colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

A carta aberta dos afetados aos bancos credores da Braskem

23/02/2025 - 13:39
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A Igreja Batista do Pinheiro, aquela que foi expulsa sem nenhuma justificativa técnica de seu local histórico pelos trogloditas da defesa civil de Maceió, para concluir o trabalho sujo de limpeza total (sic) da área 00 deixando-a à feição, gosto e disposição da Braskem que se arvora de “dona” (sem ser) da área que ela destruiu, foi sede de um encontro histórico na última quinta-feira, 20.

Foi lá onde, simbolicamente, foi realizada reunião dos afetados, das representações dos diversos movimentos que atuam no problema, de organismos vinculados à conselhos de classe, de técnicos e profissionais de relevo no meio acadêmico, de membros destacados da sociedade local e de pessoas da população em geral, o lançamento da Carta Aberta aos bancos credores da Braskem (interessados em assumir o controle acionário da empresa).

A reunião, marca um posicionamento histórico dos envolvidos com a questão, uma vez que pela primeira vez está sendo tentado a abertura de um canal direto entre os verdadeiros donos atuais da empresa, os bancos (que tem as ações dadas pela Braskem em garantia de empréstimos de 15 bi reais nunca pagos), com os verdadeiros donos da maior parte do passivo da Braskem em Alagoas, os afetados. Sem intercessão de entes estatais que optaram por negociarem de forma direta com a empresa, deixando de lado as 140 mil vítimas do megadesastre.

A Carta demarca posição em relação ao passivo da empresa para com os credores privados de Alagoas, alerta-os para o tamanho colossal daquela dívida; que 58% dos afetados até hoje sequer foram procurados para uma negociação pela Braskem; que as 55 mil vitimas da área de criticidade 00 (aquela que foi destruída) reclamam e denunciam o processo a que foram submetidas pela empresa, argumentam que os valores pagos como dano moral precisam ser aumentados e ampliados para todos os membros que residiam na área. E querem a devolução de suas áreas que a Braskem “comprou” quando era para, tão somente, compensá-los por seus prejuízos.

A missiva aberta também deixa claro que: a) os afetados nunca irão abrir mão dos seus direitos; b) que a dívida é imprescritível. c) que não são intransigentes, mas querem participar das negociações entre os bancos e a empresa relativas à transferência do controle acionário das ações da NOVONOR para o pool financeiro que também é seu credor e, d) que tem proposta de abertura das negociações diretas com a representação dos signatários da Carta.

A Braskem e o grupo controlador como todos sabem passam por grandes dificuldades financeiras, estando, grupo controlador e empresas a ela ligadas em recuperação judicial (exceto a Braskem, que se não for rápida na atração de um comprador, poderá se ver na necessidade mais à frente de seguir a mesma rota de todo o grupo), dada as atuais condições adversas dos seus principais mercados.

A entrada dos bancos como acionistas principais é para os atuais controladores um grande negócio, se livram do pepino que é a empresa hoje, zeram a dívida junto aos bancos e podem, a partir daí, respirarem focados na sua recuperação. Como é também para a empresa que passa a ser controlada por dois gigantes do mercado (os bancos e a Petrobrás que tem 36% das ações da Braskem) ganhando fôlego para se modernizar e ultrapassar o período de vacas magras atuais para ressurgir lá na frente, dentre os portentos do segmento.

E pode ser uma ótima oportunidade para os afetados, se – como é o intento da Carta Aberta – participarem das tratativas, negociar sua proposta e encontrar saídas para a sinuca de bico que é o Caso Braskem em Alagoas. A exclusão dos afetados, tornam as considerações acima quase nulas, uma vez que, dado o tamanho passivo da empresa para com eles, certamente qualquer passo dado pelos novos acionistas, podem ser obstados por ações judiciais e iniciativas diversas das vítimas.

Entendemos que esse é um momento importante que não pode ser – de nenhuma forma – ser subestimado ou encarado de forma amadora. Erros nesse percurso podem custar muito caro para os 140 mil afetados. Nada de voluntarismos pueris.

A Carta está na mesa...

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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