto da putrefata política nacional, resolveu inopinadamente taxar o Brasil em 50% das suas exportações para os EUA.
O alvoroço visto nos últimos dois dias só demonstra o quão de incompetência essa gente é. O governo, ao invés de ter cuidado de evitar que a situação chegasse a esse extremo, depois do acontecido já se saiu com um slogan equivocado e eleitoreiro “Lula quer taxar os bilionários; Bolsonaro quer taxar o Brasil”, uma rastaquera tentativa de alimentar o “nós contra eles” quando o momento exige atenção máxima à resolução do problema. Se equiparam aos extremistas bolsonaristas que continuam a defender o golpe e a anistia dos golpistas que “comemoraram” efusivamente o ato cometido contra o Brasil, contra os interesses de 218 milhões de pessoas. São dois grupos inconsequentes e incompetentes. Os brasileiros é que vão pagar o preço dessa desídia e de 2 séculos de inação.
A turma do “na falta de comida, meu mingau primeiro”, industriais proxenetas que se dizem capitalistas, mas vivem há séculos pendurados nas tetas do tesouro nacional, estão agitados esgrimindo as mais veementes opiniões – todas em defesa dos seus interesses, nenhuma a favor da Nação, do povo brasileiro. Por ser um dos países mais protecionistas do mundo, menos mal é saber que sua irrelevância exportadora – as exportações brasileiras representaram cerca de 0,92% do total das exportações globais – neste momento minimiza o impacto da trumpetada: se a coisa for pra valer mesmo, o PIB nacional terá um decréscimo na casa dos 0,3% neste ano.
Agora, como sói de acontecer neste país de Macunaímas, passada a tempestade, ao invés de se tomar como lição para, afinal, iniciarmos uma mudança radical (tal qual os tigres asiáticos) que nos leve ao desenvolvimento, vamos mesmo é ver o lamentável espetáculo da pior política dominar o espectro. Até quando?
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA