Uma vida de falcatruas
Fernando Collor é o protótipo dos bem nascidos do andar de cima deste país: postura de lorde inglês e político corrupto no mais alto grau. Seu currículo pouco recomendável começa antes mesmo de ele assumir a vida pública. Segundo seu irmão Pedro, em depoimento à revista Veja, Collor era chegado a umas orgias regadas a muito sexo e uso heterodoxo de drogas pesadas. Da sua vida de jovem playboy em Brasília e no Rio, contam-se histórias incomuns nas altas rodas.
Pois é esse o rapaz que o pai, o senador Arnon de Mello, escolheu para ser o seu herdeiro político e para sua entrada triunfal na política e por sua interferência o governador de plantão o nomeou prefeito de Maceió. Estávamos na segunda parte da década de 1970.
Ficou por lá 3 anos e na saída, candidato a deputado federal, se utilizou da unidade responsável pela contratação para área da Educação do Munícipio para materializar o que foi, por muitos anos, o maior escândalo ocorrido na vida pública alagoana, ao contratar – segundo voz geral à época – em poucos dias mais de 3 mil “funcionários” (alguns falavam em números bem maiores) que tinham um único compromisso: votarem nele para deputado federal. Como os tempos eram outros, ele sequer respondeu a processo pela barganha e tampouco o TRE o incomodou na sua candidatura e posterior eleição.
Foi um deputado federal apagado, do baixo clero, e tinha pela frente uma reeleição altamente difícil até que o PMDB local numa manobra para evitar nova derrota para a Arena, o partido do governo, o convidou para mudar de partido (era da Arena) para sair candidato ao Governo de Alagoas. Uma tacada política de mestre, mas de alto risco prático, como veremos.
Eleito governador, Collor vivia mais tempo fora do estado articulando a sua futura e (naquele momento) altamente improvável eleição para presidente da República. Mas num desses raros momentos em solo alagoano, teve tempo de engendrar o que, até hoje é o maior escândalo promovido por um político em Alagoas.
A safadeza da prefeitura foi pinto junto ao que vamos relatar: a renúncia do Estado ao ICMS recolhido pelas usinas que à época representava 66% das receitas próprias de Alagoas levou à lona a arrecadação do ICMS, o estado entrou em crise e levou quase 20 anos para meio que se equilibrar. O jocoso, não fosse a insana iniciativa do governador, é que o juiz que homologou o acordo o fez em 30 minutos, conforme consta nos registros do tribunal. Instado a explicar a leitura ultra, super rápida ele saiu-se com essa: “Eu pratico leitura dinâmica”. E ficou por isso mesmo. Em tempo: eram cerca de 3.500 páginas...
Não ficou nisso. Paralelamente, Collor arrebentou o Banco do Estado de Alagoas que, a bem da verdade, sempre serviu de caixa para os governadores de plantão, para os usineiros que tomavam empréstimos e nunca pagavam (até hoje Alagoas amortiza a dívida deles junto ao governo federal que, num daqueles momentos de bonança repetida todo ano com os governadores, assumiu aquele passivo) e políticos em geral.
O lero contado nacional sobre a caça aos marajás do serviço público alagoano não passou de fake urdida por Collor para se vender ao país e se eleger. Deu no que deu. Menos de dois anos como presidente foi defenestrado do cargo, amargou 8 anos de suspensão dos direitos políticos, mas quando livre das amarras legais, juntou-se a quem? A Lula, o adversário que ele havia derrotado e agora passava a “chaleirar” (para quem não é do Nordeste: puxar o saco).
Em troca ganhou um salvo conduto do barbudo para indicar e influenciar nas decisões da BR Distribuidora. Deu no que deu. Foi pego com a mão na botija. A PF o acusa de receber em menos de três anos 20 milhões de reais oriundos de propinas pagas por uma empreiteira que, caindo na Lava Jato, entregou Collor e um monte de gente a mais.
Nesses tempos de 55 bilhões de reais a cada ano de emendas parlamentares, recursos cujo destino ninguém sabe, nem os parlamentares prestam contas, a grana que Collor embolsou é troco de café pequeno. Só que ele e sua empáfia levaram-no à ruína política e foi abandonado por seus parças.
Fico me perguntando: o cara foi saído da presidência como larápio, teve a oportunidade de oito anos depois ganhar do povo alagoano o presente de voltar ao Congresso Nacional como senador da República, com todas as benesses que o cargo permite neste país multibilionário, que pode se dar ao luxo de ter uma súcia a roubá-lo impunemente dia e noite, noite e dia, a vista de todos e nada acontece. Mas ainda assim volta a delinquir. Está no seu DNA criminoso? Seria a sensação de impunidade (mesmo tendo sido punido antes pelo mesmo crime com a perda do mandato)? Não encontro respostas.
O fato é que o senhor Fernando Collor de Mello está preso em consequência de toda uma vida de cometimento de irregularidades e crimes diversos. Para sua sorte, a turma do andar de cima quase nunca passa mais de um ano presa. E ainda assim em suas casas que cadeia é lugar de preto, pobre e puta., não é?
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA