colunista

Elias Fragoso

Economista, foi prof. da UFAL, Católica/BSB, Cesmac, Araguaia/GYN e Secret. de Finanças, Planej. Urbano/MCZ e Planej. do M. da. Agricultura/DF e, organizador do livro Rasgando a Cortina de Silêncios.

Conteúdo Opinativo

Entre a vassalagem e o discurso de vira-lata: por que?

23/08/2025 - 06:00
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A expressão “quintal dos americanos” não é uma metáfora, mas descrição precisa de uma relação marcada por um sentimento de vassalagem do tipo “síndrome de vira-lata” da América Latina em relação aos EUA. A atitude sabuja de Eduardo Bolsonaro é um exemplo acabado dessa “vira-latice”, da sujeição absurda aos yankees, traduzida pela iniciativa do “sobrinho” de ir reclamar ao “Titio Sam” que o papai dele está indo para a cadeia só porque tentou dar um golpe de Estado. Ora vejam só! Tadinho!

A resposta do “Titio Sam” não poderia ser mais exemplar de como os yankees veem a América Latina: quando dão na telha, interveem – como agora – e todo mundo por aqui fica se cagando de medo da “raivinha” do titio do momento, neste caso o troglodita do Trump. Um presidente condenado à prisão que quando for “destronado” da Casa Branca vai estar em apuros para o cumprimento da pena.

Desde o século XIX, a doutrina Monroe serviu como pretexto para que os EUA se apresentassem como “protetores do continente contra o comunismo”. A política do “Big Stick” de Theodore Roosevelt, por exemplo, não apenas interveio em países do Caribe e da América Central para garantir interesses comerciais americanos, como cimentou a ideia de que a soberania das nações latinas era secundária. Somam dezenas as intervenções militares e golpes de Estado apoiados pela CIA durante a Guerra Fria. A isso se soma a imposição de políticas que minaram a faculdade de autogestão e independência na região.

O termo “complexo de vira-lata”, popularizado por Nelson Rodrigues, descreve a subserviência cega por tudo que é estrangeiro, especialmente americano. Esse sentimento de inferioridade leva à crença de que qualquer solução para os nossos problemas deve vir de fora. Por aqui é “normal” se aceitar a vassalagem como uma condição natural. A imagem do então presidente Michel Temer segurando uma “sacolinha” para o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, é um exemplo recente e humilhante de sujeição. Que se manifesta na política, na economia, na sociedade onde a imitação do “modelo americano” é vista como um sinal de progresso e submissão, coisa natural.

Em reação, as esquerdas da região assumiram seu discurso verborrágico radical pautado mais na retórica que em alternativas capazes de oferecer soluções efetivas aos problemas locais, nos levando ao isolacionismo. Ao invés de construir pontes, nos tornaram ainda mais vulneráveis a pressões externas. E aí está o Governo Lula que não nos deixa mentir.

O Brasil é um caso particular na relação com os EUA. Na Guerra Fria, o país foi um aliado estratégico, a ditadura militar (1964-1985) contou com o apoio ostensivo de Washington, mas a necessária abertura econômica dos anos 90 aprofundou a dependência de capitais e tecnologias estrangeiras. Somos há mais de um século o perfeito paradoxo de uma potência regional que nunca lutou de fato para se libertar de sua condição de “quintal”. A volta de Trump só está exacerbando ainda mais os estéreis latidos dos vira-latas locais.

O país falha em defender seus interesses sem precisar “rasgar as calças de tanto esfregar a bunda no chão”. A ausência de visão estratégica nos condena à vulnerabilidade, reafirma essa subordinação histórica. Baby Bolsonaro e titio Trump são as duas faces visíveis dessa realidade.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do EXTRA


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