Trumpetada foi tiro no pé bolsonarista e livrou Lula de desgaste
No momento em que Donald Trump anuncia um tarifaço de 50% contra o Brasil, alegando uma suposta “caça às bruxas” a Jair Bolsonaro, o país é empurrado para uma crise diplomática e econômica sem precedentes. E, inacreditavelmente, há quem comemore. Bolsonaristas vibram com o ataque — ignorando que o alvo não é um partido, um governo ou um político, mas o Brasil inteiro.
Trump, atolado em escândalos e seguidas derrotas internacionais, agora usa o Brasil como cortina de fumaça para encobrir seus próprios fracassos. Não está nem aí para Bolsonaro, muito menos para os brasileiros. Mas o ex-presidente e seus seguidores mais fanáticos comemoram como se fosse uma vitória — uma vitória contra o próprio país.
A tarifa ignora tratados internacionais, destrói pontes diplomáticas e fere a soberania nacional. É um ataque frontal à previsibilidade institucional e à racionalidade econômica. E, ainda assim, políticos ajoelham-se no altar da sabujice, aplaudindo bovinamente o golpe contra o Brasil. Como se ajoelhavam há algum tempo em muros de quartel pedindo por um golpe.
Trump e Bolsonaro são feitos do mesmo molde: autoritários, impulsivos e movidos por interesses pessoais. Lula idem. A diferença é que ambos desprezam consensos, instituições e o bem comum. O trumpismo e o bolsonarismo prosperam no caos, alimentam-se da desinformação e tentam substituir a razão por messianismo ideológico.
A reação pública foi imediata. Segundo levantamento de Pedro Barciela, 78% das menções nas redes sociais repudiam a taxação e criticam duramente a atuação da família Bolsonaro. Eduardo Bolsonaro, licenciado do cargo, é apontado como articulador direto da ofensiva americana — uma conspiração que, segundo ele próprio, foi “bem-sucedida”.
Mas o que há de patriótico em sabotar o próprio país? O bolsonarismo acredita que servir aos interesses de Trump é mais importante do que defender a soberania brasileira. A lógica é perversa: quanto pior para o Brasil, melhor para o projeto de poder de seu líder derrotado.
E é aí que entra Lula. O presidente, que deveria estar acuado por sua própria fragilidade política, termina beneficiado pela estupidez estratégica de seus adversários. A incompetência bolsonarista entrega de bandeja ao governo uma narrativa de defesa da soberania, da democracia e da institucionalidade.
Mas Lula também não escapa ileso. Sua política externa ideologizada e a falta de pragmatismo diplomático contribuíram para o clima de hostilidade. A arrogância retórica abriu espaço para que Trump encontrasse justificativa — ainda que falsa — para retaliar.
Do ponto de vista econômico, os impactos são reais, mas limitados no curto prazo. A expectativa é de uma queda entre 0,3% e 0,5% no PIB brasileiro, com efeitos concentrados em setores exportadores de manufaturados. Por outro lado, a relocalização de produtos antes destinados aos EUA para o mercado interno pode gerar aumento na oferta de alimentos, como suco de laranja, café e carne — o que tende a reduzir a inflação de alimentos e aliviar o bolso das famílias brasileiras.
Ou seja, o tarifaço pode até ser um desastre diplomático, mas não será um colapso econômico. E quem o provocou, com aplausos e provocações, deve ser responsabilizado.
A história cobrará seu preço. E nas urnas, o povo saberá distinguir quem serviu ao Brasil — e quem o vendeu por um boné vermelho e um tweet estrangeiro. Lula é mesmo um sortudo. De uma eleição altamente problemática para ele, Trump deu-lhe o presente que todo enforcado adoraria: uma faca para cortar a corda no pescoço que lhe ameaçava um fim político melancólico.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA