O que Platão tem a ver com o INSS?
Segundo Platão, o verdadeiro discurso é o da razão, por desvendar a realidade única e servir de guia à verdade. O que colide frontalmente com a prática política, onde o discurso é mera ferramenta de persuasão, de manutenção ou conquista do poder.
Em sua essência, o discurso político é puro sofismo, nele a veracidade se torna relativa. A noção filosófica de Platão é distorcida para se transformar em uma narrativa “flexível”, retórica. Nesse cenário, a verdade quase sempre acaba soterrada por toneladas de logros e embustes, embora permaneça incólume no fundo do baú dos desvãos do poder aguardando o momento certo para vir à tona e desmascarar ladravazes e corruptos.
A mentira política, no fundo, é um ato de traição para com a Nação. A população, não reativa, engole a seco as fabulações, anestesiada pela desilusão e pelo cansaço. Permanece à espera de um salvador da pátria que jamais virá livrá-la das narrativas vazias e das mentiras a ela impostas. Ou pronta para derramar a sua raiva no defenestramento do próximo líder pego com a mão no bolso do dinheiro do povo. Um ciclo vicioso de enganos e falsas esperanças que parece não ter fim.
Essa dinâmica novamente se manifestou revelando que a atemporal disputa entre a razão e a retórica não é mera teoria. Uma verdade, que antes condenou um líder à cadeia, de repente se tornou uma outra verdade para de lá tirá-lo, juntamente com a sua turma de condenados, agora “descondenados”, que voltaram ao poder.
Como a roda da história não para, e a verdade, embora submersa, possa, de repente, emergir, estamos agora diante da possibilidade de trazer à luz o caso do roubo dos velhinhos aposentados do INSS por quadrilhas que atuaram ao longo de diferentes governos, de Dilma a Bolsonaro e do próprio Lula. Esse imbróglio, ao que tudo indica, poderá ser o catalisador de mais um escândalo, só que agora às vésperas da eleição presidencial. Um prato cheio para a oposição que domina a CPI criada para investigar a roubalheira.
Se a verdade vier à tona como parece, a história não se repetirá como farsa, mas como a consequência lógica de um acerto de contas com a verdade. Lula, obrigado a confrontar uma realidade que sua retórica não mais consegue controlar, corre o sério risco de ser destituído do poder e retirado da próxima eleição.
Nesse cenário, a verdade de Platão ressurge tal qual uma Fênix. E com ela se impõe como uma força prática implacável, com poder de derrubar impérios políticos. Mas, infelizmente, essa é sempre uma vitória passageira. A política, uma máquina de triturar verdades, nunca se rende de forma definitiva. Apenas aguarda, paciente, o momento de engolfar novamente a realidade, para reiniciar seu ciclo vicioso, até a próxima crise.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA