colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

O Trumpetaço: a geopolítica do coice

13/07/2025 - 08:13
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No tarifaço de 50% imposto por Trump contra o Brasil, não há motivo comercial que se sustente. Como no conto de Esopo, o Brasil é o cordeiro que paga caro por existir — enquanto o lobo inventa desculpas para atacar. O presidente americano alegou que o Brasil age de forma desleal. Mas a realidade é outra: o Brasil compra mais dos EUA do que vende. Quem está se aproveitando de quem, afinal?

Mesmo com esse castigo tarifário, o impacto direto na economia brasileira será modesto: nossas exportações aos EUA representam 12% das vendas externas e apenas 2% do PIB. A queda estimada no crescimento do PIB seria de 0,2 ponto percentual. Um solavanco, não um terremoto.

Agora, o soco vem em setores específicos — aço, carne, café, celulose, suco de laranja e aeronaves — os mesmos que sempre mamaram nas tetas das tarifas protecionistas nacionais. Ironicamente, sofrem do mal do qual tanto se beneficiaram: agora é o protecionismo americano que os coloca contra a parede.

Mas o verdadeiro estrago pode vir pela retaguarda: desvalorização cambial, fuga de capital e inflação. A cada 10% de queda do real, a inflação sobe cerca de 0,9 ponto percentual. O aumento do risco Brasil e a aversão a emergentes não são brincadeira — investidores fogem quando o terreno parece instável.

A reação brasileira? Um revide simbólico que pode virar bumerangue. Lula promete reciprocidade, mas o lobo não negocia: morde por instinto. E o dos EUA têm dentes maiores. A retaliação pode fortalecer o próprio Trump e prejudicar mais brasileiros do que se imagina.

Nos bastidores, a disputa geopolítica ferve: há rancor acumulado pelas falas de Lula sobre o Irã, pela atuação do Brasil no BRICS e pela ousadia de questionar a supremacia do dólar. Trump, com sua mira política ajustada, usa Bolsonaro como desculpa conveniente para descontar a irritação com o estilo irreverente e desafiador de Lula — postura que já incomodava desde a campanha. Mas como bem diz o ditado, não se cutuca onça com vara curta. 

E o Brasil, nesse embate, é vara curtíssima: responde por apenas 1% do comércio exterior dos EUA. Levar um tarifaço nessa escala soa menos como estratégia comercial e mais como revanche diplomática com gosto de reality show. Pior que isso, só o show de horrores dos Bolsonaros comemorando a ferrada que o Brasil está levando.

Na prática, Trump flerta com o autoritarismo tarifário. Infringe normas da OMC, desafia limites legais e usa o Brasil como trampolim para seu projeto pessoal de liderança global da direita. As consequências? Explosão nas redes: 240 milhões de impressões no X em um dia e indignação até entre seus aliados — ou ex-aliados.
Se o Brasil quer se proteger, precisa agir com inteligência: negociar nos bastidores, sinalizar distanciamento estratégico da China e buscar convergência com os EUA sem abrir mão da soberania. A lógica econômica não existe aqui — só resta estratégia política.

Alagoas no tarifaço de Trump: drama zero, alarde demais

Enquanto técnicos locais se coçam para explicar como o tarifaço de Trump vai abalar Alagoas, a verdade é que o estado passa praticamente ileso. O impacto econômico direto beira o insignificante.

A única atividade afetada será a exportação de cana-de-açúcar — setor que não mexe um milímetro no PIB estadual. Tal como a Braskem, que só aparece em manchete quando implode bairros e deixa crateras, a cana exportada pouco influencia na economia real da maioria dos alagoanos.

Quem realmente sentirá algum arranhão? Os grandes barões das usinas, claro. Aqueles com sobrenomes pomposos, helicópteros na garagem e palanques garantidos em todo ciclo eleitoral. O tarifaço atinge seus lucros, não sua sobrevivência.

E não é como se isso afetasse a base de trabalhadores. A mão de obra nos canaviais, marcada por regimes de semiescravidão e condições brutais, já vive na informalidade, contratada por poucos meses e abandonada à própria sorte pelo resto do ano. Muitos acabam dependendo de auxílios federais para sobreviver enquanto os donos de usinas acumulam incentivos fiscais e vida de príncipes.

A tentativa de pintar Alagoas como uma vítima econômica da guerra tarifária é uma farsa digna de novela das seis. Não haverá desaquecimento, crise setorial ou aumento significativo no desemprego. Porque o modelo produtivo já exclui os alagoanos do jogo. O tarifaço afeta os que sempre estiveram blindados e mantêm Alagoas como feudo econômico.

Trump atirou. Mas aqui, só ricocheteou em quem sempre teve colete à prova de crise.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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